segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

BATTLES (MIRRORED)



E não é que o rock progressivo encontrou forma de alimentar, novamente, alguma das mais inventivas e desafiantes músicas do presente? A revista The Word, na sua edição deste mês, dedica um pequeno dossier à constatação deste fenômeno. E entre os nomes que aponta a dedo destacam-se os Battles. São um quarteto nova-iorquino, no qual encontramos John Stainer (dos Helmet e Tomahawk), Ian Williams (Don Caballero), David Konopka (Lynx) e o experimentalista Tyondai Braxton. Deram primeiros sinais numa série de EPs editados em 2004. E agora apresentam sólida carta de intenções num álbum desafiante que cruza um sentido de inquietude que já escutamos nuns Mr. Bungle com o geometrismo científico de uns Kraftwerk. Mirrored pode muito bem vir a ser um dos álbuns pelos quais 2007 será recordado. Essencialmente instrumental (as vozes ocasionais procuram de resto evitar as normas habituais do canto verbalizado), o álbum doseia guitarras sob pulsão maquinal com eletrônicas arquitetonicamente enquadradas e ritmos robóticos. Evoca-se o melhor de uns Van der Graaf Generator, sem contudo perder a noção de um presente que reconhece heranças, mas não vive de bandeiras retro. Este sublinhar do momento é evidente nas técnicas usadas, no recurso a software de construção musical e a padrões matematicamente desenhados. Melodias são sugeridas e sob elas evoluem texturas e paisagens abstratas nas quais, aos poucos, encontramos familiaridade. Esta é uma música complexa, intrigante e insistente, mas nunca obscura ou implosiva. Ocasionalmente no limiar do caos, como se sente em Rainbow. Mas mais frequentemente sugerindo formas claras e contagiantes, seja no subliminar evocar do melodismo simples do glam rock (facção Bolan) no irresistível Atlas, seja na quase-canção que se sugere em Bad Trains ou Ddiamondd (onde a relação da voz com as texturas convoca semelhanças evidentes com os Animal Collective). Um desafio que se vence aos poucos, com satisfação reforçada a cada audição. Goste-se ou não, o certo é que não deixam ninguém indiferente. Os Battles são tudo menos inofensivos. E pelo que lê-se pelai, ao vivo são arrasadores.

BATTLES (MIRRORED)

3 comentários:

  1. Que análise fantástica!
    O arquivo está offline, mas a sua análise valeu pelo download, que pode ser encontrado certamente no Pirate Bay. Amo música, mas não tenho muito conhecimento acerca. Me anima ver gente [aparentemente] tão habilidosa feito você fazê-lo tão bem.
    Parabéns!

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  2. O link está inativo, mas essa é uma das melhores análise musicais que já li! Parabéns! Invejo pessoas que conseguem tecer textos tão fantásticos desfiando sons. Parabéns, again!

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  3. Amigo Afonso, quer saber? Reli e tbm achei ótima a analise, concisa e vai no cerne. Ocorre que não é minha não (rs). É uma postagem muito antiga, e uma das poucas q não credito a fonte. Muitos fazem isso, eu prefiro dar nome a quem de direito. Desta vez, provavelmente recolhi o texto, demorei a postar e quando o fiz, já não sabia mais quem era o autor.

    Mas, uma coisa é certa: temos, eu e vc, bom gosto para análises simples, diretas e sem bla bla bla.

    Abraços.

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Uma obra de arte é um ângulo apreciado
através de um temperamento.
(Emile Zola)