terça-feira, 2 de março de 2010

Rei de Janeiro


Nenhuma obviedade nesta compilação Reco-records homenageando os 445 anos da Cidade Maravilhosa. E, também, nenhuma exaltação gratuita sem dizer que a terra de São Sebastião não mereça os seus puxões de orelha - aliás a terra não merece mesmo! Quis dizer o povo da terra. Só que aqui, não quis brincar com a coisa do Rio violento de Janeiro à Janeiro - eu não disse sem obviedades? Então busquei a ironia debochada de uma banda carioca nascida na Lapa, a Black Future de 1984 (mereceu o link porque é muito cult), época em que a Lapa já deixara há muito de ser um quase incensado berço da malandragem e se tornara definitivamente marginal pelo abandono. Em “Eu sou o Rio” o que temos é uma ode ao deboche que o povo do Rio, estigmatizado, fazia jus – 'fazia'?, enfim, não desviemos o foco. Bem, com a pisada no acelerador do escárnio de primeira, com direito a cantada de pneu na arrancada, só podia reduzir a marcha na segunda faixa, afinal o trânsito aqui é lento. E, ponha-se no meu lugar, veja a vista que eu vejo e consiga ser ingrato o suficiente pra só ficar metenu o pau no local... É ruim, mermão! Como queria fazer uma compilação com músicas que não só citassem mas tivessem o nome dos bairros no título, foi difícil encontrar a Barra da Tijuca e São Conrado para começar o meu passeio até a Zona Sul. Mas... não é que encontrei duas boas representantes? (ver lista abaixo) Na seqüência segui com a homenagem, com Wanda Sá cantando o Leblon e Ipanema e dei um estirão "Leblon via Vaz Lobo" com a Banda Black Rio intrumentalizando um funk setentista gafeérico pra dar um upgrade no ritmo. Para Fechar o pacote Mi casa su casa local, Pedro Luis e a Parede com "Do Leme ao Leblon". Já Copacabana, geralmente tocada e cantada pelo mote contínuo de hits, ou da eterna Princezinha do Mar ou da bandidagem explícita do Fausto Fawcett, preferi deixar o Alceu pousar a sua visão sobre ela e “Ai de Ti Copacabana” caiu na medida. Bem, dali usei o metrô, já que resolvi pular Botafogo para anunciar com Waldir Azevedo o "Catete". Vê se esse não soa como um alerta, tipo "acorda Catete!" do Waldir... Como se o bairro ainda vivesse sob o trauma do suicídio do Getúlio... Aí depois sim, voltei a Botafogo com o recém falecido Walter Alfaiate... Talvez Botafogo, um bairro que venho freqüentando e até muito desejando, seja o grande homenageado da casa Sônica. “Botafogo, Chão de Etrelas”, é um verdaeiro hino passeando por ruas, botiquins e as figuras ilustres do lugar (acrescente-se que, a idéia da compilação veio depois da audição desta música). Dali pulei para a Lapa – sem visitar as Laranjeiras, senão teria que meter o hino do Flusão na festa. Os tricolores que me perdoem, aqui caí na armadilha de agradar negros e arianos, ou seja, a maioria e a maioria se encontra é no Maraca! E o Maraca, pacero, deve entrar na compilation Zona Norte que um dia hei de fazer... Bem, a Lapa é Centro, mas Centro a gente reivindica pra nós... Ainda mais a Lapa! O legítimo quintal da zona! E aí foi o Paulinho da Viola e Marcelo D2, com o niteroiense Marechal que cantaram o bairro em dois tempos, samba e rap. A Tijuca, Zona Norte, também, por motivos óbvios puxei pro nosso lado. A Tijuca é uma espécie de Juiz de Fora, na relação Rio/Minas, Zona Norte ou Zona Sul?* Eu acho tudo isso uma bobageografia atrós, mas muitos de lá dão uma importância danada, esquecendo a verdadeira importância que o bairro tem para toda a cidade... A Tijuca é o pulmão do Rio! Então pus ali (antes de adentrar o bairro) um achado musical de um certo Edson X, que peguei noutra compilação (gringa) de nome "Brasil After Dark", um som que é quase uma trilha florestal! E pintamos, eu e os músicos, claro, a Floresta da Tijuca, selvajinha como ela deve ser. Pois é, a Tijuca não faria o menor sentido, sem a Floresta da Tijuca... Aliás o que seria do Rio sem a Floresta? Mais uma urbizaí...bizarra... Depois sim, peguei o Tremendão Erasmo, lá na Saens Pena e emendamos numa balada disco/rock essencial pra decorar a Tijuca urbana bem anos 70s. Para o fim do passeio, achei o gringo Willie Colón (que conhecia só de ouvir falar) e ele apresentou amarradão a sua visão turística das maravilhas de (fiquei mais besta): nem que só por alguns dias, experimentar a sensação de ser carioca... - acho que dessa vez nêgo me odeia. Enfim, dei uma pesada no pé de novo numa das finalíssimas, com um belo melancólico samba orai-por-nós-predadores do Jards Macalé, de nome “Rei de Janeiro”... E finalizei dando à Elza o que é de Elza(Soares), o merecimento de encerrar o passeio, no samba "Rio de Janeiro" que além de composto por Aldir e Guinga, é Elza para K...!, Justo, muito justo, justíssimo, porque essa cidade mais do que merece! E essa é a compilation ‘445’ (anos) que deixo para a apreciação do Rio... Que está longe de ser bestinha como este carioca que vos fala discotecando.

