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segunda-feira, 10 de agosto de 2009

O meu 69 preferido...


Tudo bem que o outro é um recém 40tão mais famoso, classico desde que nasceu e tal, mas a minha posição é outra a respeito dos 69vis fora que com a maior honra do mundo completa os seus 40 este ano. E o meu, meu!, tem até bandeirola pra agitar do alto de sua capa e título pomposo. Vai venu! Ou melhor, lennum...

The Kinks "Arthur (Or the Decline and Fall of the British Empire)" Gravado em 10/10 de 1969.

FONTE

Um dos maiores representantes do rock britânico, os Kinks também foram protagonistas da chamada Invasão Britânica – um marco na história do rock, cujo estopim foi o desembarque dos Beatles no aeroporto de Nova Iorque, em fevereiro de 1964. O fenômeno foi responsável pela popularização de bandas inglesas na terra do Tio Sam, lançando no mercado americano não só os Beatles, como os Rolling Stones, The Who, The Animals, Yardbirds, Small Faces… e claro, os Kinks, uma das prediletas da casa.

Nascido das cinzas do Ravens em 1963, o grupo Kinks era composto em sua formação original pelos irmãos Ray Davies – vocalista, guitarrista, principal compositor e também a alma da banda – e Dave Davies (guitarra e vocais) e ainda Pete Quaife (baixo e vocais) e Mick Avory (bateria). Nem sempre tão lembrados como os Fab Four ou os Stones, mas tão importantes e influentes quanto, tocaram do rock and roll ao pop, passando pelo rhythm and blues, psicodelismo, country e folk. Com o single “You Really Got Me” em 1964, alcançaram o primeiro lugar na parada britânica, lançando as bases do hard rock.


O som dos Kinks pode ser pressentido principalmente através dos acordes potentes e distorcidos da guitarra de Dave e claro, nas sensacionais composições de humor refinado interpretadas por Ray, um autêntico cronista do modo de vida britânico e simplesmente um dos melhores letristas da história do rock. Legítimos “bad boys”, desenvolveram uma carreira cercada de polêmicas, envolvendo conflitos internos, agressões mútuas entre os músicos e condutas deploráveis em algumas turnês.


Nos Estados Unidos, após performances viscerais na tour de 1965, foram proibidos de pisar em solo americano até meados de 1969. Os motivos nunca foram revelados, mas o comportamento selvagem nos palcos, as desavenças com os promotores locais por causa dos cachês, shows inacabados ou cancelados e as confusões e brigas envolvendo os integrantes são alguns dos fatores que certamente contribuiram para que o veto ocorresse. A “doce” relação entre os irmãos Davies foi definida pelos próprios na música “Hatred (A Duet)”, do disco Phobia de 1993: “O ódio é a única coisa que nos une”.


Com uma carreira sólida que se estendeu até 1996, gravaram mais de 30 álbuns, alguns indispensáveis como a estréia homônima (64), Kinks-Size (65), The Kinks Kontroversy (65), Face To Face (66), Something Else By The Kinks (67), The Village Green Preservation Society (68), Lola Versus Powerman and the Money-Go-Round – Part One (70) ou Muswell Hillbillies (71), só pra citar alguns. O disco que escuto neste momento é sem dúvidas um dos meus favoritos: Arthur (Or The Decline And Fall Of The British Empire).


Lançado em 1969, Arthur era a trilha sonora de um projeto da TV Britânica que acabou não indo adiante, no qual Ray Davies colaborava com o dramaturgo e roteirista Julian Mitchell. Um álbum menosprezado pela crítica da época e atropelado meses depois pela ópera rock Tommy do The Who. Considerado ultrapassado e recebido de forma gélida pelos súditos da coroa, o long-play passou longe das paradas de sucesso e vendeu pouco, tornando-se um fracasso comercial do selo Pye. Algo que não dá para entender, já que o registro é simplesmente maravilhoso. Arthur marca também a estréia do baixista John Dalton (ex- Mark Four) como membro fixo, substituindo Pete Quaife, que preferiu respirar novos ares, montando a sua própria banda, o Mapleoak.


Obra conceitual retratando o declínio e a queda do Império Britânico pós Segunda Guerra Mundial, numa crônica debochada e miserável de Mr. Ray Davies. Um almanaque sonoro contendo uma coleção de críticas sociais e políticas das mais irônicas ao modo de vida britânico, em meio à reconstrução nacional do pós-guerra. O que se ouve são verdadeiros hinos detonando as guerras, o imperialismo, a monarquia reinante e o establishment inglês. Letras sarcásticas disparando contra a pequena burguesia, a decadência moral e econômica, o panorama desalentador da classe operária, o incógnito mercado de trabalho em outro país, lavagem cerebral e repressão institucional, vitórias e derrotas, sonhos e desilusões, o glorioso e o banal.


Faixas altamente pegajosas, embaladas por levadas empolgantes, numa sucessão de melodias e composições insuperáveis. Belos arranjos vocais, riffs memoráveis, orquestrações, naipe de metais e seção rítmica made Távola Redonda, com o quarteto mostrando porque era a mais inglesa das bandas inglesas. O que dizer de maravilhas como “Victoria”, “Yes Sir, No Sir”, “Some Mother’s Son”, “Drivin”, “Brainwashed”, “Austrália”… e eu nem cheguei no lado B do vinil. Não preciso falar mais nada… escutem e tirem as suas conclusões! Um chiclete sonoro… simples assim!!


Obra-prima à parte, outro motivo para postar esta resenha foi a confirmação, no último dia 5, de que a banda está voltando à ativa após um recesso de 12 anos. O anúncio foi dado à BBC de Londres por ninguém menos que Ray Davies, que afirmou que um álbum de inéditas já vem sendo esboçado, possivelmente para ser lançado em 2009.


Esse retorno, por sinal, vem sendo cogitado há alguns anos, mas foi adiado por conta do quadro de saúde dos irmãos Davies. Em 2004, enquanto Dave sofria um derrame cerebral, Ray era alvejado com um tiro na perna, após uma perseguição a assaltantes. Reestabelecidos, parece que agora o negócio é pra valer. Não foram divulgadas datas de lançamentos ou shows, mas uma coisa é certa: o retorno aos palcos será com a formação clássica.


Por enquanto, resta aguardar novas informações sobre a volta desta banda fantástica a versão vitaminada de Arthur lançada em 1998, com várias faixas bônus e que agora disponibilizo para download aqui no blog. Discoteca básica!


ou

Download: http://www.mediafire.com/?w2wfmn2qk0w

sábado, 25 de outubro de 2008

THE MUSIC EMPORIUM - 1969


Atenção povo da BSGI: vejam o título da 1ª faixa do álbum (no fim deste texto) em questão*!

