terça-feira, 4 de março de 2008

SUSANNAHH MCCORKLE E EMILY REMLER




Parece que músicos de caso com a fatalidade andam querendo fazer contato. E de mim uma espécie de RP. Como diriam uns e outros, quando querem se explicar na novilíngua, eñtããão... Dessa vez manifestou-se uma mulher - consolo algum nisso, claro. Elegante cantora de standarts, uma bela mulher por sinal, muito sexy por força de expressão vocal, e muito rara, por... Rara porque? Em minha superficialíssima avaliação, um dos motivos seria que, pela elegância da voz e beleza física, Susannah McCorkle, tentando ser minimamente gentil, merecia uma atenção maior nas capas de seus álbuns. E a relação do consumidor comum com capas de álbuns na prateleira das lojas se explica assim: se não conhece e a capa não lhe diz nada, não compra mas se faz ligeira idéia e a capa passa perspectiva torta do artista, aí nem pensar! Dos 17 álbuns de Susannah McCorkle, listados no allmusic (confira), dos que Susannah aparece, posso garantir que mesmo se meu objetivo fosse procurar uma rara e talentosa voz jazzy para chamar de ‘minha’ última descoberta, passaria batido. Até aqui nenhuma fatalidade. Não sou consumidor de álbuns in cash - chamar box de capas denuncia que o sujeito, se comprava, o fazia no tempo do vinil -, muito menos estou ligado ao marqueting de como se produz corretamente uma estrela. Mas quem conferir as tais capas no link vai concondar comigo em GNG, com toda a certeza!

O fato é que Susannah McCorkle (nascida em Berkeley, California em 1º de janeiro de 1946), era uma intérprete de voz e gosto para repertório refinados que, infelizmente, para todos que ficamos, abreviou sua história e carreira porque sofria com dois dramas, a descoberta de um câncer e uma crônica depressão. Enfim, em relação à própria vida as pessoas têm o direito a ir e vir. "Tragically, career disappointments exacerbated her chronic depression (a condition she kept well-hidden), resulting in her suicide in May of 2001 in New York City.” – diz Scott Yanow, encerrando a biografia da cantora, morta aos 55 anos.

Relembrando a história daquele ano fatídico, polianamente, vejo um lado positivo nisso tudo: quatro meses depois, dois 747zinhos de carreira da American Airlines, zapeados a controle remoto por uma espécie de cangaceiro de Alah, chocam-se com duas Torres Gêmeas no coração da cidade Maçã. Desse choque ao menos Susannah conseguiu escapar.

(...) "Susannah McCorkle, uma cantora de sucesso (...) No dia de sua morte era primavera em New York e floresciam jasmins em New Orleans. Agora quem poderá dizer que o Jazzseen não prestigia a MPB* e a voz?” (By Roberto Scardua / Jazzseen)

E pra não dizer, com direito a protuberante ponta de iceberg de humor negro, que tragédia pouca é bobagem, ainda no álbum aqui apresentado, mais um talento desperdiçado: uma exímia guitarrista de jazz, Emily Remler - o álbum Sabiá foi o último de que Emily participou - 3 meses após a gravação (1991) morre do coração. E Porque...

“A utilização sistemática de heroína talvez tenha contribuído decisivamente para o enfarto fulminante que matou Emily Remler aos 32 anos. Sua morte prematura impediu que essa excelente guitarrista estabelecesse de forma definitiva um estilo próprio. Bastante influenciada pelo toque de Wes Montgomery, a menina Emily começou estudando violão em Berklee aos dez anos e, em 1980, já gravava seu primeiro álbum como líder. Seu trabalho foi quase todo em trios ou quartetos, num clima post bop que me agrada bastante e faz a gente pensar que grande guitarrista ela poderia ter sido se ainda estivesse entre nós.”

(By John Lester / Jazzseen)

Com certeza, a idéia paranóica de perseguição por gente que se anula, origina na postagem de Danny Gatton – umas tantas esquinas mais abaixo desta. Abaixo do álbum Anthology, bem mais abaixo, vai descendo... Isso! No New York Stories. Se o navegante é recém chegado, tem a oportunidade de baixar vários álbuns que, na música, de trágicos não têm absolutamente nada! Além da coincidência deste blogueiro encontrá-los em suas naveganças, achar que é descoberta exclusiva e, ao pesquisar, perceber que alguém do Jazzseeen (sempre lá) já o havia descoberto antes. E que suicídio, esse mórbido hábito de abreviar pessoa física costuma rondar até com maior freqüência a história dos artistas mais talentosos - fragilidade endêmica, talvez... Não imaginei melhor maneira, então, de render-lhes homenagem. Tirar algo de positivo da fatalidade. Afinal nem é mais tanto por eles, mas por nós que estamos vivos.

Deixo aos navegantes dois exemplos bacanas. Um trabalho de Susannah McCorkle (com Emily Remler) e outro só com Emily em solo. Boa viagem. Mas volte, hein!

* Tracklist de Sabiá

01 - Tristeza (Aroldo Lobo & Niltinho)

02 - Estate (Bruno Brighetti & Bruno Martino)

03 - Vivo Sonhando (Vinícius & Tom)

04 - Dilema (O.Guilherme)

05 - Sabiá (Chico Buarque & Tom Jobim)

06 - So Many Stars (Alan e Marilyn Bergman & S.Mendes)

07 - Só Danço Samba (Vinícius & Tom)

08 - Manhã de Carnaval (Luiz Bonfá & Antônio Maria)

09 - Pra Machucar meu Coração (Ary Barroso)

10 - Travessia (F.Brant/Gene Lees & M.Nascimento)

11 - A Felicidade (Vinícius & Tom)

SUSANNAH MCCORKLE (SABIÁ)

SUSANNAH MCCORKLE (SABIÁ) part 2

EMILY REMLER (CATWALK)

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Uma obra de arte é um ângulo apreciado
através de um temperamento.
(Emile Zola)