sábado, 1 de dezembro de 2007

SOFT MACHINE (VOLUMES ONE e TWO)





O Soft Machine foi uma das maiores instituições inglesas do rock nos anos 60 e 70. Berço de incontáveis músicos talentosos e com uma história cheia de acidentes. O grupo foi um dos percussores do rock psicodélico na Inglaterra, não satisfeitos, seus membros mergulharam de cabeça em um som muito peculiar, com traços de free jazz, psicodelia e progressivo. Inspirado no livro do escritor beat William Burroughs - de quem roubaram o nome. Foi, também um dos inauguradores do depois batizado "som de Canterbury". Saiba um pouco desse grande legado agora.
O australiano Daevid Allen e Robert Wyatt se conheceram em 1961, quando Allen, aluga um quarto para Waytt, em Lydden (Inglaterra). Logo percebendo que tinham um interesse mútuo pelo jazz (em especial Charles Mingus e John Coltrane) começaram a ensaiar uma formação sob o nome de Daevid Allen Trio, completado pelo baixista Hugh Hopper e tendo o pianista Mike Ratledge como convidado, isso ainda no idos 1963.
Ao mesmo tempo, Wyatt formou o Wilde Flowers com os irmãos Hopper, Hugh e Brian. A formação também incluía Kevin Ayers nos vocais, mas ele deixou o Flowers em 65. A idéia de formar o novo grupo, que daria forma ao Soft Machine, partiu de um encontro de Allen e Kevin Ayers com um milionário texano chamado Wes Brunson, em Mallorca, Espanha. Brunson, um excêntrico, concordou em financiar os Wilde Flowers, o que permitiu aos jovens comprarem novos instrumentos e alugar um point em Canterbury, em troca disso, Wes, receberia uma porcentagem das bilheterias dos futuros shows, dinheiro este que ele nunca viu. Nada de golpe! O excêntrico Brunson acabaria tendo um destino, no mínimo, de cartoon de Hanna & Barbera: durante os dias de férias na Espanha, ele tentava pular na frente de carros (coisa de rico) e caminhões (coisa de pobre) e obrigá-los a parar (coisa de bilionário todo poderoso). Até que, em um belo dia... O belo foi pura força de expressão.
Em agosto de 1966, sob o nome de Soft Machine, inspirado em um livro do escritor William Burroughs, nascia o grupo com Kevin (baixo e voz), Daevid (guitarra e voz), Robert Wyatt (bateria e voz) e Mike Ratledge (teclados).
Acontecia então os dias da Swingin' London e o Soft era figurinha fácil em clubes como UFO e Roundhouse, onde dividiam o palco com o Pink Floyd, liderados pelo então alucinado Syd Barrett - ele e Allen, aliás, viraram grandes amigos de esbórnia e despirocação... E foi vendo Syd tocar que Allen inventou a técnica do glissando*, que consiste em tocar a guitarra com uma pequena barra de ferro tipo o slide, mas reproduzindo o som de cítara.
Os shows eram verdadeiras viagens, com adições de luzes, levadas de bateria e climas lentos e hipnóticos e o grupo improvisando no palco por horas a fio. O show mais memorável aconteceu quando tomaram parte de um evento organizado pelo jornal underground International Times, batizado de 14 Hour Technicolor Dream, o Soft tocando ao lado do Floyd.

Foi durante uma viagem para St. Tropez, na França, que se dá um incidente que marcaria a formação do grupo. Daevid Allen, australiano de nascimento, teve seu visto de entrada negado quando tentou voltar à Inglaterra, por ter trabalhado ilegalmente no país. Daevid opta por permanecer na França, onde montaria tempos depois, o Gong. Bem, e o Gong, é outra longa história pra outra ocasião... O restante do SM segue como trio.
Em fevereiro de 1968, realizam turnê de três meses pela América, abrindo para ninguém menos que The Jimi Hendrix Experience.

