quarta-feira, 15 de abril de 2009

OS 'ALEMÃO' SÃO OS CARA!


Vejam o que é uma tara. Nem Gentle Giant, a eterna paixão, mereceu tamanha honraria aqui, quanto esses alemão aloprados. Muito simples: já aconteceu do leitor procurar durante séculos um álbum/música que marcou-lhe a vida (no caso adolescência) e você, mesmo com tamanha fartura na Rede, nunca mais conseguiu encontrar? Coisa mais comum do mundo pra gente que é louco por música, certo? Então a tal tara geradora desta compilação dupla de duas partes, fica explicada no texto que escorre aí pra baixo.

O Amon Düül nasceu em 1967 como um grupo radical de arte engajada, em Munique. A marca vem da junção dos nomes do deus egípsio Amon com o de um personagem obscuro da ficção turca, Düül.

A sonoridade da banda não demorou muito a cruzar as fronteiras da Alemanha e ganhar, na Europa, o status de banda cult - numa época em que ainda inesistia a expressão krautrock*. Mas, nos primórdios, a banda ou o bando, era uma espécie de “democracia corintiana”, pela liberdade em relação à improvisações geralmente inspiradas em acontecimentos e manifestos do movimento juvenil politizado da época. Internamente, o grupo estimulava a incondicional liberdade artística, valorizando mais entusiasmo e atitude do que a habilidade com os instrumentos - e dizem que foram os punks que inventaram o DIY... Nos primeiros anos a banda era bem receptiva à entrada de novos membros, quem chegasse era bem chegado - o video do linkmake uma idéia da atmosfera. Daí que nesse clima de fraternidade irrestrita, iniciativas como "deixa que eu toco" soavam tipo mantra na garagem dos Düül. Mas apesar do espírito de comunidade, havia uma facção rebelde mais ambiciosa musicalmente, valorizam mais a técnica, o que levou o grupo a uma separação amigável em meados de 1969. Fazendo com que a facção dos exigentes se tornasse o Amon Düül II (diz-se second), enquanto o pequeno exército de Brancaleone original, permaneceu Amon Düül .

No entanto, o disco mais importante, na opinião (sentimental) deste que vos fala, é do Amon Duul só mesmo - ainda como um bando. E chama-se “Para Dieswärts Düül”. Este Especial Amon Duul postado, deve-se ao finalmente realizado encontro deste fã, com o raro espécime da familia. Disquin danado de difícil que eu buscava há mais de 6 anos. Como a coisa (“Para Dieswärts Düül”), no cômputo geral, é uma podrera riponga totalmente amadora, emaconhada, lisergizada e prostituída - experimente pronunciar o nome do álbum depois de um gole de cerveja, por exemplo - e como, também, valor sentimental é coisa pessoal intransferível, Poupei a navegança. Separei apenas a música que martelou na minha cabeça durante anos: Love is Peace, que vem a ser a 1ª faixa da parte 2 do "Amon Duul (Underground Compilation Second)" - compilação caseira "Reco-records" total!

Mas tanto parte 1 como 2, claro, foi tudo feito com o maior zelo! Pode acreditar. Porque compilação? Porque não creio que a banda, ou melhor, os novatos ouvites dela, suportem um álbum inteiro dos caras. Nem eu q me disse fã confesso, conheço obra fechada deles, excelente de cabo a rabo. Mas como há, sim, e em profusão, excelentes musicas, - principalmente nos 5/6 primeiros anos de Amon Düül Second, resolvi que compilar era a melhor solução de apresentar o som para os não iniciados. Depois da experience, quem amar o que ouviu, não faltará blog onde encontrar a discografia ou uma parte dela. Amon Düül é ou foi, no auge dos 70s, tão conhecido como hoje é o Kraftwerk.

Voltando aqui ao que me trouxe, a quem interessar possa: inicie-se pelo "Second" que vem a ser a compilação das melhores compilações + 6 faixas do mais badalado concerto da banda.

