domingo, 3 de abril de 2011

Weldon Irvine (Spirit Man) 1973

Cês olha bem nos olhos do negão antes de ler ou baixar-lhe o álbum. Ele tem um semblante intenso, é ou não? A mim, ao ver essa capa, na mesma hora a cara do cara inspirou confiança. Sabia que vinha coisa boa. Dai  que quando minhas suspeitas se confirmaram muito além das espectativas, pesquisei-lhe a história.  E quem freqüenta a Casa sabe que meu inglês é lusitano. Portanto, pra chegar até aqui, com uma história batendo sentido do início ao fim, deu um certo trabalho...  E isso quer dizer o quê? Fiquei muito interessado. Principalmente pelo fim dessa história que o Allmusic não conta. Agora repare de novo na face enigmática do homem da capa e senta, ou melhor, acomode-se que lá vem história.

O tecladista Weldon Irvine se agiganta no panteão do funk-jazz, influenciando profundamente as gerações posteriores de artistas de hip-hop para quem atuou como colaborador e mentor. Nascido em Hampton, VA, em 27 de outubro de 1943, Irvine foi criado por seus avós, na sequência do divórcio dos pais, a avó tocava baixo acústico em uma série de programas de televisão regionais de música clássica, seu marido era reitor da faculdade Hampton Institute. Irvine começou a tocar piano na adolescência e, embora mais tarde tenha se formado em literatura na mesma Hampton, a música continuou sendo seu primeiro amor, especialmente após a descoberta do jazz. Ao chegar em Nova York, em 1965, ele foi recrutado para Kenny Dorham e Joe Henderson, um ano antes de assinar com Nina Simone como organista maestro e arranjador. Os dois também escreveram canções juntos e depois de ver uma performance do dramaturgo Lorraine Hansberry “To Be Young, Gifted and Black”, Simone teria pedido a Irvine para compor a letra de uma música de mesmo título. Após duas semanas de bloqueio de escritor, as palavras saíram-lhe em um lampejo de inspiração, e a música ficou pronta. O mérito? Versões cover de artistas como Aretha Franklin, Stevie Wonder e Donny Hathaway, além de  ver sua música tornar-se hino oficial para os Civil Rights americano e transformar-se na canção mais conhecida de suas cerca de 500 composições publicadas.

Depois de separar-se de Nina Simone, Irvine formou seu próprio grupo de 17 peças, que em momentos diferentes incluíam Billy Cobham, Randy Brecker, Bennie Maupin e Don Blackman, em 1973, o rótulo Nodlew emitiu seu primeiro álbum “Liberated Brother”, seguido um ano depois, de “Time Capsule”. Ao longo desses registros o tecladista realmente acertou o passo, aprimorando não só a sua fusão singular ainda qualificados de jazz, funk, soul, blues e gospel - um antecedente direto do que viria a ser conhecido como acid jazz -, ao passo que também a firme consciência social ainda não havia inteiramente definido a sua carreira só para o lado da música. Além de LPs subseqüentes como em 1975, este excelente “Spirit Man” e do seguinte em 1976 “Sinbad”, Irvine também começou a escrever musicais para o palco, e em 1977 no New York's Billie Holiday Theatre, produziu o seu próprio Young, Gifted e provou para si mesmo que poderia ser um sucesso comercial de público e de crítica ganhando uma série de prêmios durante a sua execução de oito meses. No mesmo Billie Holiday Theatre, montou mais 20 outros musicais, os mais notáveis entre eles, The Vampire and the Dentist, The Will e Keep It Real..

