domingo, 21 de setembro de 2008

A TÍTULO D


CENA DE CINEMA 1/ EXTERIOR/ DIA - TÍTULO PROVISÓRIO DA SEQÜÊNCIA:

“À MULHER, BASTA DESCOBRIR SUA IMPORTÂNCIA PARA UM HOMEM, PRA NÃO MAIS DEDICAR-LHE A DEVIDA URGÊNCIA”

Elas estavam bem ali. Praia da Joatinga / Rio “Cartão postal” de Janeiro/ Brasil. Recantinho aconchegante. Ao alcance dos olhos de quem quisesse reparar. Sentada sobre a canga Simone observa Carla sair da água, caminhar em sua direção e parar diante de Si... Assim, de pé, torneadíssimo par de pernas entreabrindo-se, a medida que seus pés se aprofundam na areia fofa, Carla joga os cabelos para frente e para trás, fazendo-os orvalharem Simone. Orvalho litorâneo. E notamos como Simone atem-se ao corpo perfeito da amiga com secreta admiração: quando Carla abaixa-se para pegar o pente, enquanto penteia-se, exibida, no contra luz solar. Quando gotas vadias vêm surfar-lhe a pele morena... Simone, coitada, já nem disfarça mais o olhar cobiçoso que lança sobre a melhor amiga.

CARLA (displicente, enquanto se penteia):
Com um mar desses, não sei como você consegue ficar assando assim ao sol...

SIMONE:
Vem cá, vem. Deixa eu pentear o teu cabelo.

Obediente, Carlinha aninha-se de costas, entre as coxas de Simone. Axilas e braços, envolvendo as pernas de Simone. As mãos apoiadas nas canelas apertam Simone, levemente nas panturrilhas, liberando dez dedinhos zelosos para explorar joelhos, tornozelos e massagear-lhes os pezinhos. Simone cerra os olhos, finca os dentes no lábio inferior e mergulha o rosto no vazio das mãos. Ao que parece - e Carla é dessas que jamais demonstrariam transparecer o contrário - Carlinha não se dá a menor conta do estrago que provoca. Quanto à Si, sente que é hora de se aprumar e começar a pentear.

CARLA:
Uhm, isso é bom, não pára nunca mais, vai... (ri) Êta vidinha mais ou menos essa nossa, né?

SIMONE (de leve, cheirando os cabelos de Carla):
É.

CARLA:
Simone, você às vezes também não tem vontade de jogar tudo pro alto, não?

SIMONE:
E viver de quê? Sonhos românticos, feito você?

CARLA (meio ofendida, vira-se para alcançar Simone nos olhos):
Eu vou voltar a estudar, tá?

Com uma das mãos, como se atarraxasse o copo quente de um liquidificador, Simone gira a cabeça de Carla na direção do mar. Volta a penteá-la.

SIMONE:
Ah, isso não é pra mim. Se quiser cultura, pego um livro. E você sabe que eu gostcho (ri). Às vezes gosto até demais do que faço. Tenho anos de janela, amiga. E ainda me dou o luxo de escolher meus parceiros!... Reclamar de quê?

Carla vira-se novamente, fica com o rosto muito próximo ao de Simone.

CARLA:
Você nunca se apaixona? Nunca se apaixonou?

Simone gira novamente à maneira ‘copo’, o rosto de Carla. Volta a pentea-la.

SIMONE (blasé):
Não. A gente tem muito a perder e muito pouco ou nada a ganhar.

CARLA (vira-se para Simone):
Como é possível?... Haja auto-controle da situação...

SIMONE (olhos nos olhos / pausa / clima):
É... Só eu sei.

Simone gira a cabeça/copo de Carla. Massageia, agora pela raiz dos cabelos, na base do pescoço - num carinho quase tortura... E repara o momento em que a toda a superfície da pele da amiga se eriça. Carla bem que tenta, mas não consegue sufocar um gemido - haja auto-controle...

SIMONE (redimida):
Aquele amigo do teu ex-sei-lá-o-quê, tai, até que fui com a cara dele...

CARLA:
Cuidado, hein? Não se esqueça de quem é o professor...

SIMONE (petulante):
Quem é o professor? (e como que se dando conta) Pobre rapaz. Péssimo aluno.

CARLA:
Por que?

SIMONE:
Porque ele é o oposto do outro! Tipo romântico, tipo sincero, tipo carente. Talvez seja o charme dele... Pra quem gosta... prato cheio.

Carla vira-se novamente e, dessa vez, os narizes das duas tocam-se levemente. Mantém-se assim. As duas. Por fração de segundos. E nessa fração, é provável, Simone chega a se iludir de que Carla também cogite um plano B. Mesmo que mais pra frente.

CARLA:
Ôpa! (ri, afasta o rosto, mas continua a encarar a amiga) Você não gosta? (volta-se pro mar) Agarra logo esse homem, Simone. Tá esperando o quê?...

Deste feita Simone gira aquele co®po de liquidificador para poder encarar firme a amiga nos olhos e dizer tudo que tem vontade de dizer. Mas...

SIMONE:
Quê agarra homem, Carla?! (desvia o olhar) Quando é que essa dai vai se tocar?...

CARLA (olhos nos olhos, muito sonsa):
O quê essa daqui não se tocou, garota?

Incomodada, é a vez de Simone desviar o foco. Carla puxa o rosto de Simone para olharem-se nos olhos, mas sem convicção, make mais de troça... Simone empurra, carinhosamente, o rosto de Carla.

