sábado, 30 de janeiro de 2010

Dedicado à rainha dos baixinhos, mediozinhos e dos flutuantes


Sergio Sônico começou na vida profissional em televisão no ano de 1980, aos 20 anos, na contra-regra de novelas da Rede Globo. Tempo em que as novelas (18, 19, 20hs) eram gravadas nos quatro estúdios da rua Von Martius, nº 22 no bairro do Jardim Botânico, Rio de Janeiro. Sem o menor tino e treino para a lida com martelos, trenas e serviços gerais embora sempre se achando pau pra toda obra, instalaram-no no almoxarifado da Contra Regra. UFA! Quase uma faculdade. Daí, o que estava à mão, além dos tapetes, quadros e objetos de cena, eram os roteiros. Assim, Manoel Carlos, Dias Gomes e Cassiano Gabus Mendes, foram todos devorados com muita curiosidade. Afastado da Rede Globo no final de 1983, foi (tocado pela famiglia) pra tocar a fazenda do avô em Mendes, pequeno município do estado do Rio, onde no ócio permaneceu até 1986. Claro que ócio aqui como lá é força de expressão. Havia ali umas vaquinhas e uma hortinha pra cuidar... Havia belas paisagens. E havia, também, além das moças da cidade, muitos euclides e joyces, melhor decifráveis, a se devorar. Devorar devorou, decifrar... No retorno ao caos urbano do Rio de Janeiro, sônico resolve fazer uma fezinha numa faculdade. Ingressou nas Letras, não pelo talento para lidar com elas, mas porque, na atual conjuntura, letras era o caminho natural para um mais concorrido curso de Jornalismo - profissão palpável, certo Canhota? Por incrível que pareceu (a ele), seus textos eram lidos com entusiasmo pela então professora de literatura e discutidos em sala de aula - tem culpá famiglia? Manteve a meta. Transferiu-se, no segundo período para o Jornalismo... O que faria, afinal, um homem das letras? Lecionar, escrever livros? - deve ter pensado e gargalhado. Já na cadeira de jornalismo, ingressou no Estúdio de VT da então Faculdade da Cidade. Bacana! Salas muito bem refrigeradas, com vista para a Lagoa Rodrigo de Freias e passarelas, para uma espécie em projeção de Rio Fashion Week imaginário. Daí começou a trabalhar com as luzes, câmeras e edição, como coordenador do Estúdio. Olha a televisão voltando à vida do rapaz! Ao deixar a Faculdade, atuou na produção independente em várias frentes, inclusive, começando, claro, pelos casamentos, batizados, e quiçá funerais, caso o tivessem contratado – puta qui pariu, poderia ter reinventado o cinema novo nessa frente! Concomitantemente, prestou serviços, a outras produtoras do Rio. Como freelancer, produziu para diversas empresas... E foram centenas de institucionais; vídeos-treinamento; comerciais (para pequenas praças) e vídeo-clips (um deles vencedor de concurso dirigido à produção independente, em programação da MTV no ano de 1992). 0 cara tava foda! O que viesse, o Sônico atacava. Assim, foi ganhando experiência e a vida até achar que era a hora de começar a criar seus próprios roteiros de ficção pra televisão. Sim! Televisão. Para falar ao mundo, tome o mundo de assalto, desprevenido, dentro de sua própria casa. Cômodo? Nunca trabalhou tanto. De sol a sol, mesmo. Escreveu algumas dezenas de histórias, mas entrou em crise, 15 anos depois, ao lembrar-se da adolescência, quando quis formar uma banda de rock e escolheu a bateria como instrumento de expressão. Roteiros - concluiu tardiamente - são como a bateria numa banda. Ninguém vê/ninguém lê. Objetivando, assim como para se viabilizar roteiros, é vital gastar uma puta grana afrodecendente, bateristas necessitam espaço, proteção acústica, vizinhos surdos-mudos e outras etcéteras mís. Somente com muito diletantismo, alguém carregaria a bateria, por exemplo, a um acampamento para atacar junto à fogueira, numa rodinha de amigos e gatinhas joviais... “Gatinhas”! Aí está a chave do segredo. Assim como toda gata tem um G enrustido, em tudo na vida temos que ter o nosso plano B escondido na manga. Porque não uma gaitinha!? Finalmente, a lâmpada do Pardal acendeu (aos 37): “já se viesse com gaita... Caberia no bolso!... Pela praticidade e som hipnótico, gaita pode ser um instrumento inclusivo, inclusive!”. Porém, aos 37, nem o próprio Toots Thielemans salvaria mais aquela alma da fogueira das inviabilidades.

