terça-feira, 12 de abril de 2011

Alemán, um aparte argentino na história da música do Brasil






"Oscar Alemán é desses capítulos curiosos e pouco conhecidos do encontro de várias tradições musicais. Argentino nascido no Chaco, província do interior, em 1909, filho de uma família de músicos, Alemán foi morar ainda pequeno em Santos, depois da separação dos pais. Lá, ficou órfão (o pai morreu em Santos e a mãe na Argentina). Fez de tudo para sobreviver, mas um cavaquinho que ganhou de presente mudaria sua vida. Menino prodígio, logo se revelou um talento no violão e em poucos anos, depois de voltar para a Argentina, iria para a França, onde dirigiu por anos a orquestra de Josephine Baker (conta-se que Duke Ellington quis roubá-lo para sua própria orquestra). Grande mestre da guitarra de swing, fez jam sessions mitológicas com Django Reinhardt. Muito amigos, os chamavam de “o cigano e o índio”. Mas com a Segunda Guerra voltou para Buenos Aires. A Argentina está comemorando os 100 anos de nascimento de Alemán, mas curiosamente poucas crônicas de sua vida enfatizam os anos que passou no Brasil e a grande influência que a música brasileira teve sobre ele ou suas maravilhosas gravações de clássicos brasileiros (clássicos hoje, pois na época eram todas músicas novas). É algo muito diferente: misturas de swing com música brasileira, puro bom humor, tudo cantado com uma voz deliciosa e um sotaque muito leve. É dessas coisas que só um cara com uma história de vida dessas poderia fazer soar de maneira tão genuína. A versão balançante de “Acontece que eu sou baiano”, de Caymmi (saiu em 1956 em 78rpm, e mais recentemente, em 2002, foi reeditada na coletânea Oscar Alemán y su Conjunto con Ritmos de Brasil), é um exemplo perfeito da fórmula única desse grande mestre argentino da música brasileira."

FONTE: Uma por dia


8 comentários:

  1. Mr. Sérgio,
    Parabéns pela garimpada!
    Não tenho nada do Alemán (ainda), mas sei que ele foi um dos mais importantes guitarristas argentinos.
    Também não conhecia detalhes de sua vida e nem de sua passagem pelo Brasil. Muito bacana mesmo!
    Vou reproduzir abaixo um comentário do Mestre Raffaelli, colocado no post sobre o Django Reinhardt, lá no Jazz + Bossa:

    "A propósito de Django, nos anos 70 tive a sorte de ouvir em Buenos Aires e conversar com o grande guitarrista argentino Oscar Alemán.

    Como ele passou a década de 30 em Paris, foi amigo de Django e inclusive substituia-o quando o cigano não podia tocar, contou-me episódios pitorescos sobre o irrequieto guitarrista.

    Django era um tremendo mulherengo sempre às voltas com suas conquistas e, devido a isso, sua ciumenta esposa, conhecendo seus hábitos de conquistador inveterado, à noite saía à sua procura pelos cabarés de Paris. A esposa era notória barraqueira, armava as maiores confusões quando não o encontrava, principamente ao avistar Alemãn tocando no cabaré no lugar que o marido deveria tocar, indo direto a ele gritando a plenos pulmões: "Onde está aquele sem-vergonha?", ao que Alemán limitava-se a balbuciar: "Não sei, não o vi hoje". Certa noite, ao entrar no cabaré. a baixinha avistou Django aos abraços e beijos com uma moça e partiu para a ignorância, dando-lhes socos o pontapés, sobrando algumas bolachas para Alemán, pois ela sabia que este acobertava o infiel marido. Foram todos parar na delegacia e no final, após uma longa espinafração do delegado, sairam de lá devidamente "amaciados". Django e a furiosa esposa, reconciliados, foram para casa gozar as delícias de uma noite de amor; Alemán, com o rosto inchado e muitas dores, efeito das bolachas que levara, foi para casa sofrendo na carne pelas estripulias do travesso amigo cigano.

    Isso tudo e outras coisas mais ele contou entrecortadas por inúmeras gargalhadas relembrando as "delícias" das noites nos cabarés de Paris nos anos 30."

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  2. Seu Érico, embora Alemán seja um nome completamente obscuro hoje em dia, até que a internet fornece bastante informação a respeito dele, e seus discos são - já não sei mais quantos baixei em blogs e quantos no soulseek - bem fáceis de se encontrar. Devo ter uns 8 ou mais. Mas Oscar Aleman (Swing Guitar Masterpieces) duplo e este que eu posto são os mais recomendáveis. Pena existir (ou será q fui eu q não encontrei?) um com o Django.

    A curiosidade é o cara que remasteriza e produz a coletânea Swing Guitar Masterpieces citado: David Grisman, q já tinha feito um trabalho semelhante resgatando a obra do Jacob do bandolin em 3 volumes.

    A história de mestre Raffaelli é ótima.

    Valeu a visita.

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  3. quie dizer pena NÃO existir...

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  4. Sr. Sergio,
    Mais informações a respeito de Oscar Alemán (em Inglês) no blog abaixo mencionados, aqui você também encontrará informações sobre a ligação com a música brasileira ao lado de sua parceria com Gastão Bueno Lobo na Os Lobos, um capítulo importante dos anos de formação Alemán como um guitarrista.

    Jo
    http://oscar-aleman.blogspot.com/

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  5. Ô Jôjoca, quanto tempo... Obrigado a dica, já fui lá e li bastante coisa. Grande Alemán! Comparado até com Andre Sagovia!

    Mas fiquei curioso tbm numa coisa. Fui eu q te pus curiosa quanto a história do Alemán, ou vc já o conhecia?

    Beijos! Volte sempre.

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  6. Eu conhecia a história de Alemán, é claro, na verdade, eu estive pesquisando sobre sua vida e carreira desde 1980, porém, mais documentação a ser encontrada no documentário de Hernán Gaffet "Una Vida Con Swing", lançado 2002 e disponível para compra em DVD.
    Jo

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  7. SenhorSônico,

    Parabéns pelo blog, a mim recomendado por Sir Lester do Jazzseen.

    A vida deveria ser infinita assim como é infinito o universo da música. Há sempre uma supernovanovidade.

    Já estou navegando pelo Alemán.

    Um grande abraço, a partir de agora, seu fiel seguidor.

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  8. Q bacana, Coimbra... Acho q és português, tenho a impressão - não só pelo nome, mas pelas leituras q faço de seus comentários. Mas tbm posso estar confundindo as estações. Anfã, brazuca, da terrinha ou adjacências de onde nossa lígua alcança, sê benvindo! Eu não sei falar nada de música, mas como a coruja, prêsto uma atençããão...

    Abraços!

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Uma obra de arte é um ângulo apreciado
através de um temperamento.
(Emile Zola)