quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Manoel de Barros em trilhas Gismontinas


Uma Didática da Invenção
do "O Livro das Ignorãnças"
ed. Civilização Brasileira.

Para apalpar as intimidades do mundo é preciso saber:
a) Que o esplendor da manhã não se abre com
faca
b) 0 modo como as violetas preparam o dia
para morrer
c) Por que é que as borboletas de tarjas
vermelhas têm devoção por túmulos
d) Se o homem que toca de tarde sua existência
num fagote, tem salvação
e) Que um rio que flui entre 2 jacintos carrega
mais ternura que um rio que flui entre 2
lagartos
f) Como pegar na voz de um peixe
g) Qual o lado da noite que umedece primeiro.
Etc.
etc.
etc.
Desaprender 8 horas por dia ensina os princípios.

No Tratado das Grandezas do Ínfimo estava
escrito:
Poesia é quando a tarde está competente para
Dálias.
É quando
Ao lado de um pardal o dia dorme antes.
Quando o homem faz sua primeira lagartixa
É quando um trevo assume a noite
E um sapo engole as auroras

Para entrar em estado de árvore é preciso
partir de um torpor animal de lagarto às
3 horas da tarde, no mês de agosto.
Em 2 anos a inércia e o mato vão crescer
em nossa boca.
Sofreremos alguma decomposição lírica até
o mato sair na voz.

Hoje eu desenho o cheiro das árvores.

O rio que fazia uma volta atrás de nossa casa
era a imagem de um vidro mole que fazia uma
volta atrás de casa.
Passou um homem depois e disse: Essa volta
que o rio faz por trás de sua casa se chama
enseada.
Não era mais a imagem de uma cobra de vidro
que fazia uma volta atrás de casa.
Era uma enseada.
Acho que o nome empobreceu a imagem.
Manoel de Barros

Clique em "intimidades do mundo", link para "Maracatu (Sapo, queimada e grilo)".

Clicaki pra baixar o álbum "Nó Caipira" de Egberto Gismonte, a casa do "Maracatu" do sapo, queimada, grilo, e toda a sua didática sonora particular da selva.

4 comentários:

  1. Sergio, meu comentário não tem a ver com o post. É sobre o Murray. Não sei mesmo como ele consegue tirar aquele som. Pode ser que esteja conectado a algum pedal hitech e, me parece, reproduz um som aproximado ao baixo (ele faz a linha do baixo). A sonoridade é curiosa. Eu não tenho esse disco.
    PS - O poeta é uma figuraça. Tenho uns dois ou três dos seus livros.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Poeta é o Aldir... Ah, não o Manoel de Barros, claro! Ó que distração!

    Cara, posso te passar o link do álbum do Murray. Só não dá pra ser pragora mas, até pensei em upá-lo pra por no blog. Vi e lembrei que no jazzseen ele está entre os saxofonistas 'terríveis' no mal sentido, mas esse disco com a japonesa, só piano e sax é bom pra caráio a bessa!

    Valeu a consideração, estava mesmo curioso e aquele Preda tava embarreirando geral. Enfim, não é queixa não. Xá pra lá.

    Continue dando seus pulinhos aqui, que tem sempre uma surpresa. Acabei de por o link do Nó Caipira do Gismonti. Ele as vzs é meio mala. Mas esse disco dos 70 pros 80 ou 80 e pouquinhos, época em que o baixista Zeca Assunsão namorava a Bruna Lombardi (tenho o lp e ela está numa foto do encarte) ou até por isso, estava todo mundo contaminado pelaquela beleza incomum, de modos que esse disco é phoda de bom. E, o tema Maracatu - baixa só pra ouvir - que destaquei do disco pra nego entrar no clima do texto enquanto lê, é a coisa mais linda do Brasil do nortão! (vai por'eu)

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  4. Eu tenho 4 discos do Murray e não achei tão detestável assim. Quanto ao Gismonti, eu tenho parte considerável de sua obra (incluindo esse que você indicou).
    Eu estou dando um tempo do jazzseen porque a rapaziada está muito agressiva, e eu já estou me sentindo muito velho para ficar em clima beligerante. Passo por lá, dou uma olhada e sarto fora (em consideração ao Lester, que é meu amigo). Vou com freqüência ao jazzigo.blogspot. com e ao mpbjazz.blogspot.com, todos criados por conhecidos meus.
    Abraços,
    Salsa

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Uma obra de arte é um ângulo apreciado
através de um temperamento.
(Emile Zola)