Está aí. Concluímos a biografia do autobiografado suspeitão, sugerindo, para a próxima encarnação, que venha de gaita! É só pensar positivo nessa! E, caberia na mãozinha de um prematuro, caso queira vir com pressa. E você, leitor, se, à semelhança do domo da história, não nasceu com a genialidade ficcional de uma Glória Perez ou o talento de um Miltinho pra sexteto e procura nas artes o prazer auto-sustentável, jamais complique o bom combate. Vem pra gaita você também. VEM!

8 comentários:

  1. Uma coisa é dar a cara pra bater, outra são as duas faces.

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  2. grande sérgio,

    flutuo por teu blog com prazer e curiosidade...e sem perder a onda do bom humor...rs

    já disse e repito, humorista não morre de doença séria, mas se morrer...a galera continua rindo.

    é isso aí,
    abraçsonoros e vamuquivamu

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  3. "Nunca é tarde para aprender a tocar gaita, Sérgio San" - diria o saudoso Senhor Miagy, o mestre do Karatê Kid.
    Eu mesmo não tô querendo me arriscar no sax alto???
    Pois que venha a gaita - e os roteiros, também!!!
    Como diria um ex-colega seu de Vênus Platinada: "Esta é a sua vida. Ô lôco, meu".
    Maneiríssimo, Mr. San!

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  4. Pois é meus amigos, acho que essa foi a maneira mais festiva de calar uma interpretação desencontrada de pseudo-intelectual. Logo eu... Quase um "Lulinha Zona-Sul"!... Educado nos braços do povo pop de cultura burqguesa remediada e que nunca negou suas raízes...

    Valeu as visitas. E hoje tem FlaXFlu, hein!

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  5. Ô¬Ô

    Ô Seu Sérgio,
    muito bom bom ler essa tua parcial-despida virtual. Plagiando a ti mesmo: "Se já te admirava, hoje te admiro muito mais"

    saravá Seu Sérgio

    Ô¬Ô

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  6. Grande Mauro! Pois é, deu vontade. Também rezo pela cartilha de que blogs podem ser uma espécie de poist do desabafo.

    Valeu a força!

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  7. Caro Sergio,
    Precisamos fazer um ( re ) encontro espiritual na igreja do Dudu do Leblon, qualquer dia desses.

    Belíssimo desabafo intelectual esse, e que com aquela agua santa, vai melhorar muito a sua inspiração que já é ótima !

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  8. Edinho, é mole me achar, trabalho em casa, amigo. E acho q já trocamos telefone e falamos por ele, né? Tem emeio tbm e outro dia estive com o Assis e o Paulo, e o velho "mãos de tesoura" tava indócil prum 2º encontro (a)regado daqueles no Dudu, então é só pôr um dia ou dois de antecedência no compromisso e encontremo-nos!

    Valeu os elogios aí!

    Mas, ó: dessa vez 'seje' pontual, meu caro, ou então faça as honras e vá direto guardando a mesa e me ligando do local. Aquela vez se lembra né? Quando chegou eu já estava umas 3 ampolas adiantado...

    Abraços!

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Uma obra de arte é um ângulo apreciado
através de um temperamento.
(Emile Zola)