"Alegria, furor de alegria! Luz que ilumina tudo que é e será, divina alegria de criar! Não há na terra outros seres além dos que criam. Todos os demais são sombras que adejam pela terra, estranhos à vida. Todas as glórias da vida se resumem na alegria de criar: amor, gênio, ação, chamas de forças saídas de um único braseiro. Mesmo aqueles incapazes de achar lugar em torno da grande fogueira, procuram aquecer-se em seus reflexos desmaiados. Criar, na esfera da carne ou na esfera do espírito, é sair da prisão do corpo, é projetar-se na voragem da vida, é ser aquele que É! Criar, definitivamente, é matar a morte.” *
Para divulgar o CD, Victoria Abril deu uma entrevista coletiva para a imprensa num hotel da Avenida Paulista no dia 27 de outubro (2006). Ela contou que começou a ouvir música brasileira aos 10 anos de idade, com uma fita pirateada que corria pelo bairro onde morava. Foi paixão a primeira vista. “E a trilha sonora da minha vida. Venero há quarenta anos e vou continuar venerando por mais quarenta”, derrete-se. Por isso mesmo vir ao Brasil para cantar bossa nova é a realização de um sonho: “Quando eu faço shows na Europa, antes de cantar eu preciso explicar alguma coisa para o público. Mas aqui no Brasil eu não preciso explicar nada! Todos entendem! Amam! Isso é muita felicidade para mim”, revela a atriz, que deu uma palhinha (SIC) de “Sampa” durante a entrevista.
Simpática, bastante risonha e alegre, Victoria arrancou gargalhadas dos jornalistas ao comentar sua primeira visita ao Brasil, em 1995, quando do lançamento do filme Uma Cama para Três . “Passei uma semana no Brasil sem dormir uma noite na cama do hotel. Ficava na praia quase o dia todo”. Victoria foi morar em Paris há 23 anos por causa de um amor. Mas hoje ela não está mais casada. “O amor não dura mais que cinco anos”, define. Tem dois filhos, de 15 e 13 anos. Despertada para o cinema por causa da necessidade de custear suas aulas de balé, Victoria agora se dedica a viajar pelo mundo cantando bossa nova, mas não esquece sua carreira de atriz.
Como foi seu primeiro contato com a música brasileira?
Victoria Abril – Desde os 10 anos já escutava bossa nova. Mas havia só um cassete que corria por todo o bairro e eu ficava atrás para ouvir. Por causa de um amor não correspondido eu ficava triste e a bossa nova me consolava. A bossa é como Tom Jobim dizia, se canta olhando para os outros, e cantando com amor, mesmo se for desafinado. Eu não compreendia tudo, pois eu não falo português, mas canto todas as canções em português. Acima de tudo, é preciso cantar as coisas com sentido. A música é um fio condutor que leva bálsamo por onde passa. Eu me sentia muito bem cantando bossa nova. É a trilha sonora da minha vida.
Victoria Abril – Eu comecei com sessenta bossas em minha casa e cada vez que encontrava alguma nova colocava no “putchero”. Vocês sabem o que é “putchero”? É uma grande caçarola onde é feita uma espécie de feijoada malagueña, com outros ingredientes. É a caçarola onde eu ponho em fogo lento toda a gana de cantar. “Putcheros” pode significar também tristeza da criança que tenha necessidade de carinho.
Entreviste na íntegra: FONTE
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Pois é... Cada fã com a bombshell à Bardot que lhe encanta. A que elegi pra chamar de minha, não é e nem tem a exuberância conceitual da legítima, mas em matéria de senso de humor e entrega é, no mínimo, páreo duro com aquela que nos anos sessenta visitou Búzios e nos deixou uma “Maria Ninguém” como 'persone' personalizou... Este álbum é a prova. À prova de casmurros, chatos, puristas e perfeccionistas. A versão da Victoria para Águas de Março, só pra citar o melhor dos exemplos, é uma preciosa fusão ritmica de 3 continentes, representados por Brasil, Espanha e Angola. É o putchero fervendo a tal feijoada malaguenha. Quem diria que a Victoria Abril que eu nem sabia que cantava, construiria uma interpretação tão vibrante para uma das músicas mais emblemáticas da obra de Tom Jobim... Daí que me encantou. Daí que antes que os navegantes percebam já vou avisando que as mulheres estão em alta este mês por aqui. Enfim, o disco é curtinho, delicado e delicioso de deixar rolar. Feito sob medida e na intenção de se ouvir no maior descompromisso... Resta-me, porque na empolgação acaba de me ocorrer, deixar uma sugestão para o próximo Putchcero: "Eu vim da Bahia, mas eu volto prá lá / Eu vim da Bahia, mas algum dia eu volto prá lá."...
Victoria Abril (Pucheros do Brasil)
* Texto inicial tirado do livro Jean Christophe de Romain Rolland.
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(Emile Zola)