Há 40 anos a música, em especial o Rock, passava por um dos seus períodos mais importantes. Em 1968 explodiam vários tipos de manifestações sociais, culturais e comportamentais, que afetaram fortemente o Rock’n'roll e o mundo como um todo. Um movimento de contracultura que se originara da geração beatnik começava a dar forma a uma nova corrente do Rock. Era o movimento hippie, que trazia consigo a psicodelia e o questionamento ao establishment. Através de um estilo de vida totalmente alternativo, com roupas diferentes, vivendo em comunidades improvisadas e experimentando substâncias alucinógenas para alterar o estado de consciência, os hippies influenciaram não só toda uma camada de jovens inconformados, mas também injetaram novo vigor à música. A religiosidade e as tendências às filosofias orientais também entraram na ordem daqueles dias.

O rock psicodélico surgia daí como uma forma de revolucionar o que era feito até então. Incorporar as sensações causadas pelos psicotrópicos à sonoridade das músicas. Subverter e viajar através do som. Letras e linhas de guitarras totalmente surrealistas.


Essa postagem é dedicada aos amigos (de fé) budistas. Da fé em Nitiren Daishonin. Amo a minha devoção, porque nela não há, nem divindades, nem objetivos inalcançáveis. Aos budistas a única coisa sagrada é a vida. A ela devemos nos devotar. Portanto, divindade, como força de expressão, somos nós mesmos. Quem quiser entender é só clicar os links. E sem essa de catequese, hein? Apenas o escrito está a título de informação – que é bom, aprecio, então porque não divulgar?


O álbum, mais um da série “apontei pro que vi, acertei não exatamente no que mirava”, me fez re(re)pensar essa espécie em expansão que é blogueiro caçador de raridades sônicas. Não somos meio caçadores? Não aqueles clássicos que curtem abater a presa e pendurar-lhes as cabeças na sala... Ao contrário, a diferença básica é que aqui tiramos o que seria a caça de um estado latente (do sono profundo) e a trazemos de volta à luz, ao conhecimento dos que por ventura nos visitarem. Daí que essas decobertas chegam a liberar endorfina no corpo de quem pratica o esporte. Ao menos comigo, é o que rola. Valorizar e gostar do que se faz é bem bom, justamente porque faz-se com gosto e prazer - desse jeito, é impossível errar a mão.


Sobre o álbum que, claro, é muito bom - não o postaria apenas pelo apelo budista na 1ª faixa -, aí vai uma resenha in english, no blog, creio eu, russo, onde encontrei a postagem. Leia budista - quem sabe aos não budistas The Music Emporium, possa também interessar?...


Music Emporium, The (The Music Emporium) 1969

Initially called The CAGE, this trippy West Coast psych band from the 60’s were quite sophisticated for their time. They started off in 1968 when keyboardist Bill Cosby joined forces with guitarist Dave Padwin and two female musicians, namely bassist Carolyn Lee and drummer Dora Wahl. All four were either classically trained or seasoned club veterans, Cosby himself being a UCLA music major. Evolving smack in the middle of the flower power era, they played their blistering rockers and wispy melodies quite convincingly, borrowing from jazz, classical music, avant-garde and rock. On the psychedelic side, they were definitely more song oriented than, say, early PINK FLOYD; although they did pour a mean dose of organ on their self-titled LP, released in 1969. Unfortunately, a year later Cosby got drafted and the band broke up.


Their album is a fascinating testimony of a different time and place. Highly organ dominated, it has just about everything one would expect from a late 60’s album: driving rhythms, heavy guitar riffs, trippy Farfisa organ and cool, groovy male/female vocals by Cosby and especially Lee who delivers her druggy, cosmic lyrics with style. Their solos are concise and they know how to lock into a groove without jamming aimlessly, as did so many bands of that era. They also know how to structure songs that best display their strengths although in retrospect, it is their softer tunes that seem to have aged better, especially those with a nice gothic/classical feel. The CD version, which was recorded from the master tapes, comprises five bonus tracks, all of them instrumental versions of songs from the LP.


CASEY COSBY organ, vcls
CAROLYN LEE bs gtr, piano, acoustic bs, organ, vcls
DAVE PADWIN ld gtr, vcls, acous bs gtr
DORA WAHL perc, drms


1. Nam Myo Ho Renge Kyo (2:37) 2. Velvet Sunsets (2:35) 3. Prelude (2:07) 4. Catatonic Variations (1:58) 5. Times Like This (2:00) 6. Gentle Thursday (3:46) 7. Winds Have Changed (2:12) 8. Cage (5:09) 9. Sun Never Shines (4:01) 10. Day Of Wrath (3:25) 5 Bonus Tracks; From The Master Tapes 11. Nam Myo Renge Kyo - (previously unreleased) (2:41) 12. Velvet Sunsets - (previously unreleased) (3:08) 13. Winds Have Changed - (previously unreleased) (2:14) 14. Sun Never Shines - (previously unreleased) (4:04) 15. Gentle Thursday - (previouslunreleased) (4:11)

*Pois é. Já temos o nosso próprio hino-mantra-ultra-roqueiro... Aliás, já tínhamos! desde 1969!




THE MUSIC EMPORIUM - 1969

Neste clip, prática comum para os vídeos de bandas muito antigas no Youtube, vemos apenas imagens da capa do álbum, do rótulo do CD e os encartes com fotos em pb dos integrante. Mas serve muito bem para se conhecer o estilo da banda e a tal 1ª faixa - que tanto me satisfez tê-la acordado de um sono profundo.
Nam-myoho-rengue-kyo!

domingo, 21 de setembro de 2008

Isley Brothers Compilation One


"'Shout' faz parte do primeiro cânone do rock’n’roll. Influenciamos os Beatles. Tivemos hits na Motown. Jimi Hendrix tocou em nossa banda antes do festival de Monterey. Tivemos hits nas eras do funk e da discoteca. Rappers sampleiam-nos. Você pode ouvir nossa música em estádios, em filmes, em comerciais. Ninguém tem esse tipo de currículo". Ernie Isley tem razão. Ninguém, na história do rock durou tanto tempo, passou por tantas mudanças e continuou importando em toda sua existência como os Isley Brothers. São quase 60 anos na ativa, ajustando-se à modernidade sempre com muito estilo e personalidade.

A história dos Isley Brothers começa quando o chefe do clã Isley, um sujeito enorme e respeitável de fala mansa mas de objetivos bem definidos, chamado O’Kelly aproxima-se de Sallye Bernice em um encontro familiar, revela-lhe seu desejo de tornar-se seu marido e de dar-lhe uma tropa de filhos que se tornaria uma trupe de artistas. Vindo do emergente showbusiness, O’Kelly percebeu como poucos empresários o potencial da indústria de entretenimento no jovem século 20 e apostou a própria linhagem como estava certo. Precisava apenas encontrar a parceira correta. Naquele dia no meio dos assustadores anos 30 (que começara com uma falência financeira massiva e terminaria com uma guerra mundial), o patriarca Isley pousou o pesado olhar sobre a bela pequena e sabia que seu futuro estava começando." (...)

Para ler mais sobre a história desses Brothers vá direto à fonte.

