quinta-feira, 1 de abril de 2010

"Ra ra ra" é? Vai nessa.



Era uma festa, super-hype-privê, só para asteriscos. A fiscalização cerrada, atenta, das profissionais, que não dava ponto sem nó. Daí que um tumulto se fez na porta da boate. Seguranças, asteriscaços cascudos, man in black, parrudões, barravam a entrada de qualquer tipo de penetra. E eram centenas os tipos. Tipo pontos finais; tipo ponto e vírgulas, travessões... Até mesmo parêntesis legítimos foram impedidos de entrar! Simplesmente a nata da pontuação fez acento e foi barrada no local. Por falar nisto, também bateram ponto ali, circunflexos, crases, tils - ou seriam tíis?... Enfim, como deu na Imprensa no "Day After", a fila cobria a pauta da pacata cidade de São Tomé das Letras. O motivo de tamanha aglomeração, comentava-se, não se justificava, haja visto que o resto dos sinais diante mão sabia que ia dançar. Era uma festa só para asteriscos. Como estava grafado no convite. Portanto, enquanto na força da expressão, dançava-se lá fora, baile mesmo, bombando, rolava dentro das 4 linhas. E Tutss, tutsss, tutsss!... Só trance e druminbeiz da hora nas carrapetas.


Eis que surge em exceção à regra, lá longe na fila, um pontico de nada, pretinho, pretinho, quase invisível se espraiva em meio a multidão... Interrogações, exclamações, indignadas faziam coro com as reticências... A pergunta que não queria calar era: quem? Quem? Quem seria, afinal, aquele ponto abusado, todo confiante, ladeado por duas asteríscas - tipo, capa, contra-capa e página central da Playboy das "Letras & Expressões" - quem? Qual era o ponto, afinal? Abrindo colchetes fila adentro... Todo sorridente, já na porta, quase adentrando a boate lá ia ele furando a fila... Olha lá! Como assim? Espantaram-se os barrados... E é sinsinhô pra cá, perfeitamente, excelência, pra lá... as ordénsinhô acolá... Só faltava baterem continência!... E não é que um segurança bateu?


“Quer dizer que se curvaram a um reles ponto?” – revoltou-se uma exclamação mais exaltada. “E um pontinho qualquer, um pontinho chinfrim!... É ou não é?” – na fila começaram as maledicências: “Tipinho clichê, aliás, aquele...” – ó o fuxico se instaurando a boca pequena... “E vamos combinar que não passa de um cafetão”. - interveio um dos dois pontos gays-gêmeos. "Com certeza!" - assentiu o outro, acrescentando: "Cordões de ouro-de-tolo, casaco feique feito pele de lontra, um perfuminho fesandê e ele lá, se acreditando, pode?!” Não só pode – interveio o narrador -, como deve.


Dentro da boate, na festa prive dos asteriscos, o atrevido passava o rodo em até a última das moicanas, o tal pontinho chinfrim... Na verdade um negritinho ensaboado, n'era nem com ele! Sublinhava cada passo e flanava na pista lépido e fagueiro feito legenda de filme de fred astaire. Mas um asteriscão pitboy inconformado não gostou daquela mistura de classes... Aliás, asterisco desinformado! E, certamente, muito do desantenado! Não contendo o despeito, foi tirar satisfação interrompendo todo um contextual padedê do ponto-rype... Dedo em riste, pitboy-Asterístico berrou: “O que tu tá fazendo aqui, ponto-pentra? Pode ir dando linha. Não vê que a balada é exclusiva à asteristocracia!?"


Como fosse queda de força de apagão, a música fez feide em isloumouchon: Bôôôooom... Num frisson silencioso, angustiado, todos os demais asteriscos descolados direcionaram imediatamente a atenção para ao que seria a réplica do convidado de honra. Que no fim das contas era o dono do mundo, o homenageado da festa... O local mais importante entre todos os locais! Mas se quem já foi rei nunca perde a majestade, imagine quem ainda o É? Imperturbável o aparente penetra apressou-se em corrigir a gafe do buliçoso: “Ponto-penetra, eu? Você tem reive de quê? Ra ra ra ra ra! - macaqueou a audiência à Tião... Logo eu que sou o asterístico mais legítimo? - prosseguiu o dono da palavra.... O mais real da espécie? Então o majestoso fez uma mesura, estendendo ao súdito o anel da realeza. Diminuído em caixa baixa, o asterisco inconveniente baixou imediatamente a crista aos pés do seu rei. Sua alteza baixou ao plano plebeu e disse misericordioso: “Ô, companheiro, não tens culpa por não me reconhecer... Afinal - perguntou a todos - quais súditos aqui sabiam que hoje eu vinha de gel?” Fez-se o coro "Ra ra ra ra ra!".


