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terça-feira, 25 de novembro de 2008

BLÁ


Amigo(a), quando conheci a autora do texto abaixo, uma das poucas conclusões inteligentes que cheguei no contato, foi dizer, ... "e ainda tem chato que reclama da vida." Ter pessoas assim dando sopa na Rede pra se conhecer, até com certa facilidade, é desses privilégios que só estando mesmo muito morto pra se vangloriar de não ter nada mais do que reclamar.

"Palavra é um bicho, organismo imaterial inoculado na gente ainda pequena...

a minha filha com dez meses de idade sabia balbuciar 60 delas (eu contei!)
Não tenho nenhuma participação nessa proeza: ela que já veio assim, com o DNA espevitado.

Mas voltando ao tema: palavra é bicho-bactéria, precisa do meio de cultura, do contexto.
Palavra boa vem com o caldinho de cultura junto... aí vem vivinha, pulsando.
Palavra solta já chega meio morta, mesmo que seja bonita.
Por isso que inventaram a poesia, que é um caldo de cultura engrossado com maisena... a palavra chega toda cremosa, rebolando, uma gostosura!

Tem vezes que, pra escrever, você já está com a palavra-bactéria em mãos, mas precisa deixar no vidrinho fermentando pra ela se multiplicar. Se tirar antes ela não rende, é um miserê.
O perigo mesmo é quando o caldo entorna, ou fica estagnado de podridões e vírus que foram entrando lá por falta de cuidado... aí a palavra já chega doendo, machucando, fodendo tudo.

E não pense que é bobagem, porque palavra mal-dita dói pra cacete... e o ministério da saúde diz que inclusive dá nó na garganta.

Em compensação, quando vem banhada em caldinho doce... humm! Aí ela não entra mais pelo ouvido não... injeta direto no peito e se espalha feito água morna, vai escorrendo linfa adentro e curando até verminose: palavra boa cura solitária e solidão.

Palavra-carinho, palavra-coragem, palavra-tesão... ah, e tinha me esquecido também do palavrão: um ‘puta-que-pariu’ ocasional desentope as artérias.

E a palavra-sacação... essa é das boas, porque inocula um troço em você que vai dar choque nas sinapses* num efeito dominó. Perigas você nunca mais ser o mesmo. Bom, né?"

Autor:a Padymaya

*Sinapses (nervosas) são os pontos onde as extremidades de neurónios vizinhos se encontram e o estímulo passa de um neurônio para o seguinte por meio de mediadores químicos, os neurotransmissores.
As sinapses ocorrem no "contato" das terminações nervosas (axônios) com os dendritos. O contato físico não existe realmente, pois as estruturas estão próximas, mas há um espaço entre elas (fenda sináptica). Dos axônios são liberadas substâncias (neurotransmissores), que atravessam a fenda e estimulam receptores nos dendritos e assim transmitem o impulso nervoso de um neurónio para o outro.

ÀS AMIZADES E AFINS


Não queria que se pensasse aqui apenas num tratado, escrito de um homem para uma mulher com intenções de cartilha para namorados, de amor de sexo, casamentos... Embora quem o tenha escrito, claramente, pensou assim. Em minha avaliação, abstraindo o romantismo das palavras carícias, é um trato perfeito, escrito para valer a qualquer relação. Portanto, pra quem souber absorver, não se trata de uma DR (que puto que sou com essa expressão cretina, bem ao modo "sigla" "a regra" dos relacionamentos do futuro...) antes mesmo da relação. Os bichinhos de estimação já agem sob essas normas, por puro instinto, desde que o mundo é mundo. Desde que homens e mulheres resolveram ter estima por bichinhos:


“Quando você se aninhou perto, eu dessa vez pensei...tenho para oferecer o meu carinho e alguma poesia.


Venho tentado fazer isso, te dar, te entregar o que vens buscar. Com minhas mãos, com minhas palavras, quando podes vir, quando queres ganhar.


O bem que isso me faz, isso eu sei.
Algum bem isso te traz ou não estarias vindo receber.