A compilação aqui disponibilizada é apenas uma pequena prova do poder dessa banda. Afinal, 60 anos, não se compilam em 60 minutos. Então são 14 sucessos escolhidos na base do critério, afinal a casa tem um nome a zelar (não achamos interessante citá-los faixa por faixa). A surpresa, em se tratando da banda e, porque não, em se tratando da casa, é sempre a melhor companheira. E estamos certos de que não decepcionaremos o bom gosto dos que por aqui aportarem. Curtam o suspense!

Isley Brothers Compilation One

Em tempo: aqui nas internas, o texto a baixo foi todo climatizado no ambiente bem temperado, entre as calientes baladas soul "melacuecas" setentistas e aquele funk phoda desta compilação, que somente os negões da banda sabem na medida exata nos brindar.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

THE PRETTY THINGS (S.F. SORROW) 1968


THE PRETTY THINGS / S.F. SORROW, O PAI DE TOMMY

por Leonardo Bomfim

A Banda

Quando se fala sobre o pioneirismo em óperas-rock, todos logo lembram do The Who e de seu clássico Tommy, lançado em 1969. Alguns mais atentos irão recordar do Arthur, discaço lançado pelos Kinks no começo do mesmo ano. Mas, na verdade, a primeira ópera-rock que obteve grande destaque, foi S.F Sorrow (1968) dos também ingleses Pretty Things, que acabaram aclamados como os pais da criança, apesar de uma outra banda inglesa chamada Nirvana ter lançando o excelente The Story Of Simon Simopath no ano anterior.

O Pretty Things, natural de Kent (uma cidade litorânea próxima a Londres), começou a tocar em 1963 e logo se destacou pelas suas apresentações nervosas, tocando R&B da melhor qualidade com uma pegada punk. Não é à toa que eles seriam reverenciados por quase todas as bandas de garagem que surgiriam depois. O som do Pretty Things era calcado na excelente guitarra de Dick Taylor e no vocal rasgado de Phil May.

Lançaram os dois primeiros discos no ano de 1965. The Pretty Things e Get The Picture? apareceram repletos de versões animais de alguns ídolos americanos, como Bo Didley e Chuck Berry. O segundo disco já destacava o lado autoral da banda, com petardos do nível de "Midnight To Six Man" e "L.S.D" . A banda passou o ano seguinte fazendo uma longa tour e só foi lançar o terceiro trabalho em 67. Emotions é o disco mais criticado dos caras. Nem a própria banda, que diz ter se transformado num conjunto pop, gosta do disco. O maior problema foi a produção excessiva que deixou o característico lado cru e selvagem de lado. As canções tendiam mais para a psicodelia pop, com temas bem diferentes dos antigos. Nessa época a formação do grupo tinha, além de May e Taylor, o organista e “faz tudo” John Povey, o baixista Wally Allen e o baterista louco Skip Alan.

Ainda em 67, num passeio de carro, quando a banda estava conversando sobre como seria o próximo disco, Wally Allen sugeriu que as músicas poderiam ter uma conexão, contando alguma história. Phil May não demorou para apresentar um pequeno roteiro, contando a vida de um tal Sebastian Sorrow. A banda adorou a idéia, e passou a trabalhar nas músicas e no conceito.

Depois do fracasso de Emotions, eles estavam loucos pra gravar um grande disco, e para isso, nada melhor do que um grande estúdio e um excelente produtor. Abbey Road e Norman Smith foram os escolhidos. O Abbey Road era o estúdio mais “quente” da época em Londres, todo mundo queria gravar lá. E Norman Smith (também responsável pelo The Piper At The Gates Of Dawn, disco de estréia do Pink Floyd) foi importantíssimo para o S.F. Sorrow, sendo até considerado o sexto “pretty thing” nas gravações. Outra mudança importante foi a entrada do excelente baterista Twink, que pouco tempo antes tocou com a banda psicodélica Tomorrow.

A criação de S.F. Sorrow - 1968

O processo de gravação do S.F. Sorrow foi incrivelmente lento, começando no meio de 67 e só terminando no final do ano seguinte. O Pretty Things era uma banda sem muita grana, então para pagar as contas eles precisavam fazer shows, shows e mais shows, o que atrasava bastante o processo de gravação. Era aquele esquema, uma semana gravando, outra tocando... Outro motivo para a demora foi que, como eles estavam a fim de fazer o melhor disco da carreira, tudo estava sendo aperfeiçoado, todos os detalhes eram revistos e lapidados para que o resultado final ficasse perfeito. Finalmente, em novembro de 1968, S.F. Sorrow estava nas lojas e para surpresa de todos, em mono (um dos grandes truques de Norman Smith, para deixar o disco com uma solidez impressionante). A obra mostrava uma visão extremamente psicodélica e cercada de imagens interessantes, da triste vida de Sebastian Sorrow.

Lado A

Solos de violão anunciam o nascimento de Sebastian Sorrow. Ouvindo “SF Sorrow is Born” é impossível não associar ao início de Tommy, com Pete Townshend criando climas de violão, para depois anunciar “It’s a boy Mrs Walker, it’s a boy...”. Na música dos Pretty Things, a família de Sorrow encontra uma casa vazia durante o natal, e é lá que o bebê nasce. “Bracelets Of Fingers”, uma típica canção psicodélica inglesa, retrata o jovem Sebastian. Introduzida com um irônico “love, love, love”, a canção explica: “Existem poucas coisas que me divertiram/ Braceletes de dedos desde que eu era um menino”, numa clara alusão à masturbação. Em “She Says Good Morning” o jovem Sorrow encontra o amor, de uma forma menos individualista, entre grandes riffs dobrados de Dick Taylor. No final a canção ganha um tom de despedida e de lembrança, “Ela fica esperando no portão, uma imagem em minha mente”, Afinal a guerra estava chegando e era anunciada com rufadas de bateria e a letra surrealista de “Private Sorrow”.

A canção trata do começo e fim da guerra, contendo no final uma narração com o nome dos mortos. Sorrow sobreviveu, reencontrou seu amor da adolescência e se mandou pra Nova Iorque com ela. Na América os dois estavam vivendo felizes e apaixonados até ele resolver dar de presente um ticket para um passeio no Zepelim. Tudo muito bonito e romântico, mas quando o balão já estava no solo, um incêndio destruiu tudo e Sorrow nada pôde fazer, a não ser, ver de “camarote” a morte de sua amada. “Baloon Is Burning” é talvez a canção mais “cinematográfica” do disco. A guitarra agoniada e a linda melodia nos colocam no meio do fogo e de toda a tragédia. Enquanto Phil May canta “Esse balão, queimando”, é impossível não ficar arrepiado. É como sentir o lamento de Sorrow na pele!

O primeiro lado do disco termina com “Death” e um culpado Sorrow se lamentando por tudo. Uma grande interpretação de May faz essa música ter uma apatia agonizante. Nos últimos segundos ainda se ouve o som do fogo queimando.

