segunda-feira, 13 de outubro de 2008

UM BAITA NEGÃO DE SE ADMIRÁ


Monsueto Campos Meneses nasceu na Gávea, bairro hoje (quase) tão nobre quanto ele, - na época, o cucuruto da Zona Sul do Rio de Janeiro -, em 1924. Dali foi direto se instalar no morro do Pinto (complexo da favela da Providência, Centro) quando ficou órfão, ainda menino, para ser criado pelos avós. Mas descobriu muito cedo que o melhor lugar de se morar é na filosofia - de criar parcerias, cultivar boas amizades e fazer arte prá gente, como nós que somos sua cria, desfrutar deste Rio melhor que se avizinha... GABEIRA! Perdão, leitor... Onde eu estava mesmo?...: Seu primeiro grande sucesso em parceria com Airton Amorim, foi "Me deixa em paz", gravada em 1951 e que viria estourar como o maior hit do caranaval do ano seguinte (na voz de Linda Batista). Em 1954, Marlene gravou para o carnaval o samba "Mora na filosofia", com Arnaldo Passos, o libelo que ainda teve o mérito de criar a expressão "mora", no sentido de percebe, para o vocabulário popular carioca. Morou, meu irmão, a importância do negão? Esta música, aliás, havia substituído uma outra, "Couro do falecido", em show do Copacabana Palace, apresentado pela mesma Marlene, em virtude do suicídio de Getúlio Vargas, um pouco antes. Marlene ainda lançaria outros sambas do negão gente boa, "Canta, menina, canta" e "Na casa de corongondó", ambos parcerias com Arnaldo Passos. 1955 é o ano em que mr. MM, também conhecido pelo apelido de Comandante, grava seu primeiro disco, pelo selo pernambucano Mocambo, com os sambas "Nega Pompéia", de Estanislau Silva e Ferreira Gomes e "Q. G. do samba", parceria sua com Rossini Pacheco e Sebastião Nunes. Também em 1955, seu samba "Mora na filosofia"* foi escolhido por uma comissão julgadora reunida no Teatro João Caetano como uma das cinco melhores letras e melodias do carnaval daquele ano.

Em 1958, participou como cantor nos números musicais do filme "Na corda bamba", de Eurides Ramos e compôs músicas para outros "O cantor milionário" e "Quem roubou meu samba?", ambos de José Carlos Burle. Ao todo, teve participação em dez filmes brasileiros, três argentinos e um italiano. O negão
néra mole, não. No mesmo ano criou seu próprio grupo com o qual excursionou pelo Brasil e países da América, Europa e África.

Já para televisão é convidado em 1959, a participar do programa humorístico "Noites Cariocas", da TV Rio, um must da época. Fez muito sucesso com seu quadro, lançando gírias como: "castiga", "vô botá pra jambrá", "mora", "ziriguidum". Nesse ano, seus sambas "O bafo do gato" e "Comício no morro" foram lançados por Edgard Luiz na Polydor. Ao final da década de 1950, teve composições incluídas em musicais de Carlos Machado como "Copacabana de tal" e "Zelão Boca Rica".

Por volta de 1964, tentou sem sucesso criar um selo de gravações com seu nome. Aí já é muita ousadia do distinto
ritinto, querer peitar as gravadoras... Conseguiu lançar singelo compacto simples com ele mesmo interpretando os sambas "O sucesso está na cara", parceria com Linda Batista e "Larga o meu pé", com Aloísio França.

Lá pelo final da década de 60, 1968, Monsueto começa a ser redescoberto pelos grandes nomes da MPB. Maria Bethânia regravou "Mora na filosofia". Em 1971, Caetano também gravou "Mora na filosofia", em seu LP "Transa", exilado, lá em Londres. No ano seguinte, Milton Nascimento gravou "Me deixa em paz", em seu "Clube da Esquina" ao lado de Alaíde Costa.

Nessa época, Monsueto passou a se interessar por pintura e acabou tornando-se profissional, sendo premiado com uma medalha de bronze no Salão Nacional de Belas-Artes do Rio de Janeiro, corria o ano de 1972. Seu quadro mais conhecido é uma Santa Ceia em que Jesus e seus apóstolos são negros. Onde o negão
punhava a mão se destacava.

Sem nunca oficialmente estar ligado às escolas de samba, passou por várias delas, a última em que foi visto, foi a Unidos Vila Isabel. Em 1973, quando participava na Bahia das filmagem do filme "O Forte", de Olney São Paulo, passou mal, foi hospitalizado e veio a falecer, em decorrência de um câncer no fígado. Nesse ano, Caetano Veloso regravou "Eu quero essa mulher assim mesmo", em seu LP ”Araçá Azul” com um arranjo de rock, popularizando ainda mais o compositor entre os jovens. Na mesma época, pot-pourris com composições suas foram gravados por Martinho da Vila e MPB-4. Na década de 1990, teve o samba "Lamento da lavadeira" regravado pela cantora Marisa Monte.


