quarta-feira, 5 de março de 2008

KRISTIN HERSH (LEARN TO SING LIKE A STAR)


Ano passado foram praticamente 365 dias dedicados a ouvir e descobrir músicos. Dos novos artistas, sobretudo discos lançados naquele ano, este foi dos melhores álbuns que ouvi sem titubeio. E "Learn To Sing"... me chegou no começo de janeiro de 2007, portanto, houve tempo.

Deixemos os especialistas (fonte) falarem...

“In Shok” dá as boas vindas com o estilo já consagrado de Kristin. Um violão dando a base, chamando os ápices das guitarras e da bateria, tudo isso acompanhado por violinos e violoncelos que dividem a atenção com a voz rouca de Kristin. Depois de quase perder o fôlego já na primeira faixa, Kristin traz mais uma daquelas baladas acústicas que caberiam muito bem em seu álbum anterior, “The Grotto”.

“Day Glow” é daquela canções que vão crescendo e numa hora estouram com um refrão que preenche os ouvidos. A primeira, das três faixas instrumentais do disco, vem logo em seguida, com a curiosa “Christian Hearse”, o nome soa parecido com o de Kristin Hersh, e nada mais é que o pseudônimo que seu filho mais velho, Dylan, usa na página do MySpace com a sua banda Happy Birthday LA. O disco segue na sua fórmula de baladas acústicas/elétricas, destacando-se a bela “Under the Gun”, até a segunda pausa, em “Piano 1”, mais uma faixa instrumental.

Essa pausa é só para retomar o fôlego. Voltam as baladas acústicas com mais uma pausa para “Piano 2” que na verdade é essencialmente levada na guitarra. Nessa hora a fórmula já parece não dar mais certo, o disco vai cansando um pouco, é preciso estar atento para captar o diferencial de cada faixa, todas com muita qualidade, separadamente, porém, uma atrás da outra corre-se o risco de receber um stop antes da hora.

(a unanimidade é burra, né?)

Outra opinião, outra fonte...

A milhas do plástico emo que infecta novas bandas e das doses de depressão sem fim à vista também presente em alguns projectos indie, "Learn To Sing Like A Star" é um álbum onde a mágoa, a melancolia e a desilusão estão presentes mas não como mero efeito postiço ou teatral. São, antes, o reflexo de vivências que se moldam em canções cuja honestidade cativa, relatadas por alguém capaz de dar densidade às palavras.

Eles falam, eu digo amém ou: "é por aqui"...

Aos 40 anos, a voz de Kristin é de tudo menos de alguém que procura imitar a estrela que não é nem quer ser. É uma voz intensa, magoada e recomposta. Veículo de dor e de perda. De aparente resignação maturada ante a vontade de gritar por causas perdidas. Learn To Sing Like A Star é, todavia, tudo menos um álbum de uma desistente. É, antes, um olhar maduro sobre etapas de vida que a razão acaba de conquistar à emoção (nunca a obliterando, contudo). Neste álbum Kristin é omnipresente. Toca quase todos os instrumentos, salvo a bateria (que entrega a David Narcizo, dos Throwing Muses) e as cordas, violino e violoncelo respectivamente nas mãos de Martin e Kimberlee McCarrick. As canções são híbridos não laboratoriais que cruzam a fragilidade das cordas e o desenhar de melodias no dedilhar da guitarra acústica com o vigor de uma electricidade contida. A voz transporta uma melancolia em estado de consciente nudez, que apara a intensidade que brota do amplificador. “Pinned by a dream state / you are fearless / and your empty arms /waiting for no one / you wanted to be wanted” canta logo nos primeiros instantes de In Shock, observando-se como se vista a si mesmo de fora. Ponto de partida para uma viagem onde a crueza sóbria das palavras convive com uma música tão terna quanto inquieta.

Vai dispensar?

4 comentários:

  1. Kristin é idolatrada na Europa. É curioso como algumas cantoras simplesmente passam batidas no Brasil. Aqui ela é desconhecida, mas lá tem um séquito extremamente fiel;

    Tori Amos é um outro caso clássico. Ela é simplesmente endeusada e tirando um amigo meu que tem 150 cds, singles de todas as partes do mundo e bootlegs, não conheço praticamente ninguém que se ligue na Amos, uma amostra perfeita de talento + beleza.

    Rubens Leme, Mofo

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  2. Conheço a Amos, tenho conciência de seu sucesso lá fora, mas acho que dela tenho uma versão de Enjoy The Silence (Depeche Mode). Taí uma boa lembrança para novos loads...

    Conheci Tori Amos, adivinha onde? Numa rádio de Florianópolis muito boa por sinal! Algo impensado aqui no Rio. A rádio só tocava coisas underground e fiquei fissurado pra trabalhar lá. Pena que estava de turista e não tive tempo de bater na porta pra pedir emprego. Trabalharia numa rádio daquele tipo amarradão! Faz muito tempo e nem lembro mais o nome da mesma...

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  3. Sabe quem morava em Floripa? o Fernando Naporano, apaixonado por ela. Lembra-se dele? Era vocalista do Maria Angélica e escrevia na Bizz, Folha etc... De repente ele fez um bico na rádio e vc ouviu o programa dele.

    Rubens Leme

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  4. Cara, eu fiquei apaixonado por aquela cidade. Cheguei a pensar em me instalar em definitivo por lá, daí a pensar no trabalho na rádio. E, olha, aquilo era ainda (em 2003) tão 'vilazinha' que não duvido nada se esse não for o nome do programador. Sou péssimo para nomes... Cheguei a receber um cartão para fazer contato com um dos manda-chuvas da rádio, só não tive tempo de ir tentar a sorte.

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Uma obra de arte é um ângulo apreciado
através de um temperamento.
(Emile Zola)