Lado B

A segunda parte do disco mostra o lado mais psicodélico e viajante da história, afinal as gravações foram feitas no período em que todo mundo estava fazendo suas experiências com ácido lisérgico. O Pretty Things não ia ficar fora dessa, lógico!

Um misterioso personagem é logo apresentado. “Baron Saturday”, um cara que irá levar os olhos de Sorrow a um passeio. May baseou-se em coisas de vudu para criá-lo. Nessa música dá para perceber o efeito “Abbey Road” do disco, os timbres são idênticos a algumas canções dos Beatles. É também a única vez que Taylor cantou uma música na banda. O estranho Baron Saturday leva Sorrow a uma viagem aonde ele se vê cara a cara com sua imagem e acaba entrando no seu próprio corpo. Sorrow começa a ver todo o seu passado, quando percebe estar num salão repleto de espelhos. A lisérgica “The Journey” retrata essa cena mostrando fragmentos das músicas anteriores entre sons psicodélicos.

Em outra grande interpretação de Phil May, “I See You” mostra o final da viagem de Sorrow, “em uma rua escura e ventilada vendo todos os rostos das pessoas que ele conheceu”. Efeitos na voz e barulhos estranhos criam a ligação com a instrumental “Well Of Destiny” e seu clima pinkfloydiano. Vale lembrar que eles toparam diversas vezes, nos corredores do Abbey Road, com Syd Barrett e cia. A pequena peça nos dá impressão de um Sorrow quase louco e atordoado com suas lembranças. Depois de todas a viagem e suas dolorosas recordações, Sorrow se vê sozinho num mundo em que não pode mais confiar em ninguém. “Trust” o confirma “enxugando as lágrimas de olhos que não conseguem enxergar mais ninguém confiável”. A música é de uma amargura tão bela que deixa qualquer um emocionado.

“Old Man Going” é um proto-heavymetal com riffs demoníacos e vocal rasgado, que traz um Sorrow envelhecido e praticamente morto por dentro, com uma visão totalmente negativa do mundo. “Os jogos da vida irão conduzi-lo até o seu túmulo... a casa negra que você construiu logo desaparecerá” canta May com uma entonação de dar inveja a qualquer Ozzy Osbourne da vida. A canção que fecha a história nos leva até o começo do disco, com climas acústicos quase bucólicos. “Você pode ser a pessoa mais solitária do mundo, que nunca será tão sozinha quanto eu”, repete May na pequena “Loneliest Person” e mostra o fim dessa obra-prima com um Sebastian Sorrow velho, amargurado e desiludido com todo o mundo.

A recepção do álbum, curiosidades e o destino dos TPT

S.F. Sorrow infelizmente não vendeu muita coisa, mas foi muito bem recebido pela imprensa e pelas bandas em geral, que até hoje elegem o disco como uma grande obra influenciadora. É inegável que Pete Townshend pegou muita coisa para criar o seu Tommy. “It’s A Boy” e “Amazing Journey” parecem versões alternativas de “S.F. Sorrow Is Born” e “The Journey”, fora toda a importância de espelhos e reflexos, tema também bastante utilizado no disco do Who.

Outra curiosidade é a presença da guerra em todas as óperas-rock inglesas. S.F. Sorrow, Tommy, Arthur e mais tarde o The Wall, de alguma maneira, tratam sobre esse assunto. O fato é que a presença paterna ou familiar deve ter atordoado a cabeça dos jovens ingleses, já que Phil May, Ray Davies nem Townshend participaram de batalha alguma. O fim do disco parece adiantar o que aconteceria com diversos "freaks" dos sixties. Syd Barret e Brian Wilson se encaixam muito bem no deprimido e solitário Sebastian Sorrow do lado b. Seria Phil May uma espécie de profeta?

Depois do S.F. Sorrow a banda passou o ano inteiro de 69 excursionando e preparando o disco Parachutes, que saiu em 1970. Esse disco é considerado o “Abbey Road” dos caras e com certeza é um dos momentos mais inspirados da carreira. Seguiram na década de 70 lançando discos mais voltados para o hard rock e até assinaram com o selo do Led Zeppelin, Swan Song.

Depois de passar um tempo gravando poucos discos e fazendo apresentações esporádicas, o Pretty Things reuniu a formação da época do S.F. Sorrow e em 98 gravou o disco Ressurection, nada mais que o S.F. Sorrow na íntegra, regravado nos estúdios Abbey Road e contando com a participação especial de David Gilmour e do freak Arthur Brown. Tudo isso para celebrar os trinta anos do lançamento do disco. Depois dessa regravação, os Pretty Things reconquistaram algum destaque e até hoje fazem calorosos shows pela Europa.

Nada mais justo com essa banda que raramente é lembrada, mas que tem uma importância enorme para a música pop de todos os tempos.

PRETTY THINGS (F.S. SORROW) 1968

Aqui, a capa completa com as letras no encarte e todo o resto.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

LEFT BANKE (O TESOURO RESGATADO DO 'MOFO' DIRETAMENTE DOS 60s)


... Vocês q tem mais o que fazer é que vão dizer se é ou não uma baita descoberta essa. Eu, no meu turno, fico aqui me achando... O desencavador de novos talentos natimortos e/ou os só mortos mesmo – mergulhado nessa atividade, garanto, costuma-se achar bonito não ter o que fazer. Veja o exemplo do Left Banke, álbum “There's Gonna Be A Storm - The Complete Recordings”. O disco (coletânea) é o resgate da obra de uma banda dos meados dos 60s que sem, talvez, nem se dar conta, revolucionava o cenário do rock mundial.

Não. Essa banda não é mais uma legítima descoberta da casa. Das melhores descobertas da casa - antes da casa existir, aliás – foi o site MOFO. Já este ano, foi o responsável do MOFO que descobriu-me aqui, nesse blogcanal. Hoje trocamos informações sobre nossas respectivas descobertas musicais.

Portanto, para saber mais sobre Left Banke, o navegante deve clicar AQUI e ter acesso a todo o trabalho de pesquisa do cara. Adianto apenas o texto da chamada:

“Uma das jóias escondidas dos anos 60 é um grupo que fazia um "rock barroco": The Left Banke. Apesar da curtíssima duração, a banda deixou um clássico obscuro chamado "Walk Away Renée", um dos mais belos momentos dos anos 60. Uma banda que você não encontra mais cds à venda, mas ainda o acha navegando por aí.” Não por aí, meu bom Rubens. É por aqui que a banda toca.

Posso garantir que a história da banda é para lá de interessante – a música então, adjetivar elogiosamente é de uma inutilidade mesquinha. Daquelas histórias, comuns ao meio artístico, em que o EGO maiúsculo do líder determina ascensão e queda do grupo na cena musical americana. Aliás, refletindo enquanto escrevo... músicos com essa relevância... “anos 60” ... “rock barroco americano”(?!)... “revolução no cenário musical”... Seria redundante descobrir ter a obra nascido em Nova York?