Silêncio. 119 minutos em 5 segundos...

SIMONE (irritada):
Carla, sabe porque você ficou de quatro pelo canalha do teu ex-sei-lá-das-quantas? Justamente porque ele é um canalha! Bem lá no fundo... Ou melhor, no raso mesmo!, você sabia disso e era isso que te excitava nele!... Aquela sensação gostosa de corda bamba! Pulgas e mais pulgas a pular atrás da orelha. Puxa! Será que você não saca?

CARLA (infantil, provocando e encarando):
Não. Não saco nada. Você ta errada. E falando igual um homem!

SIMONE (mas muito irritada):
Carla?!... Dá um tempo, vai!...

Mais 119 minutos em 2 segundos.

SIMONE:
Eu fico boba como você está completamente ceg...

CARLA:
Vamo dar um mergulho?

E Simone joga a escova sobre a canga com raiva. Antes de voltar a fitar a estreita linha que divide os tons azúl, Carla sorri novamente aquele sorriso, de ruim que ela é. As meninas se levantam. A caminho do mar, Carla dá a mão para Simone. Esta, num reflexo, quase tenta se desvencilhar, mas cede e as duas correm – um clássico! –, mãozinhas dadas, direto para as ondas.

Àquela altura, naquele céu de fim de festa, debruçado no horizonte, um sol rubro, desapontado, eu diria... Vai saber se o maior dos astros, que a todos ilumia, até Ele não lamentava? Se sim, revelou-se-me um autêntico voyeur.

E aí eu cantei: Eu sou o sol! Sou eu que brilho! Prá você, meu amor! Bis!

TÍTULO DEFINITIVO: “À MULHER, BASTA DESCOBRIR SUA IMPORTÂNCIA... EM QUAISQUER CIRCUNSTÂNCIAS!”

ps.: este texto (um tanto romanceado pra caber aqui) é uma cena, retirada do roteiro da minissérie Balcão Sentimental.

ps2. de última hora: é claro que isso de "homens assim, mulheres assado", ao menos aqui é uma brincadeira super saudável para estimular a sadia competição (quiça o debate), assim como cariocas provocam paulistas, holandeses os belgas e o Curintia cutuca o Parmera... No fundo, no fundo, a bem da verdade e na grande maioria das vezes, homem, mulher... a gente somos umas portas!

Eu sou o sol! Sou em que brilho! Prá você, meu amor! Diz, diz, diz, diz, diz, diz!

5 comentários:

  1. ... Só que aqui tudo acaba em samba. Não me basta mas é bom.

    Terra terra terra terra amor
    Eu sou o sol
    Sou eu que brilho
    Pra você meu amor
    Eu sou o sol
    Eu sou o astro rei
    A maravilha cósmica
    Que Deus fez
    Por isso eu lhe dou
    De presente
    Todo o meu calor
    Com muito amor
    E lhe dizer
    Que eu sou o sol
    Sou eu que brilho
    Pra você meu amor
    Não fique zangada quando eu esquento a lua
    Nos dias que ela fica minguada
    Pois ela dizendo que sente ciúmes de você
    Não quer se enfeitar nem aparecer
    Mas quando eu dou meu calor pra ela
    Ela fica nova cheia de vida e toda prosa
    Começa a brilhar e a aparecer e dizer:
    Que eu sou, eu sou o sol
    Eu sou o sol
    Sou eu que brilho
    Pra você meu amor
    Linda canção, né?

    Disse o blogueiro amigo de onde surrupiei essa letra: "Bom...eu já cai da cama para fazer essse texto
    Depois tenho mais o que fazer.
    E de coisa em coisa nosso dia vai se fazendo!
    Bjs..eu sou o SOL...eu sou o SOL...eu sou o SOL
    EU SOU O SOL
    SOU EU QUE BRILHO
    PRA VOCÊ MEU AMOR!"

    Comigo (e com o mundo) deve ser tbm + ou - assim. intão Carpe dien!

    ResponderExcluir
  2. O cabelo pingando água e o txt transbordando sensualidade, quase me afogo!

    ResponderExcluir
  3. Gabriela, não esqueça que essa postagem foi você que mo inspirou fazer. Foram as leituras de seus textos que me motivaram.

    O engraçado do teu comentário - talvez porque ainda esteja naquela Joatinga, preso àquela cena, - é que parece que você acaba de chegar da praia "O cabelo pingando".

    Tbm 'recomendandíssimo' pra você esse álbum acima postado do Isley Brothers. Esse não tem contra-indicação. Vá e veja.

    ResponderExcluir
  4. Eu ADOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOORO
    essa cena
    impossivel, é linda demais, além de super sexy, meldels, é sério, sou doida por essa cena.
    É uma das melhores de tudo hahaha ;xx


    ;***
    amo o serginhoooo! :D

    ResponderExcluir
  5. C, viu gotinha? Seu 'adooooro' literalmente não coube em si.
    Obrigado, viu?

    E eu vou fazer tudo pro roteiro chegar aí antes do teu aniversário.

    Os Correios que NÃO se atrevam a atrasar!

    Beijo! Tbm te adoro e sinto tua falta. Passou mais de 2 dias sem um papinho no skype e eu já fico preocupado, é mole?

    ResponderExcluir

Uma obra de arte é um ângulo apreciado
através de um temperamento.
(Emile Zola)