sábado, 19 de fevereiro de 2011

"PETRUÇA" FOI SÓ A INSPIRAÇÃO

Onde e muito menos quando nasceu a música não se sabe, mas a noção de que em tudo que vive há ritmo e que este fato foi dos primeiros raciocínios lógicos que passou na cabeça de um sapiens, se pararmos pra pensar nisso, ninguém escapa. Como, ainda só balbuciavam e seus sons característicos eram conhecidos dos outros bichinhos da floresta, os sapiens - antes de virarem muito espertiens -, imitavam os sons de outros animais e sons da própria natureza, vento, por exemplo, para se comunicar e cercar a presa/banquete. Ao fim do dia, caçada bem sucedida, banquete posto à mesa de pedra lascada, comemoravam o triunfo fazendo um som, desta feita um som característico deles mesmos. Daí ao som virar música, careceu de um pop star tribal - uma espécie de Carlinhos Brown A.C. (antes do couro), para tornar a batida diferente, mais perfeita e ritmada. E a tribo, incapaz de produzir som mais perfeito e ritmado, ou seja, 'pop(iens)' do que aquele do homo-artistiens (e meio chatiens), deu de imitar. Repare que, nesta época, a mídia também teria que ser o “artitistiens” em coro – o chatiens está no cromossomo humano – porque ele, o coro, era, literalmente, a "repetidora" da matriz (“Brown”).  Depois com o tempo e aprofundamentos individuais, apareceu o crítico de arte (mas essa é outra história). Como vêem, esta não é uma pesquisa antropológica de estudioso no assunto, mas que tem lá, em si, sua lógica, tenha dó, isso tem. Bem, como quando pensamos numa batucada, até um ente querido, criado no seio de uma família Ku Klux Klan, não imagina o batuque saído de uma tribo apache, de índios cara menos pálida que a dele, a imagem recorrente a toda a raça civilizada, educada nas escolas (e na televisão), é a de um monte de negão pulando e tamborilando seus atabaques, certo? Mais uma conclusão leiga, mas que faz algum sentido – a de que foram os negros na ponta da criação, do que muito mais tarde se convencionou chamar música, melô, hit de sucesso, blockbuster e todo o resto. E que ela começa com um ritmo, de voz e percussão. Daí a concluir que a música nasce, provavelmente, depois de uma caçada bem sucedida, na África, onde quase todos são pretos, não é mera elucubração. Juntando-se a festa (aquela da caçada bem sucedida) à música, o que sobra? A dança. E a dança lembra o que? O contato físico. Portanto, a música, na raiz, feita de ritmo e vozes, é pró-criação por isso gera mais vida. Daí sua importância cultural.

Nesta onda, confessadamente dita pelos caras da Bossa Nova, por exemplo, eles também embarcaram. À bem da verdade, eles não queriam inventar um ritmo, queriam era comer a Garota de Ipanema, igualzinho o seu antepassado, o "Brown", chatiens, mas sapiens ... e artistiens! E a festa? A festa era o Rio! E nos 50/60s, então... Junte-se a isso, Ipanema, Vininha, Tonzinho e essa galera em torno de uma garrafa de bom Scott, do que mais se precisa, senão da garota que vem e que passa num doce balanço a caminho do mar? Bom, chegamos a conclusão de que a música, começa e termina numa idéia  de ideais claros, muito justos e até práticos... e que, claro, os cristãos tomaram pra si, na palavra de deus, que é  toda deles, de, crescer e multiplicar-se!

... Toda deles, porque, depois de entenderem melhor no que estavam se metendo, meteram um pecado original nessa idéia/ideal pro povo não exagerar na dose, senão o mundo podia sofrer – como sofre ainda assim até hoje... Mas isso não era problema do Clero, nas internas, locupleto de banquetes nababescos e sacanagem a valer, e a dar com o pau, craro. Mas essa é outra longa história.

A mim basta saber que pra crescer, é necessário comer e pra multiplicar, idem, idem. Como não desejo multiplicar-me, dá muito trabalho. Comer só, ta de bom tamanho, o que também e já dá um trabalho danado... Para não tornar o ofício cansativo, fiz da música o próprio ofício, já que nela está o todo: o porque vale à pena se viver e, principalmente, trabalhar com prazer.



