domingo, 28 de junho de 2009

The Ray Draper Quintet Feat. John Coltrane [1957]




A Tuba na história do jazz não teve a mesma atenção e muito menos o mesmo espaço que outros instrumentos como o trombone e o trompete. Porém podemos destacar alguns bons músicos que colocaram esse instrumento no "mapa" do jazz, por assim dizer. "Ray Draper" é um desses tubistas que tiveram o prestígio de gravar com grandes nomes do jazz e da música: começou a tocar com grandes músicos muito cedo; as suas grandes aparições podem ser confirmadas junto à banda de Jackie McLean no disco Jackie McLean & Co. e Deeds, Not Words de Max Roach (1954), quando tinha apenas 16 anos. Posteriormente, "Draper" gravaria outros discos como o Tuba Sounds com a colaboração de grandes músicos e colaboraria com outros grandes nomes do Jazz como Donald Byrd, Don Cherry dentre outros. Este disco aqui postado traz o tubista com 19 anos já com um grande prestígio como solista e compositor. Este é o segundo disco para o selo Prestige (o mesmo de Miles na época) e traz solos bem entusiasmados da tuba de "Draper" e do sax tenor de "John Coltrane". As primeiras três composições são de Ray Draper; a faixa nº 4 é uma composição de Sonny Rollins e a ultima faixa é de Ray Noble. Faixas: 1- Clifford's Kappa, 2 - Filidia, 3 - Two Sons , 4 - Paul's Pal, 5 - Under Paris Skies, 6 - I Hadn't Anyone 'Til You.
Músicos: Ray Draper - tuba, John Coltrane – sax tenor, Gil Coggins – piano, Spanky de Brest – bass e Larry Ritchie – drums.
Texto retirado do Blog: MPB JAZZ

Outras considerações sobre gente, arredores, espuma na superfícies e música, com alguma profundidade.

Não é uma boa prosa. Arrecadadora de empatias não será, com certeza. Mas como é possível ser indiferente ao jazz?! Eu fico pasmo, pq, nascido e criado no meio de beatles, hendrixs e rollingstones, chega uma hora em q a gente cresce, carái! Em fase de crescimento, carece-se de uma dieta mais balanceada, menos junk. Não precisa vestir terno e chamar os outros de mister isso e aquilo. Só precisa começar a ouvir. E, óbvio, não precisa abandonar nossas raízes. Mas péra, pára e pensa! Dá um tempo de guitarras, meu! O dia todo nheco-nheco é phoda, também! Essa turma do serrote rock, rock... Quando termina essa obra? Eu? Nada contra, muito ao contrário. Mas, assim como aquele povo da Lapa, q na verdade veio da Zona Sul do Rio, louco pra montar uma escola de samba formada no Baixo Neverland (projeto sério de burguês em mesa de bar) e desfilar na sapecaí um samba cinema novo feliniano e a escola vai chamar Mocidade Dependente dos Encanudados da Puc... Unidos do Rio Fashion Week, sei lá. Péra lá mil vezes! Claro que tem os reais apaixonados no samba. Mas os agregados são muitos. E muito pouco sinceros. Assim como um mergulhador depois de um aprofundamento arriscado recorre urgente a câmara de descompressão, esses agregados de que falo, quando voltam cansados do pagode, entocados para que ninguém os ouça, enfiam um Headphone na cabeça e absorvem overdoses de Led Zeppelin - isso porque estou pegando leve, é Led pra não dizer Coldplay ou Madonna. Claro, porque se só samba à noite toda, cansa, todo dia, todas às noites, cansa mais que 3 elafantes. É como o sedentário no 1º dia de acadimia. Vai ver como ele sai prejudicado na 1ª sessão. E esses, os sambistas da Puc, são os que mais me irritam. Mais do que os roqueiros radicais. Porque sua paixão é falsa, é meio fashioner a parada, não tá no sangue, tá na cara! A coisa tem muito mais a ver com ver e ser visto casual mais rústico do que ter o samba no pé. Tá arriscado até a tomar uma cachacinha com feijão amigo. Amigo do vaso. Corre pro banheiro que isso é uma bomba calórica! "Éca!, que banheiro tosco". Repare que a pessoa está lá reclamando e vomitando.