LEFT BANKE (THERE'S GONNA BE A STORM - THE COMPLETE RECORDINGS)

LEFT BANKE (THERE'S GONNA BE A STORM - THE COMPLETE RECORDINGS) 2

sexta-feira, 6 de junho de 2008

MEIRELLES E OS COPA 5 (O SOM) 1963


Outra importante lembrança... (04/06/2008), morre J.T. Meirelles. O disco aqui postado é cortesia do blog Só Pedrada Musical. Por nome e inúmeras colaborações, já conhecia JT de longa data. Mas, em solo... "muito prazer, encantado!".

TEXTO E ÁLBUM RETIRADOS DO "SÓ PEDRADA"...

"Ontem morreu um dos grandes arquitetos da musica brasileira. J.T.Meirelles, saxofonista, flautista e arranjador. Criador do que seria conhecido como samba-jazz. Líder do grupo Meirelles & Os Copa 5, que tem essas duas pedras preciosas que colocarei para todos baixarem por aqui.

João Theodoro Meirelles começou sua carreira profissional aos 17 anos, tocando no conjunto de João Donato. Depois de uma breve passagem por São Paulo, retornou ao Rio de Janeiro e formou o Meirelles & Os Copa 5, fazendo temporadas memoráveis no Beco das Garrafas, em Copacabana. Em 1963, com apenas 23 anos, escreveu arranjos para o disco de estréia de Jorge Ben, inclusive “Mas Que Nada”, primeiro grande sucesso do artista, que depois, virou hit no mundo todo.

Meirelles & Os Copa 5 gravaram dois discos na carreira. Considerados clássicos mór do samba-jazz. Em “O Som”, de 63, o grupo era formado por Luiz Carlos Vinhas, Dom Um Romão, Manoel Gusmão e Pedro Paulo. Em 64, em “O Novo Som”, Os Copa 5, vieram com outra formação, tão grandiosa quanto a anterior: Eumir Deodato, Edison Machado, Roberto Menescal e Waltel Branco. Esses dois discos são obras-primas da nossa música, e deveria ser objeto de estudo em salas de aula de todas as escolas do Brasil. Faz parte da nossa história.
Muito respeito a João Theodoro Meirelles!"

MEIRELES E OS COPA 5 (1963)

Nota do blog: se queres receber a outra pedra(da) fundamentel para a obra de J.T. vá direto à fonte... Só Pedrada Musical

WALTER SANTOS (BOSSA NOVA) 1963


Nunca é tarde para a lembrança... (29/05/2008) *Morre Walter Santos, figura mais associada à paternidade da cantora Luciana Souza - principal nome brasileiro no cenário das cantoras de jazz em nossos dias. Mas isso minimiza por demais a figura de Walter, um educador e produtor de grande importância para gerações de músicos dos últimos quarenta anos. Além de participante, como violonista de discos essenciais do período bossanovista como “Canção do Amor Demais” de Elizeth Cardoso - pedra fundamental do movimento. Não sabia e lhe agradeço, infelizmente, tarde, a criação do selo Som da Gente de música instrumental independente dos anos 80. Seus discos de excepcional qualidade tanto na produção como em requinte gráfico, como, por exemplo: os do saxofonista Roberto Sion, primeiro do maestro e pianista Nelson Ayres... Além dos produzidos pelos guitarristas - em forma individual – Heraldo do Monte e Olmir Stocker (Alemão) representam uma generosa parcela do que houve de melhor no contexto da musica instrumental brasileira em todas às décadas.

*Escrito por Edú (um bom amigo desta casa)

Soube do passamento de Walter Santos, através de Lúcia Guimarães, no programa Manhattan Connection (canal GNT, edição 01/06/2008). Cheguei a planejar homenageá-lo aqui, pois tinha duas preciosidades do mestre... Mas, a falta de tempo somada a euforia face ao momento ímpar que vivemos, eu, torcida e o nosso Tricolor, impediram as merecidas despedidas a tempo. É como disse aí no alto. Nunca é tarde para a lembrança.

O álbum postado, segundo breve pesquisa, vem a ser a 1ª gravação de mr. Walter Santos. Como pesquisa breve é pesquisa mesquinha, por favor, corrijam-me, nos comments, se estiver errado.

WALTER SANTOS (BOSSA NOVA) 1963

Em tempo: não estou conseguindo subir álbuns pelo Sharebee, problema que se dá desde a postagem do Quiet Village. A opção foi usar só o badongo. Desta vez nem esse deu jeito, daí tive que me valer dos préstimos do blog vizinho Loronix. Agradeço. E peço para os blogueiros, se possível, me informar se o problema está na minha conexão, que cai antes da operação se completar, ou se a pane é geral.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

THE FLAMIN' GROOVIES 69/70/71




Confirmando a regra de que haverá sempre exceção, esta será a primeiríssima vez que posto 3 álbuns de uma mesma banda numa única postagem. Isso porque a coisa aqui pede quebra de disciplina rígida. Afinal the hole is more in down... Estamos diante do mais legítimo roquenrou, inusitado (porque deste não se banqueteou o mercado) por ser tão cult. E, embora o som dos The Flamin' Groovies seja tudo que um ser humano comum (de posses), amante da arte da diversão pura e simples desejou ouvir e ter em sua antenada discoteca, sabe-se lá por qual mercadologia, os que fazem girar a roda da fortuna, decidiram deixar esses músicos sempre ali, no compasso da espera. Banqueteemo-nos nós now, então! Ouvindo os Flamin’ Groovies, percebe-se nitidamente, também, que os caras não quiseram se ocupar dessas questiúnculas mesquinhas. Divertiram-se simplesmente, a sós ou com os fãs e em número nunca proporcional a energia que despenderiam. Fizeram parte do mais seleto (e dileto) club privê dos Perdedores Magnânimos! Mas, pra quem já está acostumado a ler biografia de bandas (das ótimas que se perderam no esquecimento), a história desta aqui é apenas mais uma dentre trocentas mil (desculpa dos que don't speak english, óbvio!)...

Agora é sério: desafio a quem nunca ouviu, TFG, baixar qualquer um desses discos e não sair mais rico dessa experiência... E de não logo pensar em apresentá-lo aos amigos na próxima reunião... Quiçá promover uma... um simulado de Dia de Ação de Graças - “à nós que estamos vivos!” por que não? -, só pra aplicar Flamin’ Groovies na vida da rapazeada. Sim, porque é você, leitor navegador, o legítimo fanático por música da galera. Ó você aqui travez! Assume logo, vá. Eu que penso os outros por mim... Importante acrescentar: eu que me penso e tenho maior carinho por mim, pelo menos penso assim. Então, nada mais comum, nas Ações de Graças da rapeize (não o Tanks Give tio sânico "satânico", caboco! Seja mais atrevido! Ação de graças à sua galera que é bacana e merece...), que seja você mesmo a promovê-las! Ruim vai ser conservar-se sentado e conversar, porque é som que convida à dança, o aquecimento e ao esquecimento do quotidiano, no mínimo, emocore que te deixaram de herança... Pois é. Eu que penso os outros por mim, divido essa bagaça de herança, tim tim por tim tim. E é ruim, hein... É rim.