É natural acontecer que um de nós venha querer alguma coisa mais, e que um de nós ganhe do outro algo que nem mesmo queria receber. Ou peça o que o outro não tem pra entregar.

Quando isso acontece (e acontece várias vezes) é que se instala entre duas pessoas aquilo que as faz se machucarem, se desentenderem, sem saber o que fazer com aquela coisa que o outro entregou sem que se tenha pedido, ou com aquilo que não entregamos porque não tínhamos pra dar.

Assim sendo, meu encanto
preciso te perguntar a resposta que nem sei se tens para dizer:

diz o que que é que você quer de mim, saber isso é o que eu quero agora de você.
O resto, lá fora, não tem importância alguma neste momento, pois o que importa do mundo está aqui dentro, entre a tua mão e a minha.

No entanto, doce poesia, se não é claro o que queres de mim, se não tens como explicar o que de mim queres, façamos o seguinte:

entre nacos de silêncios e gemidos, façamos o amor do jeito mais intenso e leve que nos seja permitido alcançar.

Do jeito mais bonito que somos capazes.

Então, o mundo irá parar com todas as suas máquinas e quinquilharias, para escutar o que nós dois temos a dizer.

Pode ser, meu poema?”

Mário Pirata
Poeta & brincadeiro - um marmanjo desajeitado, descatador de caramujos, descascador de sonhares - mais ou menos um encantador de histórias, um falador/fazedor de poemas.


Dedicado à Maya, futura melhor amiga, totalmente no presente.


Agora, se tua intenção é conquistar a mulher amada, junte ao texto, num emeio delicado, este oferecimento. Um brinde da casa sônica aos que querem correspondência:



segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

BOBBY HUTCHERSON - THE KICKER



Atenção: Dê play no player abaixo, para um melhor entendimento do texto.

Mirrors* (às monalisas vivas nas urbanas)
Sobe o pano persiano, a boa farsa deve começar assim: desta, à idêntica edificação mais adiante, meça-se 50 bons mortais adultos, tanto em extensão quanto na fatalidade. Esquadrinho o concreto e o alumínio envidraçado. Daqui de dentro, encaixo a acústica de apartamento compartilhado, sussurrando a trilha da paisagem madrugada. Automóveis de passagem partilham a tranqüilidade furtiva do asfalto. Breves, passageiros da noite nos Jardins de Alá da urbana idade. Mais ao fundo, entre pálidas torres avarandadas, minha velha conhecida nesga de oceano, apoiou-se no horizonte e me sorriu preguiçosa. Ela sempre me sorri, paciente... A espera da guinada. Melancólica a mente meneia acordes, subtrai dissonâncias, faz acordos entre o insano e o razoável. Entre o que é felicidade mesmo que transitória, sob a capa do tédio resignado. Quer permanecer grata, a mente vadia. Tanto a sorte questionada... Tanta vida pra viver, sumariamente abreviada. E no mais adiante, cotidiano de cidade insone é sempre assim, acendeu-se a luz vizinha. Aquela, a aleatória que a tudo presencia como reflexo condicionado. Contrapostos na moldura, agora dois seres urbanos em igual perspectiva se espelham. Fosse foto, brochura, eis a pose imortalizada! E se reflete nas infinitas duplicatas, hora de sorrir sem dizer nada. Baixa o pano persiano. Somente assim, polaróide instantâneo, a boa farsa do começo ficará eternizada. Com plenos poderes de encerrar-se quase em paz.

O texto vai melhor ouvindo a faixa 2 - "The Mirror" - do álbum.


Track Listing:
1] If Ever I Would Leave You (Alan Jay Lerner/Frederick Loewe) / 2] Mirrors (Joe Chambers) 3] For Duke P. (Bobby Hutcheson) / 4] The Kicker (Joe Henderson) 5] Step Lightly (Henderson) / 6] Bedouin (Duke Person) / 7] Mirrors (alt. take)
Personnel:
Joe Henderson (tenor sax)
Bobby Hutcherson (vibes)
Grant Green (guitar, tracks 4 - 6)
Duke Pearson (piano)
Bob Cranshaw (bass)
Al Harewood (drums)
* Link "Mirrors", só para ouvir.