quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Amina Figarova (Above the Clouds) 2008


Aos que teimam em inferiorizar a capacidade e desempenho feminino comparado-os com o dos homens, com o argumento de que de intérpretes (instrumentistas) exige-se preparo físico maior - campo em que homens naturalmente são mais bem dotados -, eu pergunto: e a sensibilidade? Então sensibilidade se encaixa numa categoria inferior no momento da criação?




Ao mesmo tempo, também não dá para negar quando, no meu caso particular, me surpreendo quando me deparo com mulheres se destacando nesse mundo machista, da forma como essa pianista se destaca. Porque o espanto? Já não me convenci de que temos capacidades iguais? Então porque - mais ainda - me espantaria com o que seria menos espantoso às mulheres, um talento para composição que transcende até a condição humana, independente do gênero? Porque?

Simples, cara pálida inapto, sendo macho ou fêmea, criações deste nível de sofisticação, surpreendem-nos naturalmente. E no fim das contas não é esta a função da arte? Alimentar a alma pela corrente sanguínea da gente, diretamente ao cérebro e ao coração, não necessariamente nesta ordem, mas, em regra, antes de ir se infiltrar
no aparelho digestivo?

... Se bem que alguns são tocados pela arte como um soco no estômago. Anfã... Como desejar, que seja.



Texto de apresentação:


Em “On September Suite - 2005” (primeiro álbum), a inspiração de Amina Figarova foi um dos maiores eventos que esta geração conheceu – os ataques do dia 11 de Setembro – e suas conseqüências psicológicas. Em “Above the Clouds”, que tem um tema menor e mais alegre, Figarova outra vez escolhe um meio multi-colorido para ilustrar sua visão. Isto é bom porque, de muitas maneiras, “Clouds” é a antítese de Setembro.

Muito da fundação emocional de “Clouds” vem das palavras da mãe de Figarova: "Se você não está se sentindo bem ou você está triste, apenas toque piano ou dance, e você se sentirá muito melhor." Enquanto o ouvinte não pode tocar piano (e não poderia fazê-lo tão brilhantemente como Figarova), ele ou ela pode dançar em muitos instantes de “Clouds”. Com a faixa título, a dança ocorre no ar, graças à inspiração que Figarova recebeu em um vôo ouvindo o enaltecido disco “Sky Blue (ArtistShare, 2007)” de Maria Schneider.

""A" Dance" suinga bem com o trompete e saxofone tenor conduzindo a melodia, enquanto Bart Platteau , imaginitivamente, soa sua flauta ao redor deles. Quando Figarova sola, seu som é como um scat de uma vocalista com uma poderosa voz que pode alcançar a linha de frente a cada movimento. A banda galvaniza a interação, não permitindo que esta enfraqueça, mesmo quando a peça entra em movimento lento de uma valsa. Seu exemplar senso de determinação é salientado no staccato "Sharp Corners" onde a seção rítmica embasada no bebop mantém a música em uma direção constante, enquanto a colore e ilumina.

Na faixa título, o solo de Figarova evoca uma bailarina dançando sob um refletor, e uma bailarina nunca perde o senso de delicadeza, mesmo quando a dança se torna mais dramática. "Summer Rain" oferece o mesmo efeito, embora a moderna composição não desgarre da sutil intenção inicial. Figarova, realmente, distribui energia em "Nico's Dream" (composta pelo trompetista Nico Schepers), mas o dueto de abertura com Schepers dá à canção um sentimento lastimoso, que poderia invocar a qualquer um lembranças do que foi amado e perdido.

Tão surpreendentes quanto as composições de Figarova podem ser, é sua linha de frente que lhe dá a profundidade e a cor que necessita para completar sua visão. Platteau executa linhas idílicas na faixa título, e traz um ar nativo americano em "River of Mountains (Muhheakunnuk)", uma das duas faixas que pressagia a chegada de Figarova ao projeto de exploração de Henry Hudson. Aquelas faixas têm a participação adicional do sax alto e do trombone ao regular sexteto de Figarova, dando mais pegada à mini-suíte. Sem eles, o poder de “Clouds” viria de Schepers e Ernie Hammes. A fluidez de Kurt van Herck no sax tenor é apropriada em "Rain".

Aqueles que amam “September “, mas não podem manipular sua dramaticidade , saudará a disposição festiva de “Clouds”. Isto não significa que os novos conhecedores de Figarova deveriam ficar longe de “September”, porém “ Above the Clouds” é uma primorosa introdução a uma compositora que pode realizar tudo magnificentemente, se o objeto é feliz ou “pesado”.