A expressão perdedores magnânimos* é do musicólogo francês, Philippe Bouchey. Inventada por ele para categorizar certas bandas que, na segunda metade da década de sessenta, apesar das alterações que se estavam a dar na cena musical, preferiram continuar a tocar um rock and roll puro, próximo das raízes blues e soul, abdicando do sucesso comercial garantido.

Os Flamin' Groovies são um dos casos mais categóricos disto. Pelo amor ao rock, passaram ao largo de uma grande carreira. Surgiram no final dos anos sessenta em São Francisco e tocavam um rock cheio de sentido de humor, com influências (as de sempre...) de Beatles e Rolling Stones.

A música deles não pretendia ser mais do que isso. Acima de tudo, eles divertiam-se com aquilo que faziam. A música deles é contagiante. E tocavam, segundo Bouchey, o rock mais puro que se podia ouvir entre 1968 e 1975. Desse período, os 3 álbuns onde se encontra os seus registos mais emblemáticos: ‘Supersnazz’; 'Flamingo' e 'Teenange Head'...

Enfim. O papo tá bom, mas o som é melhor.

Flamin' Groovies, The (Supersnazz) 1969

Flamin' Groovies, The (Flamingo) 1970

Flamin' Groovies, The (Teenager Head) 1971

Mais informações… Bem, aqui quem freqüenta, já sabe: a porta do allmusic é a serventia da casa. Mesmo eles lá nos EUA não pagando nada por tamanha promoção e deferência. Ops! Sergio Sônico, um "perdedor magnânimo", seu criado, muito prazer. Divirta-se!

* a bem da verdade a expressão é "perdedores magníficos", mas atrevi-me a fazer uns ajustezinhos, posto que, quando deixa-se de visar o lucro em detrimento de um ideal, o termo magnânimo cai bem melhor e não se deixa de ser magnífico só por privilegiar tão nobre causa, muito ao contrário, aliás.

quinta-feira, 20 de março de 2008

MINNIE RIPERTON (COME TO MY GARDEN + PERFECT ANGEL)



Minnie Riperton nasceu a 8 de Novembro de 1947 em Chicago, cidade onde estudou música, teatro e dança. Iniciou-se na música pop aos 15 anos, quando entrou na editora Chess como parte integrante das The Gems; grupo feminino que editou alguns singles que não ficaram na história, ao mesmo tempo que fazia (o grupo, não Riperton) coros em espectáculos de algumas das artistas mais consagradas da editora, como eram os casos de Fontella Bass, The Dells ou Etta James. Após a dissolução das The Gems, Riperton gravou um par de canções em solo sob o pseudónimo de Andrea Davis, ao mesmo tempo que trabalhava como recepcionista nos escritórios da editora.

Em 1967, após uma audição em que, diz a lenda, o produtor e compositor Charles Stepney teria ficado impressionado com a sua voz celestial e operática - Riperton tinha uma voz invulgar de soprano, capaz de chegar sem esforço às cinco ou seis oitavas, tendo, na sua adolescência, chegado a manter uma breve carreira como cantora de ópera -, Riperton foi convidada para cantar nos Rotary Connection - aclamado grupo vocal da soulmusic. Simultaneamente, participou em discos de Quincy Jones, Roberta Flack, Freddie Hubbarb e Etta James e gravou, em 1970, um disco a solo na Chess ('Come Into My Garden'), um álbum que o allmusic definiria alguns anos mais tarde como " a perfect balance between romantic melodrama and sensual nuance" (e eu juro que o disco soa bem melhor do que aquilo que esta descrição faz prever). Porém, quatro anos após a estréia e seis álbuns mais tarde, nos Rotary - com vendas nunca superiores às 200.000 cópias, o que lhes dava o status de ser um dos mais bem sucedidos grupos do underground de Chicago, mas insuficiente para atingir o reconhecimento global - Riperton deixou os Rotary Connection, tendo estes terminado definitivamente a carreira em 1974.

Com o final dos Rotary Connection, Riperton abandonou a Chess e mudou-se para a cidade de Los Angeles (não necessariamente nesta ordem) onde conheceu Stevie Wonder, com quem viajou pelos EUA como backing vocal nas Wonderlove. Fascinado pela voz única de Riperton, Stevie aceitou co-produzir 'Perfect Angel', ao mesmo tempo que tocava bateria e teclados e dava uma mãozinha na autoria de três dos nove temas do disco, incluindo o seu primeiro grande (e único no Brasil) êxito internacional, 'Lovin' You'*. No entanto, os álbuns seguintes - 'Adventures in Paradise' e 'Stay In Love', gravados com a colaboração cúmplice de seu marido, Richard Rudolph - tiveram um êxito muito relativo.

(Faz-se necessário deixar aqui uma pista para a escolha dos álbuns, de conceitos totalmente distintos. Enquanto "Come Into My Garden" vai mais na linha Burt Bacharach, em "Perfect Angel" percebe-se, sem esforço, a mão autoral de Stevie Wonder na concepção do disco.)

Apesar do pouco reconhecimento, Riperton nunca deixou de cantar e atuar ao vivo, mantendo uma carreira discreta mas persistente, até falecer, vítima de câncer, em 12 de Julho de 1979, aos 32 anos.

* O mercado é mesmo padrasto...

FONTE

MINNIE RIPERTON (COME TO MY GARDEN) 1970

MINNIE RIPERTON (PERFECT ANGEL) 1974


quinta-feira, 6 de março de 2008

DORIS DUKE (I'M A LOOSER) 1969


Baixei esse disco há anos e o Sergio Sônico está me ajudando a resgatar coisas que poderiam cair no esquecimento. Pois é. O titular do Blog tira o mesmo proveito dos navegantes. Como vês, é uma atividade de duas vias, com retorno para todos os envolvidos.

Assim como tanto artista novo, velho, em atividade, morto, vivo, mas fora do mercado (tipo a Doris aqui), e as mil e umas situações que são ou foram a vida desse povo musical que a internet desencava, a gente baixa, ouve, curte – porque se não curte deleta – depois arquiva e fatalmente esquece. Afinal ainda existe os meus 9 mil 475 discos (+ um compacto simples), além dos que baixei e nessa balada já nem sei mais separar o que foi comprado, dado, emprestado - já que tudo foi direto para dentro do computador - do que foi baixado... Não! Sensacional! Tô reclamando não. Se hospedasse tudo num super HD e pusesse pra tocar dia e noite, sem trégua, todos os dias, a vida ia seguir agora com trilha sonora perene, inclusive às próximas gerações, já pensou? E o que é mais esnobe: sem repetir música, quiçá sem reprisar artista! Agora, faça o mesmo com seus modelitos de grife, madame... A riqueza de uma pessoa deveria ser medida pelo valor cultural intelectual de seus bens. Não que moda não seja arte nem cultura, mas a pessoa tem que ser a própria Athina Onassis pra repetir, com o guarda-roupa, tal façanha musical... Preciso providenciar imediatamente um herdeiro.