Mas todos... ah, nisso há quase um consenso!, todos respeitam e amam o jazz. O Miles é foda, o Coltrane um gênio, Duke Ellington um clássico e tal... O tal, tal quem mesmo? Adoram a Nina Simone! Que é mais cool que a Ella. Mas ouvem? Porra nenhuma, cumpadi! Fale de Cedar Walton, pra citar o 1º nome q me veio now, e vê o que acontece. “Porque sedar Walton? O que ele tem afinal?”

Mas de samba o cara da Puc entende. De repente um verão e são todos sambistas de terreiro, conheceram em tempo recorde todo pessoal das comunidades, as velhas guardas, estão em todas as rodas de samba... Enfim, antes que comece a mal dizê-los mais do que já maldisse... Amiguinho leitor, me irrita tanto aquele que só escuta rock, quanto aquele que só escuta samba e aquele que só escuta hip-hop, MPB ou “só” qualquer coisa. Quando o abjeto de devoção vira febre me distancio do contágio. E com todo o direito que a ranzizice do adiantado da idade me confere, dano-me a me irritar e a falar mal. Conseqüência disso: cismo com o pobre do estilo, que nada tem a ver com os fãs e paro de escutar. Parto pra outra(o).

Já o jazz... porque ando só ouvidos para ele? Em princípio, a maneira de me rebelar contra o rock que encontrei. Pura picuinha: e já que todo mundo diz que o jazz é phoda, mesmo sem escutar - inclusive eu! - vamos ouver pra crer de verdade. E aí... Ó, quão inesgotável é a sua variedade de abordagens! Ó, com quantos instrumentos se pode fazer um bom álbum de jazz... Mas, principalmente: ó como os reais e, em geral, todos os pseudos intelectuais, amam o Miles, o Coltrane, o Ellington e a Ella...! No fundo só os conhece de orelhada. Vão e ouçam, carái! Foi o que fiz. Fui e ouvi. E depois ouçam também os demais, porque é aí que a coisa pode fugir do controle. São muitos e fantásticos os demais.

O álbum aqui postado é um dos primeiros discos da minha fase “mergulhando em grandes profundidades
[só] e na apnéia”. Posso dizer, orgulhoso: apesar da indisfarçável memória de peixe - também posso estar no grupo que não entende o porque de sedar o pobre do Walton -, acho que adiquiri por direitro, o direito de viver no meio, ganhei guelras, até. Posso, e mais, sou capaz perfeitamente de morrer feliz por aqui.

A atração do momento diz muito sobre o texto acima, um álbum de tubista... Quando me imaginaria ouvindo - e amando! - algo tão exótico, tuba?!, 5 anos passados? Uma boa prova do que seria (quase) um exagero de mergulho nas mais profundas do jazz. Nem acho um exagero mais. Claro que não. E quem ouvir entenderá. Se não fizer roqueiros e puc-sambistas, começarem a prestar mais atenção ao que há em volta, noutras órbitas agora mais próximas do que nunca, que voltem correndo pras suas guitarras, seus tamborins e headphones oxigenados de stones e madonnas.

Ah, claro! Quem vestiu a carapucça... existe essa tchurma?... Cada um no seu quadrado. A vida vem em ondas, diria Vinícius - não o Motta, nada contra o Motta, mas o de Moraes disse primeiro. E acá surfa-se e entuba-se em cíclos.


THE RAY DRAPER QUINTET FEATURING JOHN COLTRANE - 1957

Esta postagem, o álbum, não o texto, é dedicado ao grande Érico Cordeiro! Esse sabe tudo. Érico, é mais ou menos essa a idéia, adequar o seu refinamento à cachaça envelhecida em tóneis de ignorância minha e tentar tirar desse improvável mix, um coquetel meio samba do criolo doido que seja, mas que finalmente faça a cabeça da rapeize - se é que vc me entende.