Em maio de 2002, foi um dos grandes homenageados no show "Marleníssima", estrelado pela cantora Marlene no Teatro Rival-BR, escrito e dirigido por Ricardo Cravo Albin, (de quem subtraí boa parte dessa biografia) quando, em cena, eram lembrados e cantados um a um os grandes sucessos do baita negão, imortalizados por ela, tais como "Aperta o cinto", "Lamento da lavadeira" e "Fogo na marmita", este um forte libelo social com versos que diziam: "Todo dia ele acorda pro trabalho / Levando a marmita na mão." Em 2004, recebeu homenagem especial durante a entrega do Prêmio Rival BR de música, dedicado a ele, o grande, em estatura e personalidade, Monsueto Campos Menezes. Na ocasião, além de cantadas músicas de sua lavra, foram e exibidos trechos de filmes nos quais atuou.


Pois é, marinheiro, capitão ou imediato, se por aqui aportou e tem o mínimo de curiosidade, já descobriu que cada link postado te dá direiro a desfrutar do álbum mencionado. A pérola recém descoberta pela casa, a que inspirou toda a postagem, não poderia ter nome mais apropriado: "Baita Negão”. O último disco de Virgínia Rosa. Sobre este álbum você encontra texto especial neste link


Virginia Rosa (Baita Negao) 2008


Em tempo, não achei ainda a capa com imagem em tamanho decente para este disco de Virginia Rosa. *"Mora na Filosofia" (único álbum de Monsueto, por ele mesmo) foi retirada do Sacundinbenblog, onde se encontra, além de outras curiosidades sobre o artista, mais um álbum coletânea e raridades afins. E aqui, Lamento da Lavadeira, a faixa 9 do Mora na Filosofia, que segundo o dono do Sacundin... ele não consegui recuperar.

Façam bom proveito.

12 comentários:

  1. ziriguidum ziriguidum


    hehehehe

    Esse era um nome de um boteco-teco perto de BH q íamos, me fez lembrar...


    Sérgio, mamis me fala sempre do Monsueto...putz, quando ela chegar de viagem vai adorar ouvir!

    Muito bom!

    beijocas

    ResponderExcluir
  2. Essa me fez lembrar papai: "1º conquiste a sua sogra que todo o resto acontece".

    ResponderExcluir
  3. Ê Serjão!!, hahahah...

    Minha casa nunca foi mt musical, eu e minha irmã temos q 'cortar um dobrado', pq, thank God, a gente 'deu pra coisa' mesmo s/ influências paternas.

    Am... Adorava o outro desenho, mas este tah mais 'limpo', mais 'direto' e mais leve!!! O outro demoraaavaaa a carregar...


    O negão faz música e pinta? E deve fazer os dois c/ competência, neh?!

    Vou conferir (pelo menos o som, que tah aqui 'de bandeja', hah!).

    Bj

    ResponderExcluir
  4. Gabi Galvã, o negão fazia música, pintava, atuava e só não bordava pq na época pegava mal. Não sei se é o seu estilo, pois é samba de raiz, mas que o cara era bambambã isso ele era.

    ResponderExcluir
  5. Negão q bordava era o Madame Satã.Se falasse isso na cara do criolo era risco de navalhada na jugular enquanto o corpo escorria no golpe do rabo de arraia da capoeira.Monsueto é tudo de bom.Política é o inverso disso.Edú.

    ResponderExcluir
  6. Tinha a ver com política sim, seu Edu. E se vivo estivesse, votaria no Gabeira.

    Aliás me perdoem, navegantes em geral, essa fase "cabo eleitoral" minha. Mas é o que eu disse no texto abaixo: sou um fanático pela mudança e estou sentindo grandes possibilidades disso acontecer então, estou na minha luta pessoa.

    ResponderExcluir
  7. Prezado Sérgio,jamais abdique desse entusiasmo e esperança.O q séria do mundo sem os sonhadores.Provavelmente mais sombrio e tenebroso.Edú.

    ResponderExcluir
  8. Que bom, Sérgio, relembrar Monsueto por aqui...as músicas são ótimas e lembro bem de muitas cantadas por Marlene, não fosse eu uma internauta véia! Ziriguidum faz lembrar do Sargenteli, pensava até que era criação dêle... O novo desenho está mais "calmo", estranhei quando abriu a pág., mas o conteúdo continua ótimo!

    ResponderExcluir
  9. Ziriguidum tbm pra mim era do repertório do Sargenteli, Internauta. É o que sempre digo, parafraseando o cinéfilo, vinvenders e aprendenders.. Bom te ver por aqui.
    Valeu a visita.

    ResponderExcluir
  10. Valeu pelo toque Sergião, mas essa faixa que vc me mandou tem no álbum que postei, a faixa que creio faltar é uma semelhante ao "Solo De Bateria e Percussão" que tem lá, só que com sapateado, vai saber rsrsrs

    Valeu a atenção, a busca continua rsrsrs

    Abração se cuida até...


    Marcel Cruz


    Ps* (Gostei do seu novo templete, bem mais legal e original)

    ResponderExcluir
  11. SERgio:

    voltei pra reler tudim sobre o Monsueto,um cara do fino puro samba.

    Tenho umas coisinhas dele e faço questão de mandar uma veizincando no nosso programa semanal da
    104.7,Universitária FM, o "Club e da Boa Música".

    Tô preparando um especial sobre ele e vou me permitir "psicogarfar" algumas informações suas, dando-lhe naturalmento os créditos e ao seu blog bambambam.
    Samba maravilha, a música do Monsueto. Abraço do Oleari.

    ResponderExcluir

Uma obra de arte é um ângulo apreciado
através de um temperamento.
(Emile Zola)