Enfim, a biografia do 1º álbum dessa cantora fantástica esquecida está aqui. Nos padrões capitalistas americanos Doris Duke make se antecipa ao julgamento da sociedade quando vaticina: “I’m A Looser”. O álbum precioso é raríssimo! É exemplo de um gênero quase esquecido, chamado DEEP SOUL - o qual, antes de postar, estou re-ouvindo amarradão. E chocado de como poderia ter esquecido a Doris Duke! É lírico, denso, romântico, algumas faixas bem dançantes, e as canções... É luxo só. Diz o texto do allmusic que o álbum “I’m A Looser” é considerado por especialistas no estilo como o melhor disco de DEEP SOUL de todos os tempos. De minha parte, vou só anotando, baixando, computando, arquivando e ouvindo, cheio de satisfação e alegria - agora com o auxílio do Blog que me força a re-re-re, infinitamente, desencavá-los. Agradeço aos navegantes por lembrar-me do que não era pra ser esquecido.

DORIS DUKE (I'M A LOOSER) 1969

domingo, 2 de março de 2008

SHARON JONES AND THE DAP-KINGS (NATURALLY)



"Ninguém me aceitava na indústria da música. Diziam que eu era muito negra, que eu era muito gorda... Diziam que eu era muito nova, que não era bonita o suficiente", relembra.
"Aos 25 anos, me disseram que eu estava velha... Então fui fazer outras coisas." Entre essas coisas, estão dois anos como carcereira na penitenciária de Ryker's Island, em Nova York, e um período como segurança de carro-forte do Wells Fargo Bank, também em Nova York.

O que chamou a atenção de Amy Winehouse, Mark Ronson e tantos outros é a sonoridade única da banda The Dap-Kings e de Sharon Jones. "Fazemos soul music como era feita nos anos 60 e 70", diz Jones. "Hoje todo mundo usa equipamentos digitais, eletrônicos. Nós só usamos instrumentos analógicos. No estúdio, ainda gravamos em fita. Os instrumentos são gravados todos juntos no estúdio, como se fosse ao vivo. É a diferença."
"Esse tipo de música", ela continua, "apesar de antiga, ainda é importante. Não usamos sintetizadores, softwares, nada disso. E os mais jovens não entendem como conseguimos soar dessa maneira. Vamos continuar fazendo assim. Era como Otis Redding, Etta James, James Brown e todos os outros grandes faziam. Nós somos da velha-guarda."

Dois trechos da matéria que saiu na Folha de SP, com a "dona" da banda que tocou no disco "Back to Black" de Amy Winehouse.

Todo megastar tem, no mínimo, um obscuro a inspirá-lo. O que, em si, já é um mérito. Indica que os melhores artistas conhecem a história. Tanto dos bem sucedidos quanto dos gênios massacrados pelo não preenchimento das exigências das majors. Agora, Sharon Jones e The Dap-Kings (se o todo poderoso Deus Lucro quiser) será apontada a velha musa da Soul Music. A que inspirou Amy Winehouse. Aos 51 anos, Jones ainda pode recuperar boa parte da vida tentando se adaptar às exigências – dessa sim! – tropa de elite da Indústria. Vida longa à Sharon!

SHARON JONES AND THE DAP-KINGS (NATURALLY)

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

EASY RIDER (A TRILHA)



O dia em que fui presenteado com meu próprio blog todo meu com seus garranchos, pelo amigual (amigo virtual) Boogie Woody, bem antes, já tinha tudo planejado. Sabia como ordenaria por gênero as postagens, as passagens de tempo entre o velho e o novo – considerando, claro, que não existe música velha e sim a gasta e que o novo bom é quase sempre a releitura criteriosa do que não envelheceu. Musicalmente, me expressaria por momentos de estado de espírito, mais ou menos seguindo a cartilha “blog”, meu-querido-diário (marmanjo) da garotada. E apresentaria aqui toda música que levei anos colecionando. Tudo que já tive e digitalizei e o que conheci através dos blogados já instituídos neste mercado sem capital. Capital da troca, no máximo, de gentilezas e, no mínimo... não vale a pena questionar. Mas nada é como se planeja. Fosse assim eu seria engenheiro agrônomo, zootecnista. Tocaria a fazenda de vovô...

Daí que, pra encurtar, o que geralmente me move a postar álbuns neste espaço, é o acaso. Como disse em alguma parte de texto de alguma postagem que já nem lembro, nunca tive talento para colecionador. Minha CDteca hoje é toda digitalizada. Os originais foram vendidos numa das várias crises financeiras. Mas acho bacana quando visito um amigo caprichoso com seus discos ver aquelas prateleiras repletas de opções enfileiradinhas. Rock com rock, mêpêbê com mêpêbê, jazz com jazz, lé com lé, cré com cré, um sapato em cada pé. Aqui não é assim. Toda a minha considerável CDteca hoje cabe numa caixa de sapatos. Daí o nome, citado noutra postagem: Shoes Box. Shoes Box é o nome de minha coleção enquanto lojinha de raridades. Tudo bem, também antipatizo com essa nomenclatura americânica, mas o leitor há de convir que caixa de sapatos não tem o menor glamour. Devassei meus bens mais valiosos em CD e LP objetos palpáveis, mas não por isso, vou tratá-los com menor consideração... Para mim, desapegado, a música é o que conta. Ela está intacta – alias agora mais do que nunca, né Fausto Silva? As desvantagens dessa opção são que hoje esqueço o que tenho. Os álbuns digitalizados, nas suas capas, piscam separados do corpo, aleatoriamente, em feidin, feidaut na tela deste monitor. E me digo pensando: “Caramba! Quanto tempo não escuto isso"... (pensando como blogueiro): "Talvez faça sucesso entre a audiência”...
Tudo bem que as últimas duas postagens diziam respeito a dois álbuns da maior importância que aniversariavam (30 e 40 anos!), mas isso, também, aconteceu ao acaso, tipo, na pesquisa, navegando: atirei no que vi e acertei no que não vi. É assim que a banda toca por cá. Até porque quando se preestabelece roteiros - e isso aqui não é cinema -, passamos ao cré com cré das estantes dos amigos. Meu blog tem que ter alguma verdade, certo? Não era o que presumia o diário da garotada? Então deixa o acaso fazer o seu trabalho. Com alguns girar no leme, de olho na bússola, muda-se o itinerário. Como num cruzeiro, velejando, a lá família Schürmann. Aliás, pensando melhor, se perder em família nem sempre é recomendável. Gosto mais da opção asfalto a Dennis Hopper, Nicholson e Fonda, na base do Easy Rider...
Clicaki pra se perder.

domingo, 2 de dezembro de 2007

LOVE - FOREVER CHANGES



"Passam neste mês de Novembro 40 anos desde a edição de Forever Changes (Elektra, 1967), a obra-prima dos californianos LOVE é presença habitual nos lugares cimeiros das listas dos "melhores de sempre", ombreando com discos da magnitude de Revolver (Beatles), Pet Sounds (Beach Boys), ou Marquee Moon (Television).