10 comentários:

  1. Caríssimo Sônico, obrigado pela dedicatória. Fico emocionado, embora reconheça que você exagera bastante (eu sou só um curioso que de vez em quando também resolve dar uns pitacos).
    E, embora nos últimos cinco ou seis anos eu tenha me dedicado mais a ouvir jazz, não deixo de ouvir os meus Stones, Leds, Beatles, Dylans, Chicos, Caetanos, Miltons, Elis, Hendrix, etc. (embora não o faça com a intensidade de outrora).
    É que, como você disse, o mundo do jazz é tão rico, tão cheio de alternativas, que você fica louco prá conhecer mais e mais coisas.
    Acho que a diversidade é o segredo para que a música não se banalize e nem se torne uma coisa elitista, preconceituosa. Sem radicalismos, mas com qualidade, fugindo do óbvio (que não me emociona nem um pouco), do rasteiro, do banal.
    Quanto ao Draper, essa é uma grande dica - aindda mais com Coltrane. A tuba, nos primórdios do jazz, fazia o papel que hoje cabe ao baixo: compunha a sessão rítmica.
    Depois perdeu espaço, mas esse disco do Roach (Deeds, Not Words) é muito legal.
    Não conhecia esse do Draper (só tenho coisas dele como sideman), mas vou ouvi-lo com toda atenção.
    Um fraterno abraço e valeu mesmo!!!!!

    ResponderExcluir
  2. Poxa, Édrico, tbm escuto de tudo, imagine q um amigo de mesa de bar sabendo desse meu hobby musical me encomendou "pelo amor de deus" um disco do Cauby q ele nunca mais encontrou e eu baixei pra ele e ouvi e disse: sabe q não é nada mau? Enfim, no fim das contas o jazz + todo este acesso a todos os estilos, aniquilou com o meu ranso. Outro dia tbm, encontrei algo interessantíssimo, olha só q desapego!, uma dupla sertaneja de 1972, os caras inspiravam-se ate em Edgar Allan Poe! rs. E a dupla chama(va)-se, que barato!, Conde & Drácula. Ado-rei! Então aqui não tem esse papo de só ficar num estilo. Aqui ouve-se primeiro pra depois julgar. Embora toda a discografia do Michael Jackson se encontre com dois cliques na rede, para homenageá-lo, encontrei um Jakko bossa nova, afinal ele deixou algumas dívidaszinhas... Mas, como negar que Michael Jackson foi importante pra mim, fez parte da minha adolescência e que curti muito, também os Jackson 5? E que privilegiado eu sou! Na minha época, boy band era Jackson 5 e não os Mnudos, N Sync ou New Kids On The Bloc. Sou dos 70. Sou um mutante, uma metamorfose ambulante... Vamos valorizar isso aí.

    A dedicatória foi merecida. Tenho aprendido muito com vc. E, que bom q não conheces este Draper, no texto, nem tive oportunidade de dizer o quanto amei esse disco. Vais deliciar-se com o presente, com certeza.
    Abraços!

    ResponderExcluir
  3. Parabéns, Sergio, este seu texto está muito bom; e a dedicatória ao Érico, mais do que justa e merecida.
    Pois é, o universo jazzístico nos oferece uma gama tão grande de estilos, formações, músicos, instrumentos e alternativas que a gente não dá conta de conhecer tudo; e ainda sobrar tempo pra outras coisas...

    ps.: a sua "imagem" ficou bem legal; mas tá me lembrando um pouco o Aldir Blanc. rs

    ResponderExcluir
  4. Uma das coisas q me inspirou o texto foi essa imagem, Olney. É a imagem símbolo de uma banda progressiva muito chique. E um cara que gosta de Gentle Giant (a tal banda) tem obrigação de ouvir muito jazz! Eu nunca tive preconceito algum com jazz, diga-se de passagem, graças a sei lá o q - q nem foi a criação, meus pais nunca ligaram muito pra música - sempre fui de curtir qualquer estilo. Mas já ouvi uma gama de rock suficiente pra saber q dificilmente um artista novo ou um antigo q'eu não conheça, venha a me surpreende mais do q os velhinhos e mocíssimos do jazz q venho encontrando. Então o texto tbm é um puxão de orelha nos blogueiros só de rock. Eles sabem tudo de música, mas a minha impressão é de q seu gosto por jazz é só gogó. E quando postam alguma coisa do gênero, geralmente é fusion e a guitarra tá lá gritando. Então foi por aí a idéia dessa postagem.

