terça-feira, 29 de março de 2011

John Hicks & Keystone Trio (Heart Beats) 1996


Era pra ser, na cabeça de quem escreve, um programa típico de canções de amor, no qual se esperaria lânguidas, serenas e melancólicas interpretações à George Shearing ou como nos trios de Erroll Garner, nada contra, mas eis que me vejo diante de um trio constituído do brilhante pianista John Hicks a singrar as melodias por mares nunca dantes, o baixista George Mraz soando com alma e espírito e de Idris Muhammad a jogar como um legítimo e pulsante baterista de jazz. Estava diante de um ultra-melódico, mas poderoso trio a interpretar standards de amor. A pesar, a sua própria maneira inimitável, com uma economia e uma profundidade que vai além da interpretação de meros mortais.

A produção desta gravação é impecável. Hicks é um incrível gênio do piano acústico, seja com o seu solo fácil no upbeat em "Speak Low" ou acariciando as teclas com delicadeza em "How Deep Is The Ocean?", em crepitações rítmicas e fervor sob a pressão da bossa "If I Should Lose You", acrescentando a cada frase frescor, clareza e gentileza em uma modalidade mais leve, afro-cubana com a melodia de "Dancing in the Dark". Enfim, o trio faz noturna a sua pulsação ou pode suingar até o amanhecer, como o já provado em " Speak Low" que a gente, eu no caso, repete, antes do disco ir até o fim, porque, antes, sente necessidade!

Mraz está em seu elemento, seu tempo imaculado em solos incomparáveis. Longos, solos back-to-back sobre as baladas "I Fall in Love Too Easily" e "Lose You", como um artesão que empresta vida a cada objeto que produz. Hicks acrescenta um solo de dois minutos ("Stay As Sweet As You Are") e, como um brinde, num disco já feito de maravilhas, num dado momento, na hora exata, Freddy Cole na tradição de crooner, canta um doce bluesy "It Had to Be You".

Meu amigo, antes foi o poeta, agora chama o Indiana (Jones). Acabo de me tocar e posso até afirmar: não há tesouro nos filminhos em cascata de ação, dele, que seja moeda de troca para as preciosidades musicais que ando desenterrando.

Não conhecia John Hicks, antes de conhecer o guitarrista Peter Leitch, semana passada, e esse texto estou dividindo a autoria com um perplexo Michael G. Nastos a quem também não conheço, mas de perplexidade eu entendo. Continuando a tradução – em perplexa parceria -, veja como ele/nós encerra(mos) a conversa:

Você não vai encontrar um álbum melhor do que este, em matéria de trio piano, baixo e bateria. Encontra sim, tão inspirado quanto, mas melhor... Pode esquecer. Ainda mais impressionante é que cada música parece ter o comprimento e o tratamento exato, sem excessos ou enchimento. E olha que Hicks já teve alguns trios formidáveis no passado, mas este certamente é o tal que ficará para a história. Altamente recomendado.

E temos dito.

Ah, pro play e pra começar do começo, reservei a 1ª, "Speak Low".


Caso seja do vosso agrado...:


8 comentários:

  1. Grande "descoberta", Sergio; eu adorei o som...
    Abração!

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  2. Grande Fig! E vc deve ter gostado mesmo, o solo de batera que rola nessa versão de Speak Low não é pra amadores.

    Valeu a visita, parcero.

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  3. Não conheço esse disco, Mr. Sérgio, mas o Hicks é fabuloso.
    Tem uma mão-de-pilão, toca forte, mas com classe. Muito blues e uma pegada bop fantástica nos andamentos mais rápidos. Tenho uns 4 discos dele e mais um do Keystone Trio que é fantástico.
    Grande dica!

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  4. Seu san, as pessoas, com razão, me acham exagerado, mas dessa vez, sem exagero, só comparo esse disco a um: Mccoy Tyner "Night of ballads & blues" 1963 da Impulse. Pelo seguinte, os dois são daqueles que vc se obriga a ouvir inteiro. Não dá pra parar, muito menos pular faixa.

    Grande abraço, meu amigo, valeu a visita.

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  5. Que "Speak Low", Mr. SERgio! Não conhecia o trio.
    Vou bisorar mais, o disco.

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  6. Pois é, Mr. Oleari Speak Low e speak serious. Esse disco é o que há.

    Ser ler essa resposta siga uma postagem mais abaixo, há outro discaço muito raro te esperando, é a parceria de Ian Akkerman com Charlie Byrd. Imperdível. Ou, imperdoável perder.

    Bração!

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  7. Caro amigo Sérgio, o que deu em vc? Enlouqueceu? Rapaz nós somos simples mortais. Acho que não sou merecedor de apreciar tal iguaria. O trio é duca, tocam música com uma simplicidade tão grande que parece ser fácil. O complexo torna-se fácil, o impossivel é possivel para esse trio. Vc acabou de arrumar um problema pra mim, lembra aquele cd de MP3 pro carro? Bem agora terei que achar um espaço nos 700 mb para encaixar esta preciosidade, ou melhor, este tesouro perdido. Muito obrigado pelo quitute disponiilizado.

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  8. Meu caro Hendrix, infilesmente, devo lhe informar, tá na hora de fazer mais uma dispezinha extra e comprar um mp3 com mais espaço... rsrsrs.

    Abração, e muito obrigado por levar fé aqui nas minhas sugestões.

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Uma obra de arte é um ângulo apreciado
através de um temperamento.
(Emile Zola)