Obra maior do psicadelismo west coast, Forever Changes é o momento alto da carreira desta banda que soube marcar a diferença em relação aos seus pares: por contraponto ao folk rock dos Byrds, ou à pseudo-poesia cerimonial dos Doors, os Love produziam gemas pop onde, não raras vezes, os sopros mariachi davam um ar da sua graça.

Falar de Forever Changes é falar de Arthur Lee, anti-hippy assumido, figura carismática e conturbada até ao momento da sua morte há pouco mais de um ano que, com voz aveludada, entoava letras de um beleza extrema onde as referências sexuais eram uma constante. Além de frontman da banda, era também o seu principal compositor. Quis o destino que "Alone Again Or", uma das duas composições do guitarrista Bryan MacLean incluídas em Forever Changes, se tornasse a canção mais conhecida dos Love. No entanto, podem aqui encontrar motivos de sobra para a santificação de Arthur Lee enquanto compositor e intérprete: "A House Is Not A Motel", "Andmoreagain", "The Red Telephone", "You Set The Scene", e... todas as outras!

É para definir discos deste calibre que existe o adjectivo perfeito. A melhor forma de comemorar Forever Changes é ouvindo-o vezes sem conta. Durante a audição, apaguem a luzes e imaginem-se na imensidão de um deserto a contemplar o firmamento..."

Fonte April-Skies (Portugal)

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Em tempo: no fim desta página a raridade solo de
Arthur Lee "Vindicator".

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

domingo, 25 de novembro de 2007

THE CREATION - WE ARE PAINTERMEN






The Creation ficou conhecido como "a banda psicodélica britânica que só gravou um Lp". Nada como comentários desse tipo para fazer um grupo obscuro dos 60’s tornar-se "cult", ainda mais quando, por opção da maioria dos músicos, a idéia não era se fazer passar por reles funcionários paus mandados da indústria phonográfica (há algum tempo resolvi me referir as majors com ph, afinal, o tempo passa o tempo voa e as empresas desse ramo continuam... no tempo do gramophone).

The Creation, então, surgiu na mesma época do Pink Floyd e contou com o apoio do produtor Shel Talmy, o mesmo que trabalhou nos primeiros anos do The Who (ali em meados dos anos 60). Nessa época, inclusive, Pete Townshend teria sugerido ao futuro líder do Creation, o guitarrista Eddie Phillips que entrasse como segunda guitarra no Who, mas este optou por montar a sua trupe. Phillips tinha uma boa pegada para os power-acordes, alem de ter na manga boas harmonias ao estilo britânico. A banda emplacou os hits "Making Time" e "Painter Man". E entre 66 e 68 fizeram turnês longas na Alemanha. Em contrpartida, na Inglaterra a coisa ficou um pouco mais complexa dada a quantidade de bandas talentosas que surgiam na mesma ocasião como os citados, Floyd, Who além do Soft Machine, Love e tantos outros. Outro detalhe interessante é que o futuro R. Stone, Ron Wood chegou a ser membro do Creation por um curto tempo, mas especificamente nos últimos meses de 68, quando a banda encerrou suas atividades. Outro stone (o membro oculto, olha o duplo sentido) que colaborou em algumas gravações foi Nicky Hopkins, teclados.

O disco "We Are the Paintermen" surpreende pelo grande numero de canções autorais e pelo bom entrosamento dos músicos que, sem duvida, expõe mais as guitarras. Falar nisso, curiosamente, antes de Jimmy Page, Phillips já ousava fazendo sua guitarra parecer violino, como Page no ultimo ano dos Yarbirds, no uso do arco. Portanto, Eddie Phillips já havia feito tal experiência bem antes, sem levar a fama por isso. Não fujindo a uma regra da época, o som do Creation era um misto de folk-rock, como Buffalo Springfields, com os melhores momentos hard dos Yarbyrds. Não que fosse influenciado por eles - surgiram meio que ao mesmo tempo. O interessante é saber como a soma do Blues eletrificado, o Folk e o Rock básico chuckbérico emprestaram os elementos necessários para o embrião de um novo estilo que se tornaria a febre rítmica alguns anos depois. Em se tratando de psicodelia, em princípio, a “onda” psicodélica, embalada pelas experiências sensoriais com a nova droga LSD, foram a grande inspiração do que seria o rock-progressivo. É bom lembrar que a safra de bandas nesse padrão embrionário, e o prog, propriamente dito, encontraram terreno fértil na Inglaterra, principalmente este último, já que o progressivo feito nos EUA, via de regra, foi um pastiche do que se criou no Reino Unido.

Voltando ao objetivo: fica claro o talento inquestionável de Phillips como compositor. E óbvio, quando se ecuta, o leque de influencias que o artista abriu para outras bandas que viriam no vácuo. Infelizmente depois do fim do grupo, Phillips foi trabalhar como motorista de ônibus e os demais integrantes também acabaram encerrando suas atividades por ali mesmo, em 1968.

Enfim, The Creation “We Are Paintermen”, pela casa Sônica, sai do ostracismo na íntegra. Mas, infelizmente para você, sócio, com seis faixas bônus. Chateou?
Porque vale tanto à pena conhecer The Creation?... Já sei! Porque se descobre o quanto este período, pré-woodstockiano foi crucial para a seqüência do que viria a ser o rock&roll na década seguinte...? (...) Ah, sim! Mais que isso! Porque aponta para o “novíssimo” roquenrou do século 21, já que, sem citar nomes - pra não se afogar numa infinidade mais um de exemplos - de bandas atuais, tudo que faz a diferença no rock atual deriva da fase áurea musical que foram os anos 60... né?... Pois é. Mas disso todos nós estamos carecas de saber. Então fechemos questão de forma correta: além de ter feito parte embrionária de uma onda tão criativa que continua e continuará fazendo as pedras rolarem ao longo de gerações, The Creation vale à pena simplesmente porque é phoda de bom! Aqui o ph serve só pra suavizar o coito.

Os The Creation foram:
Bob Garner: Baixo
Eddie Phillips: Guitarra
Kenny Pickett: Vocais
Jack Jones: Bateria
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No allmusic, além de saber muito mais sobre o mesmo, in english, encontra-se (só pavê) todo o repertório do álbum.

As prometidas faixas bonus do disco estão do track 24 em diante: 25- How does it feel to feel (versão UK) 26- The girls are naked - 27- mercy, mercy, mercy - 28- Uncle bert - 29- Bony Marone - 30- cool jerk (versão remixada)

Clicaki para baixar o um e K pra parte dois.