quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

JACOB DO BANDOLIM (GREAT JEWISH MUSIC)


Da série “atirei no que vi e acertei no que não tava, exatamente, visando”, buscava eu os 3 volumes de uma remasterização da obra de Jacob do Bandolim feita pelo professor da janela aí de baixo, o David Grisman, que, ao ser apresentado, apaixonou-se de cara pela música do nosso Jacob e bancou, do próprio bolso, a recuperação do trabalho do velho bandolinista. Encontrei apenas o Volume 1 da coleção e assim mesmo, incompleto. Ainda procuro os outros 2 (e 1/2) volumes, mas enquanto isso... o resultado da caçada trouxe à mesa...

Jacob do Bandolim - Great Jewish Music

Em 14 de fevereiro, ali pelo carnaval de 1918 nascia no Rio de Janeiro Jacob Pick Bittencourt um dos grandes nomes do choro. Maior ainda instrumentista e compositor que não estava nem aí pra festa do momo - sua paixão era frevo. Autodidata, desde cedo, mandava ver no bandolim, quando tentava imitar trechos de melodias que a mãe cantava enquanto cozinhava. Porém, curiosamente, seu primeiro instrumento foi o violino, que ganhou aos 12 anos de idade. Quando descobriu sua real paixão fez do bandolim sobrenome. Acompanhou artistas como Noel Rosa, Ataulfo Alves, Carlos Galhardo, Lamartine Babo... Pra pagar as contas porque viver de música no Brasil era (era?) exercitar a Amélia que se tem em si e achar bonito não ter o que comer... O Jacob (da repartição) trabalhou por muito tempo mesmo foi como escrevente da Justiça do RJ. Mas o bandolim era sua vida e daí que a justiça universal tarda mas não falha, ainda que no Brasil, eterno país do futuro. E o futuro chegou com toda força em 1969, ano da visita do 1º homem à lua, 14 de julho. No mês seguinte, 18 de agosto, nosso Jacozinho foi mais distante, meteu a viola, digo, o bandolim no saco, e partiu pro céu pra tocar pro Criador. Antes da morte, deixou 52 álbuns em 78 RPM, 12 LPs, além de participações na obra de tantos outros artistas.

A excelente série “Great Jewish Music” da Tzadik tem como proposta fazer interpretações inventivas, avant-garde ou experimentais de, como diz o nome, grandes músicos judeus. Fizeram parte dessa série tributos a Burt Bacharach, Serge Gainsbourg, Marc Bolan (T-Rex) e Sasha Argov.

E o volume do Jacob trás interpretações, digamos, nem tão experimentais assim como os demais da mesma série, sendo assim de mais fácil digestão.

O percussionista brasileiro da cena jazzy downtown NY Cyro Baptista abre o disco com Noites Cariocas numa interpretação mais fiel possível a do compositor. A partir daí a viagem começa. Ben Perowsky troca o bandolim por uma flauta e faz uma cover bem cool de Pérolas. Rob Burger & Mauri Refosco substituem parte da percussão chorona por uma bateria eletrônica e colocam um acordeon como linha solo.
Pharaoh’s Daughter faz uma versão de Sapeca que parece uma mistura de música peruana com toques de música do leste europeu. A banda Davka faz Receita De Samba virar klezmer.
Shanir Ezra Blumenkranz (o calcanhar de aquiles do álbum) vai ao extremo de recriar Santa Morena como um grindcore desconstruído – ou entendeu demenos o conceito menos ousado do álbum ou entendeu demais porque ficou literalmente destoante. Enfim, estou pra encontrar um álbum bom de cabo a rabo...* O disco fecha com um clima estranho e fantasmagórico feito pelo tecladista James Saft cuja linha principal de Ciumento é conduzida por um assobio.

Com exceção apenas da pisada na bola grindcore - eu nem sabia o que o termo significava, mas sei o barulhoque isso produz - as interpretações neste álbum são bem respeitosas… as linhas principais são mantidas. Os arranjos e andamentos são modificados, além da instrumentação, de maneira mais sutil. Um belíssimo disco pela qualidade dos interpretes e, claro, pelo altíssimo nível musical do compositor carioca.

Fonte

*Para compensar a faixa, digamos, assanhada demais para o conjunto da obra, adicionei um bônus de "Santa Morena" ao álbum. Justamente uma remasterização do original - com o próprio Jacob no bandolim -, aquela, bancada por David Grisman do tal Volume 1 incompleto.

Manja che te fa bene!

3 comentários:

  1. Sérgio,
    Encerrei a série de mortes do Chet. Passa lá no jazzigo

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  2. Thanks. Jacob do B played great music. Always eager to discover more.

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  3. Tanx, you, L, I don't speak english, but understand your greatfull... Sorry my english.

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Uma obra de arte é um ângulo apreciado
através de um temperamento.
(Emile Zola)