Aproveitam a viagem para a América e gravam seu primeiro disco (One), em Nova York, produção dividida entre Tom Wilson (Bob Dylan) e Chas Chandler (ex-baixista dos Animals e produtor do dois primeiros álbuns de Hendrix).
No final de abril o grupo volta para Londres e em maio conseguem um novo guitarrista: Andy Summers, um moço aí que no futuro ficaria famoso ao tocar num certo The Police. Summers já era rodado na época, havia tocado nos grupos Zoot Money's Big Roll Band, Dantalian's Chariot e até no Animals, de Eric Burdon, e foi recrutado para a segunda parte da turnê norte-americana durante os meses de julho até setembro.

Ao final do giro, Wyatt resolveu ficar em Nova York para trabalhar com Hendrix, enquanto Ratledge e Ayers voltaram para a Inglaterra. Em dezembro Summers também pula fora do barco. Como Ayers não foi encontrado, a saída foi chamar de novo Hugh Hopper.
Convidam para as gravações e apresentações Brian Hopper, irmão de Hugh, para tocar sax tenor e aos poucos, o grupo vai evoluindo em direção ao jazz e a um som mais elaborado, que acabaria fazendo da banda o principal expoente do "Canterbury Sound", que teria outros importantes representantes como o Caravan, Gong, Hatfield & The North e National Health (esta liderada por Bill Bruford), entre outros.

Um show histórico dessa fase aconteceu no dia 27 de março, no London 100 Club, quando receberam o convite de Syd Barrett, que queria a participação do trio em seu disco-solo, The Madcap Laughs.
Em abril é lançado Volume Two, o segundo disco do grupo e logo após o lançamento, ganham outros integrantes, com a adição de músicos do grupo do estupendo pianista Keith Tippett (ex King Crimson): Elton Dean (sax alto), Marc Charig (trompete), Nick Evans (trombone), além de Lyn Dobson (sax e flautas). Assim, o grupo era agora um septeto, ainda que por poucas semanas, e dessa maneira gravaram um programa na BBC e fizeram shows na França, no final do ano.

O grupo começa a ganhar fama no circuito europeu de jazz. Fizeram dezenas de shows na Inglaterra, Bélgica, Holanda e França. Em dezembro é lançado o primeiro disco solo de Kevin Ayers, Joy Of A Toy, com participações de Wyatt, Mike e Hugh, juntos, nas faixas "Joy Of a Toy continued" e "Songs for Insane Times". Separadamente, cada um participou em outras faixas.
Em 3 de janeiro de 1970 é lançado o primeiro disco-solo de Syd Barrett, Madcap Laughs, com participação do trio Hopper-Wyatt-Ratledge na faixa "Love You".

No dia seguinte, o quinteto Elton Dean, Lyn Dobson, Hugh Hopper, Mike Ratledge, Robert Wyatt, toca em Fairfield Hall, em Croydon, e algumas dessas partes seriam usadas no novo disco do grupo. Seria o nascimento da grande obra-prima do Soft Machine e um dos mais importantes álbuns do gênero que passaria a ser conhecido como rock progressivo, nos anos 70: Third.
Bem, mas o Third, sozinho, já é outra longa história. Encerremos então a primeira parte da retorspectiva Soft Machine com o Duplo (Volumes One & Two). Ufa, neguinho! Se foi cansativo editar esse texto, imagine contar toda história... Mas cada segundo perdido pelo leitor, na audição, será regiamente restituído com correção.
Fonte: Mofo (és amarradão em música? Ponha esse blog nos favoritos).
Clicaki pra baixar o One
Clicaki pra baixar o Two
* (04/12) Nos comentários desta postagem, o amigo e experiente guitarrista, Edson do blog Gravetos & Berlotas, explica corretamente o que vem a ser glissando.

8 comentários:

  1. Eu me lembro da capa, mas não me lembro do som. Vou baixar e saravar.

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  2. Chegou agora o complemento. Cabei de upar. É muito sofisticado, Salsa. Tenha certeza que os dois álbuns são ótimos!