Mas, enquanto Irvine focava em projetos dramatúrgicos, sua carreira discográfica caía no esquecimento e após 1979 com "Sisters" Irvine não gravou mais LPs por mais de 15 anos. Nesse tempo seu trabalho foi redescoberto e elogiado por um número crescente de jovens rappers mais politizados, especialmente Boogie Down Productions, A Tribe Called Quest, e os líderes da new school, os quais abusavam, no bom sentido, claro, de samplear suas gravações vintage. Ao contrário de muitos artistas de sua geração, Irvine abraçou a novidade e em 1994 gravou “Music Is the Key”, o tal álbum 15 anos depois, totalmente inspirada na cultura hip-hop para o rótulo indie Luv'N'Haight. Gostou da experiência e colaborou em outras produções como, por exemplo emprestando arranjos de teclados e cordas para Mos Def, E Irvine ainda deu aulas de piano aos rappers Q-Tip e Common. Em 1999, foi convidado a trabalhar com Mos Def, Talib Kweli, Q-Tip em “O Preço da Liberdade”, uma compilação musical que unia todos os gêneros jazz, hip-hop, funk, soul, gospel... O disco era em resposta a covardia e brutalidade policial cometida contra um imigrante africano indefeso Amadou Diallo assassinado em Nova Iorque com uma saraivada de tiros.

No entanto, com toda essa sensibilidade em duas áreas distintas da produção cultural, Irvine, em 09 de abril de 2002 comete suicídio perto da EAB Plaza, em frente ao Coliseu Nassau em Uniondale, Nova Iorque. O local foi escolhido porque era próximo, dava pra se ver da janela, do escritório de sua gravadora, em boa parte responsável por sua situação financeira desesperadora, Os executivos se recusavam a pagar-lhe um adiantamento que o salvaria da falência. Antes do ato de desespero, Irvine chegou a passar várias semanas ligando ou fazendo visitas a tentar negociar o tal adiantamento ou a venda simples de suas composições do catálogo e enquanto o autor desesperava-se cheio de dívidas os homens de negócio sequer retornavam suas ligações ou o recebiam para discutir, considerando o silêncio uma tática de negociação. Weldon Irvine tinha apenas 58 anos quando se desligou da vida.

Weldon Irvine (Spirit Man) 1973

(To Be) Young, Gifted and Black [por Aretha Franklin]



"(To Be) Young, Gifted and Black"

Ser jovem, talentoso e negro,
Oh, que belo sonho precioso
Ser jovem, talentoso e negro,
Abra seu coração para o que quero dizer

Em todo o mundo se sabe
Há um bilhão de meninos e meninas
Que são jovens, talentosos e negros,
E isso é um fato!

Você é jovem, talentoso e preto
Temos de começar a dizer aos nossos jovens
Há um mundo esperando por ti
E sua busca está apenas começando

Quando você se sente realmente por baixo
Sim, há uma grande verdade que você deve saber
Quando você é jovem, talentoso e preto
Sua alma está intacta

Jovem, talentoso e preto
Como se deseja saber a verdade
Há momentos em que eu olho para trás
E sou assombrado por minha juventude

Ah, mas a minha alegria de hoje
Será a de que todos nós podemos ter orgulho de dizer
Ser jovem, talentoso e preto
É onde a gente se encontra

Weldon Irvine (Spirit Man - 1973) Faixa 1: "We Gettin' Down"

6 comentários:

  1. Oi meu amigo, sempre descobrindo talentos neh?
    Lindo domingo pra ti viu?
    Beijos achocolatados

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  2. Ô miguinha querida, sodade docê, viste?

    Bjos!

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  3. Caro Sergio ,
    Eu não conhecia esse moço , Vou ouvir com calma. Valeu !!!

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  4. Fala, mr. Ed!... Amigo não sei se esse jazzfunksoul é bem a sua praia, em sendo, pelo menos o melhor do estilo, irás amar esse disco pq ele tá no nível das coisas boas feitas pelo Herbie Hancock, Houston Person, Les McCann, Eddie Harris, Gorge Duke, infim, Os Caras.

    Valeu a visita.

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  5. VC tem razão ! Não é muito a minha praia ... apareça mais lá no JazZona, Estamos sentindo a sua falta...

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  6. passando pra desejar-te uma linda semana.
    beijos achocoaltados meu amigo!
    sôdades docê tumem...rsrsrs

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Uma obra de arte é um ângulo apreciado
através de um temperamento.
(Emile Zola)