Mas o que diabos tudo isso tem a ver com o amigo e mestre Michel Petrucciani, o Petruça? Talvez, nada ou tudo. Sei lá, meu camarada... Mas dá pra notar na figurinha ínfima dele que devia ser difícil a prática: se comece muito à vontade, engordava e daquele tamanho, não seria nada bom carregá-lo - pra ele mesmo, carregar-se, quis dizer. Que dirá pros outros... Quanto a isso, rola uma história de bastidor, de que Petruça via em seu tamanho uma vantagem: no começo de carreira, ele conta que era contrabandeado dentro de malas, pelo empresário, pra economizar na conta do hotel. Mas, e comer, no sentido cristão bíblico? Outro problema – as mulheres gostam de sustância física... Como se nós, só nos interessásemos pela beleza interior... Mas, enfim, foi nessa que embarquei quando comecei a ouvir-lhe a obra petrucciana. Não demorou muito para perceber que o cara é um Gentle Giant! Um monstro! E, sei lá, devia se ocupar com outras preocupações do que o trivial "comer" nos 2 sentidos, quando sentava-se ao piano para um concerto. Sua abordagem vigorosa, destituída dessas preocupações banais carnais, o agigantava! Seria isso? O fato é que, ontem, e já há alguns dias, venho me debruçando sobre a música desse moço. Mas ontem pus pra tocar o que, em minha opinião, é o seu melhor álbum. E tinha que ser ao vivo! O disco é um assombro de virtuosismo a serviço SÓ da música! Mas quando começou a tocar a faixa 6 "Looking Up", algo milagroso se deu no espaço ao fundo, por trás da janela cá do cafofo. Na paisagem, entrou um vento leste, no meio do boreste total de um dia de verão ensolarado e quente, e de repente, não mais que de repente, as árvores começaram a dançar na paisagem e no ritmo! ...Claro, claro!... Os  céticos, nada românticos ou místicos, desconsiderariam o evento, mas para mim, que sou tudo isso de místico e romântico, e mais um pouco, o evento era como se a natureza em transe de ritmo e melodia petrucciana celebrasse a beleza da vida  ao mesmo tempo me dizendo da importância da música na nossa existência. E isso era o mesmo que  me ordenar: “Posta esse cara!”... Logo eu que decidira dar um  longo tempo disso de postar e ser blogueiro... Mas, "Esse cara" era ele, Petruça. A natureza, toda dele! E a música, dessas com o poder de fazer a vida se revelar gloriosa! Exata como círculo sem arestas pra aparar. Obedeci.

... Ah. E depois, imspirado, saí faminto à caça, ver se comia uma coisinha.

Michel Petrucciani Live! (1991) faixa 6 - Looking up




Ps.: mestre Petruça é o do piano. No baixo está Steve Logan, na bateria, Victor Jones, nos teclados (na tomada da eletricidade), Adam Hozman e a percussa, está a cargo de Abdou M'Boop. Pra ouvir o som aí encima, recomenda-se abrir a janela. Vai que um vento entra novamente...

8 comentários:

  1. AÇÔÔÔ!!!

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  2. Mas quando começou a tocar a faixa 6 Lookin’ Up, algo milagroso se deu no espaço ao fundo, por trás da janela cá do cafofo. Na paisagem, entrou um vento leste, no meio do boreste total de um dia de verão ensolarado e quente, e de repente, não mais que de repente, as árvores começaram a dançar na paisagem e no ritmo!
    LIndo isso...
    Bjos achocolatados

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  3. Como dizem por aí, menos é mais.

    Grande abraço, JL.

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  4. welcome my Friend!!!! Já estava com saudades das suas viagens sônicas, realmente o que que é isto aí ? Ele estava em extase quando gravou este CD.
    Realmente o seu retornou aconteceu de forma apoteótica.
    Um forte abraço do seu admirador.

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  5. Viva Petrucinho, capaz de trazer de volta o garimpeiro.
    Ainda não ouvi o disco que você me mandou, mas esse postado eu tenho e recomento (acho que vou falar sobre ele na resenha sobre o pequeno grande pianista!
    Abração.

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  6. Caros, Sandra, Lester, Jimi e Érico... Não vou-lhes enganar: depois que o meu Tricolor, Campeão Brasileiro, perdeu a semifinal de um raquitico 1º turno desse campeonato carioca, e isso prum time de surfistas de Saquarema, eu fiquei meio muito down. Mas... Não poderia cometer a deselegância de responde a todos vocês. Muito grato a força e insentivos pela volta. É o q o Lester bem disse noutro comentário "é uma cachaça isso aqui". e eu já tou cheio de futuras novas postagens... Vamos em frente. Afinal, são Petruça é meu pastor e nada me faltará.

    Abraços a todos e mais uma vez muito obrigado.

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  7. Mr. Sergio ,
    Como Surfista e Boavistense (até decisão) digo que o menino postado é danado de bom ! se pequenino já toca assim, imagine quando crescer ( risos)
    Gostei muito do Petrucinho como disse o Érico,e da sua volta ao "Lar Doce Lar"...

    Bom Retorno e Saudações oftalma's !

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  8. Curto e grosso: o baixinho é do cacete! Welcome back, buddy!

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Uma obra de arte é um ângulo apreciado
através de um temperamento.
(Emile Zola)