*Falá nisso, não agüentei e tive que contar. A piada é sempre mais forte: numa época em que um prefeito do Rio (nem lembro mais qual) resolveu liberar linhas de ônibus que saíam do subúrbio/Zona Norte, direto fazendo ponto final nas praias da Zona Sul, houve uma grita danada da burguesia local. Que, pela primeira vez viu sua orla invadidas por um... digamos “povaréu muito estranho”. Um amigo bem gaiato, depois de ler o jornal (na verdade era a Revista de Domingo do Jornal do Brasil, a publicação popular pq a revista vinha encartada no jornal, mais burguesa da época, que vinha com uma materona de várias páginas sobre o caso*)... Nunca vou esquecer da piada histórica! O amigo fechou a revista e mandou de bate pronto: já sei como acabar com o problema. Muito simples: faz-se um puxadinho no túnel. (fizemos cara de comassim e o cara tocou de letra): Nos fins de semana, fazemos o Túnel Rebouças em U.

Pra quem não conhece, o Rebouças é o túnel (de duas bocas, ida e volta) que faz a ligação Zona Norte/Zona Sul.

Ainda sobre a matéria, cuja repercussão durou semanas! (e estou falando de fins de 80, começo dos 90), lembro-me, também, da declaração de uma mulher indignada sobre a invasão, que sugeriu: não podiam construir uma piscina bem grande só pra eles?...

E aí Dicró!? Zuzo certaí?!

As faixas da compilation:
1) Black Future - Eu sou o Rio
2) John Patitucci - Barra da Tijuca (Tijuca Bay)
3) Mauricio Einhorn - São Conrado
4) Wanda Sá - Praia do Leblon
5) Wanda Sá - Sonho De Ipanema
6) Banda Black Rio - Leblon Via Voz Lobo
7) Pedro Luis e a Parede - Do Leme ao Leblon
8) Alceu Valenca - Ai de Ti Copacabana
9) Waldir Azevedo - Catete
10) Walter Alfaiate - Botafogo, Chão de Etrelas
11) Paulinho da Viola - Lapa em 3 Tempos
12) D2, Marechal & Aori (Prod. Nave) - Lapa
13) Edson X - Tijuca (Floresta)
14) Erasmo Carlos - Turma da Tijuca
15) Willie Colon - Copacabana, Ipanama, Leblon
16) Jards Macalé - Rei de Janeiro
17) Elza Soares - Rio de Janeiro

'REI DE JANEIRO (ZONA SUL)' COMPILATION

2 comentários:

  1. Satanézio, figuraça dos anos 80! Black Future é doideira total, Seu San!
    Ainda em Pinheiro City.
    Parabéns à Mui Leal e heróica Cidade de ão Sebastião do Rio de Janeiro, a mais bonita do Brasil!
    Faltou essa, seu San, imprescindível e que retrata o hoje do Rio:

    Rio de ladeiras
    Civilização encruzilhada
    Cada ribanceira é uma nação
    À sua maneira
    Com ladrão
    Lavadeiras, honra, tradição
    Fronteiras, munição pesada
    São Sebastião crivado
    Nublai minha visão
    Na noite da grande
    Fogueira desvairada
    Quero ver a Mangueira
    Derradeira estação
    Quero ouvir sua batucada, ai, ai
    Rio do lado sem beira
    Cidadãos
    Inteiramente loucos
    Com carradas de razão
    À sua maneira
    De calção
    Com bandeiras sem explicação
    Carreiras de paixão danada
    São Sebastião crivado
    Nublai minha visão
    Na noite da grande
    Fogueira desvairada
    Quero ver a Mangueira
    Derradeira estação
    Quero ouvir sua batucada, ai, ai

    Estação derradeira, do Chico!!!!!
    Abração!

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  2. Sempre vai faltar, seu san, sempre vai faltar... Uma boa pergunta: haverá cidade mais cantada?

    Agora a mais bonita do Brasil é injustiça, no mínimo, com São Luis. O certo é: a mais bela do planeta - e por isso a mais feliz! Porque aí, as mais lindas cidades brasileiras podem se orgulhar ainda mais do país pois sabem que no mundo não tem similar.

    Valeu a visita!

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Uma obra de arte é um ângulo apreciado
através de um temperamento.
(Emile Zola)