Enquanto a corte fazia o seu papel de claque, o rei dos asteriscos puxou para si um guarda-costa e apontando pro súdito valente segredou: providencie para que nunca mais cresça crista naquele escalpo moicano.


“Uffffffffa!” E a galera suspirou aliviada. Afinal, o rei estava de ótimo humor! Restabelecida a natural ordem das coisas entre as casta, e/ou entre a tribo, fechou-se aspas no salão, quando o badalado DJ-Ífem, pôs um longo trëma funk, pra modo de calar com aquela tagarelagem totalmente fora do contexto.


Aí foi o fim. E PT saudação.


Em tempo: apostando na máxima de que tribos urbanas são , de que esse pitboy moicano me lembrou, escarrado, a preferência nacional do BBB 10, q o rei hypado, é, fosse um som mais ao technobrega, o nosso rei-operário se reinventando, e que quem "macaqueou à Tião" faz a vez de "zé povão", pode escrever: Ra ra ra de cu é rola.


Em tempo (mais importante): considerando que este texto é continuação da postagem do andar de baixo, o que importa, portanto, é que mais abaixo tem um som.

8 comentários:

  1. Ô¬Ô

    ADOREIIIIIII

    rarara de cú-é-rola é ótimo

    Ô¬Ô

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  2. Poizé, rapá, esse texto foi uma piada curtinha que me contaram há séculos e que eu nunca me esqueci. Quando inventei um "tipo gráfico" na postagem anterior a história me veio a mente e aí larguei o dedo.

    Valeu a visita!

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  3. Sr Sonico ,
    Parabéns pelo dedo e a piada. Otima !

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  4. Ô, brodi Edinho, obrigado! E feliz aniversário!... E valeu a visita... E... Quando será a próxima esbórnia?

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  5. Esbórnia? Tô dentro!!! Nem que seja só virtualmente!!!
    Gostei da história, Seu San!!!
    Viva o Asterisco-Rei, de gel e tudo!!!!
    Abraços pascoais - herméticos e meirelianos!!!

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  6. ô meu caroérico, não são tão herméticas as minhas histórias. É que isso aqui é um tubo de ensaio. Nem sempre sei ou melhor, nunca sei o que vai sair no final. E aquele negócio do povo da festa ficar só no ra ra ra de qualquer merda q o reizin falava me lembrou o Lulinha Falsidade dizendo as merdas q diz p'ruma assistência ignorante e todo mundo rindo... Aí fui abandonando a licença poética e tomando meu rumo político ao fim do causo. Já lhe disse, aqui a telinha é meu escritório e a tv fica ligada o dia inteiro, então imagina quantos palanques de Lul'eDilma eu sou obrigado a aturar. Acaba q a tv, além de me deixar burro demais, me influência na reiva! É isso. Valeu a visita. Tava faltando o sinhô... E o Pituco, Fig Batera, Salsa (q tomô o chá) Mr. John, etc, etc, etc...

    Abraços!

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  7. Muito bom esse texto! adorei a narrativa!
    seu blog é interessante demais!muita coisa boa, pra ser apreciada devagar...
    abraço!

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  8. Que legal, Denise, sinta-se completamente em casa aqui. Sobre os textos, sei não. Oras gosto, oras detesto oras é tudo ao mesmo tempo... Mas a música aqui é da boa. Pode se espalhar que não perderás a viagem.

    Valeu muito a sua visita.

    Sim! Vamos nos falando. Adorei a sua casinha-ateliê!

    Bjos!

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Uma obra de arte é um ângulo apreciado
através de um temperamento.
(Emile Zola)