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  3. Hey Ser Sônico,

    Seu blog é incrível, já vou começar a baixar essas belezinhas.
    Logicamente link-ei no (((Solidown))).

    Aquele álbum do Stanton Moore é realmente muito bom, pena que apenas duas pessoas baixaram até agora, hehehe. Mistérios do imundo blogger.

    Parabéns pelo grande trabalho e obrigado por se apresentar. Volte sempre.
    Longa vida.

    (((Solidown)))

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  4. Quando conheci Stanton, conheci a banda dele 1º, não ele e nem sabia que tinha disco solo. A banda/projeto, ótima tbm, chama-se Garage a Trois e ainda há outra maravilhosa, o Galaxy. Esse cara é um camaleão, toca tbm numa banda de hard-rock, se não me engano - posso me enganar - o nome é Corrosion of Conformity.

    Enfim, tenho planos de postar alguma coisa do Stanton.

    Obrigado pelos elogios, conheci o (((Solidown))) pelo EUOVO, baixando o Skowa & A Máfia.

    E essa parada de pouco comentário, Solidown, no começo, sem sair por aí convidando os outros blogueiros e sua freqüencia, não há outra forma. Tem que dar uma caceteada nas pessoas...

    Ainda não pus link seu pq foi ontem que fui em sua casa pela 1ª vez, mas certamente, estará aqui tbm. E ó: gostei para caráio do africano Ba Cissoko! Parabens! Vou frequentar tua casa idem.

    Sergio Sônico

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  5. Nunca fui muito chegado no som do Soft Machine mas é inegável a qualidade dos músicos e a importância da banda na cena prog devido à sua sonoridade única. Se me permite uma correção, Sérjão, já que sou guitarrista, o glissando é uma técnica que consiste em correr (ou deslizar) os dedos pela escala da guitarra/violão/violino, etc rápidamente em 'ligados' e com pouca, ou quase nenhuma, utilização da mão resposável pelo acionamento das cordas. O efeito é belíssimo com várias notas se sucessendo sem que se perceba qualquer tipo de palhetada. O som lembra mais o de um instrumento de arco. É um belíssimo efeito, principalmente quando utilizado com pedal de delay. Bem, na época do Soft Machine seria com a boa e velha câmara de eco da marca Echoplex, que utilizava fita. É muito utilizada também em teclados. Não existe utilização de nenhuma espécie de bottleneck como no slide.
    Brinde!

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  6. O texto foi editado do Mofo. Como sou fã da boa informaçã (a correta) devo acrescentar a sua correção no texto!
    Brindaço!
    E... Acho que entendeu o que quis dizer no emeio, né? Preciso, principalmente nesses 1ºs meses de blog, mais da freqüencia dos amigos. Até porque, como viu, mesmo não baixando, porque tem ou não é a praia, há sempre coisas novas a saber, comentar e até corrigir.
    Abraços!

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  7. Prezado Sérgio, parabéns pelo blog, cada dia melhor. Tenho o álbum e, sinceramente, creio que a resenha do 'mofo' é melhor. Mas ok, não esquente, afinal eu sou do tipo que acha Miles um músico menor.

    Grande abraço, JL.

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  8. Como esquentar? Eu apenas editei o que está no Mofo. Aqui não fala, por exemplo, de quando Robert Wyatt doidaraça numa festa se atira ou cai de uma janela e fica paraplégico. Mas havemos de convir que, lá no Mofo, está a história completa da banda mostrando todas as fases e álbuns e aqui, um pequeno apanhado. O que nunca sei de vocês, difíceis do Jazzseen (Salsa inclusive), é quando e o quanto gostam dessas outras propostas musicais. De qualquer forma, o Salsa já se tornou freqüentador, espero ver você freqüentando mais aqui a casa.

    No seu caso, Lester, freqüentando e baixando. Respeitando aquela máxima de que, pra gostar precisa ouvir. E em se ouvindo e gostando, compra-se. Isso se encontrar pra comprar, claro.
    Abração!

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Uma obra de arte é um ângulo apreciado
através de um temperamento.
(Emile Zola)