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Na compilation "Second", Cinco faixas do "Live in London"...:


Registrado durante a primeira turnê inglesa, Amon Düül II Live in London foi gravado no Greyhound club, em Croydon, em 16 de dezembro de 1972, com a banda ainda divulgando a música de “Yeti” e “Tanz der Lemminge” para uma platéia em delírio. A música ainda era espacial, viajante, elaborada, complexa, mas com uma sonoridade arrebatadora, a banda tocando com energia de sobra. A autoexplicativa “Improvisations” é de arrepiar, como também as versões para o balance pesado de “Eye shaking king” (com direito ao solo arrepiante da guitarra de Karrer). As versões concisas de “Archangels Thunderbird” e “Restless skylight” roubam a atenção e apresentam o poder de fogo da dupla Knaup e Lothar Meid dividindo os vocais. O medley final com “Riding on a cloud” e “Paralyzed paradise” já valeria o disco, com mais solos e solos de guitarras de arrasar quarteirão. Um álbum sensacional, que seria lançado na Alemanha mais de um ano depois.

Logo depois do lançamento de “Vive la Trance**”, “Live in London” e “Made in Germany” a banda mergulharia cada vez mais no abismo do comercial, até quase perder a identidade, na busca do sucesso absoluto. O resultado foi a perda gradativa dos fãs e o esquecimento da crítica, o que provocou a saída de John Weinzierl em 1981 e a eventual dissolução do Amon Dull II. O conjunto reapareceria nos anos 90, mas sem maior impacto. Weinzierl mantém a sua própria versão da banda (a Amon Duul UK) e há muito corre um boato da possibilidade dos integrantes originais se reunirem novamente. Faz isso não, por Deus, Amon...


* O termo Krautrock foi criado pelo DJ inglês John Peel, quando ele se deparou com o álbum Psychedelic Underground (1969), da banda Amon Düül, de Munique. A música era "Mama Düül und Ihre Sauerkrautband spielt auf" (Mamãe Düül e sua banda chucrute tocam).


** Clipe colhido de última hora.


Amon Duul (Underground Compilation)

Amon Duul (Underground Compilation Second)

9 comentários:

  1. Ô, Lou, valeu! Tbm fui lá em sua casa, gostei do q vi, viu? Frequantêmo-nos.
    Bjos.

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  2. vâmo lá! recordar é viver... rsrs
    tô baixando =)
    a faixa lisérgica de 17 minutos já ouvi e gostei, também pudera, meu passado me condena...
    beijo Serjão

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  3. E ai Sergião,
    ainda não baixei não.
    mas pra vc dar uma olhada na Nina Simone, pegue o 1958 Little Girl Blue e o 1965 I Put a Spell on You.
    Só pra se deleitar.
    abs

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  4. Eses aí eu desconheço. Vou baixar e conferir. Abrax!

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  5. Por favor, opinem. Não só vc, SS, mas os que baixarem. Tou cuiriosíssimo pra saber a reação da galera em relação a essa banda.

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  6. Amon Dull é muito bom e ainda irá virar um texto no site.

    Mas eu ainda considero o Can a melhor banda alemã de todos os tempos, superior ao Kraftwerk, embora sem 1/20 da fama deles.

    Sem o Can boa parte do pos-punk inglês não estaria por aí, passando por PiL, Cabaret Voltaire e até chegar ao Primal Scream.

    Até The Edge (U2) fez um disco em colaboração com Jah Wobble (PiL) e Holger Czukay (Can).

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  7. Eu acho que Can, Neu! e Faust, Rubão, são as maiores influências de tudo que se faz e chama de novo no rock, hoje em dia. Os exemplos que me vem são Tortoise, Yo La Tengo, The American Set Analog, Slint (v bem: acho q todas as supracitadas, americanas), enfim, uma infinidade de bandas de todas as partes. Acho que o kraut não ficou datado.

    E o Amon Duul começou nessa vibe, mas depois que virou "second" pscodelizou mais a sua música, encorporou influências britânicas, sem jamais esquecer as próprias raízes, fazendo do som da banda um dos mais originais daquela época. As vzs penso até que os Amon Duul tem um Q de Mutantes e vice versa.

    Valeu a visita.

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  8. Eu concordo contigo, Sérgio. Adoro Faust e Neu!, mas o Can segue sendo o maior de todos na minha modesta opinião.

    Mas é tudo gente boa.

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Uma obra de arte é um ângulo apreciado
através de um temperamento.
(Emile Zola)