    Já os sambistas da puc... Putz... Enquanto alguém tá vomitando o fejão amigo no banheiro, estarei no outro compartimento ao lado, fazendo, em reverência, imagina o q.

    Abraços!

    Pô cara, lembrei de vc ainda agorinha! E a lembrança, ora veja, não é q tem a ver com o rock?

    ResponderExcluir
  5. Ñ sei como esse povo dah conta d ouvir a msma coisa. Me soa tão autofágico q dah vontade de dizer q eh!, e ñ soh q me soa.

    Pior ainda qd se trata d músicos.

    Acho q a criatividade e a técnica são altamente prejudicadas com isso.


    Outra: um sujeito ouve soh rock, soh rock, soh rock.
    Um outro diz q o q curte sobretudo eh rock, mas ouve mais trem.

    O segundo tem mais da minha cedibilidade.


    Bisous!

    ResponderExcluir
  6. Gabi, não tem gosto por música quem só ouve um estilo. O q essa pessoa tem é cacoete.

    Bejo me liga!

    ResponderExcluir
  7. Aí Sergio, acabo de conhecer seu blog e achei muito interessante! Concordei com uma série de coisas que vc desabafou neste post (um tanto já passado né, rsrs).
    Na verdade acho que tem pessoas que realmente entendem a música como uma expressão de arte e esses sempre buscam novas possibilidades e experiências na apreciação desta arte.
    Pra outros, a maioria, a música não passa de um fundo musical ou uma trilha sonora que compõe suas cenas cotidianas. Eles ouvem música, adoram música, mas não escutam nada.
    Enfim, só para fazer a salada, esse jazz dos anos 50, feito por garotos de uns 20 anos de idade, cheios de gas e testosterona, para mim é puro roquemroll!!!
    Estou bem interessado em conhecer este disco, mas o link já não funciona, se você puder botar ele "no ar"... te agradeço muito.
    Prazer em conhecer.
    Abrç.

    Zezo Maltez
    zezomaltez@yahoo.com.br
    Ilhéus-BA

    ResponderExcluir
  8. Meu caro Zezo Maltez, acho q essa é a sua estreia aqui. E buscou logo um álbum que conta com a minha máxima simpatia.

    E gentileza -de suas palavras-, gera gentileza. O link está novo. Espero q aprecies tanto quanto eu esse álbum do tubista, inda mais com o auxílio luxuoso do São João Coltrane, acho q não tem xabu pra dar.

    Please, volte sempre e continue comentando.

    Abraços!

    ResponderExcluir
  9. Cara, esse disco é bastante agradavel de ouvir!

    Parece que as composições são de Coltrane?

    Interessante perceber as características de cada instrumento. No caso da tuba, não proporciona que o músico toque notas muito longas ou muito rápidas, com a exuberância do sax, mas tem um timbre super diferenciado, muito grave, com aquele toque de "overdrive". Sempre há possibilidades para fugir do convencional né.
    O pianista é muito bom tb. Coltrane em 57... sem comentários.

    Obrigado pela postagem. Vou continuar passando por aqui.

    "Aquele abraço"!

    Zezo Maltez

    ResponderExcluir
  10. Zezo, tuas palavras me inspiraram a reouvir o álbum.

    Valeu a visita. Mantenha-se visitando e opinando.

    Abraço!

    ResponderExcluir

Uma obra de arte é um ângulo apreciado
através de um temperamento.
(Emile Zola)