Faixas: “A” Dance; Ernie’s Song; Above the Clouds; Sharp Corners; Bedtime Story; Nico’s Dream; Summer Rain; Sailing through the Icy Waters; River of Mountains (Muhheakunnuk); Blue Wonder; Chicago Split; Reminiscing.

Músicos: Amina Figarova: piano; Bart Platteau: flautas; Ernie Hammes: trompete; Nico Schepers: trompete; Kurt van Herck: saxofone tenor; Jeroen Vierdag: baixo; Chris “Buckshot” Strick: bateria; Tineke Postma: saxofone alto (8, 9); Louk Boudestein: trombone (8, 9).

Fonte: All About Jazz / J Hunter

Amina Figarova (Above the Clouds) 2008

8 comentários:

  1. Mr. Seu Sérgio, O San,
    E quer dizer que a moça ainda toca?
    Nem precisava!!!!
    Brincadeiras à parte, acho que essa história de que mulher não sabe tocar jazz é a maior roubada.
    E a Amina é mais uma (embora ainda não tenha ouvido seu trabalho)!
    Mas pela estampa e pelos elogios, vale a pena dar uma checada!!!
    Abração.

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  2. Seu Érico, a mulher é um gênio!

    Pena q não consegui postar um 2º vídeo - não q o q está postado seja ruim, muito ao contrário - mas acredito q o som mais melancólico dele seja do tal álbum dedicado ao 11 de setembro citado no texto. Mas quem for no Youtube e assistir as demais opções vão ter uma avaliação mais completa do trabalho de Amina. Isso, claro, no caso dos q ainda não estão convencidos e não partiram logo por baixar o Above the Clouds aqui...

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  3. Ô¬Ô
    Estou pegando a sua Amina, vou dar uma provadinha e depois digo o q achei. Muito obrigado por compartilhar a sua Amina comigo, vc é um amigão!!!

    Essa foi boa também! rsss

    Abração

    Ô¬Ô

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  4. Mauro, tou curiosaço pra saber o que achou da minh'amina. Pode ter certeza!

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  5. Ô¬Ô

    Seu Sérgio,

    tu'amina é muito boa, cheia de balanço, muito swing, e inventa coisas fenomenais. Nunca imaginei q tu'amina tivesse tanta coisa na cabeça pra inventar e as mãos maravilhosas que mostrou, super ágeis!!!
    Enfim, obrigadão mesmo, adorei a técnica da moça e as composições.
    ps: uma ótima banda tambem

    valew pela experimentada, vo querer repetir!!!!!

    Bração

    Ô¬Ô

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  6. ... E a motinha do desenho animado do Carangos & motocas fai funcionar novamente: "eu te disse, mas eu te disse..."

    Tbm estou atrás do que mais encontrar d'amina, Mauro. Ah! estou tentando te passar o Sal Salvador, c/ escala pro érico, pelo Pando. Só q não sei se entendi direito o sistema. De qualquer maneira reenvie, please, o seu end. de emeio pra eu tê-lo agendado.

    Abraços!

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  7. grande sérgio,

    logo mais baixarei o cd...mas, por hora ouço um xará teu...sérgio santos...litoral e interior...piramidal...música de gente grande...rs

    é isso aí,
    abraçsonoros
    e o rio continua lindo, não é não?...saudade

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  8. Pô, seu pituco, tocou no meu ponto fraco. sergio santos de memória assim na lata eu nem conheço - procurarei pelo seu entusiasmo - mas o RIO!!! Diria aquele narrador de futebol paulistano chatopaca: "Pela mãe dos meus filhinhos!" E eu vou ter q te contar com até mais entusiasmo o ontem q tive q ir no Centro da Cidade e depois peguei um ônibus cujo percurso é pela orla - de Copa e Ipanema-, meu caro Pituco, no fim da tarde, o visu do ônibus para a praia de Ipanema, lotada e aquele dourado deitado sobre o mar e aquele monte de barraquinhas de praia... não tem exclamação q não o "PQP!!!" tradicional que expresse tamanha beleza! O Rio é uma droga que vicia e faz um bem danado, mesmo com todos os efeitos colaterais q todo mundo conhece! Não há cidade no planeta q chegue aos pés disso aqui. Q me perdoem as parizes, amisterdãs e newyorque towns do mundo, não dá nem pra comparar. Abraços!
    Agora, Sergio Santos, vou atrás docê!

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Uma obra de arte é um ângulo apreciado
através de um temperamento.
(Emile Zola)