Aproveitando o mote da postagem no plano abaixo, continuemos no espaço! Finalmente encontrei um álbum do artista que tanto ouvi falar em minhas digressões à terrinha... Digressões virtuais, por enquanto. E que ainda não me havia dado o prazer de conhecer. Infelizmente, Portugal ainda não fincou e fez tremular soberana, sua bandeira no território do Jazz. Ainda!... Músico/pianista de Jazz, Mário Laginha é o nome que mais li,/ouvi falar, desde que comecei a buscar na Rede a música do mundo. No entanto seus discos solos não são nada fáceis de encontrar – quando não se tem dinheiro para mandar importar, claro. Enfim, finalmente, afinal, agora aí está “Espaço”, álbum, sempre no bom sentido, fresquinho de 2007.
Encomendado pela Trienal de Arquitectura de Lisboa (2007), “Espaço” é mais que um belo disco de trio (piano, baixo e bateria) jazz.
A arquitetura é o tema que alicerça esta música simultaneamente geométrica e orgânica: a idéia de estruturas regulares e irregulares, linhas contínuas e descontínuas, superfícies planas ou distorcidas, espaço e a ausência de espaço, é transferida para o universo sonoro, resultando num opus único sobre a forma e suas contradições.
São muitos os aspectos abordados, a configuração das ruas numa cidade (“Tráfico”), a claustrofobia (“Paredes Que Nos Rodeiam”) e o vazio (“Vazio Urbano”, precisamente o mote da trienal) sendo apenas alguns deles, e não necessariamente com propósitos descritivos.
Com Laginha estão o contrabaixista Bernardo Moreira e o baterista Alexandre Frazão (monstros!), nomes fundamentais da cena jazzística portuguesa.
Oiçam, que não se arrependerão.
Para instigar a curiosidade dos que aqui aportam, um depoimento de um gajo que assistiu a uma apresentação de Laginha:
"Tenho as mãos a arder. Depois dos muitos aplausos de ontem, ainda tenho as mãos a arder e a cabeça a borbulhar de boa música.
Foi um prazer estar no lançamento de Espaço, o mais recente trabalho de Mário Laginha. O desafio foi lançado pela Trienal de Arquitectura e a reflexão do músico sobre o espaço que o rodeia foi partilhada ontem connosco, no escurinho quente do auditório da Culturgest. E foi soberbo!
Soberbo não só porque Mário é um compositor genial, mas por tudo. Fascina-me aquela figura tímida que sentada ao piano quebra as barreiras que existem em qualquer espaço, qualquer mente, qualquer corrente musical e consegue misturar no seu trio clássico um jazz mágico e irrequieto que nos envolve, rapta e devolve ao mundo umas horas depois. Voltamos mais ricos. Voltamos melhor. Gosto da figura que pisa um palco eclético com uns ténis de montanha confortáveis, que deixa os pés flutuarem sobre o chão ao ritmo das fugas e melodias, que me engana os sentidos ... quando o som do piano parece ser tocado por muito mais do que dez dedos humanos. Tão humanos que só posso descrevê-los como geniais. Bernardo Moreira no contrabaixo e Alexandre Frazão na bateria completam o trio Laginha."
A mim me encanta! E, em casa, ouvindo singela reprodução mp3 da obra, a impressão que ficou foi: o álbum é curto demais. Curti demais. Daqueles discos, que no tempo das eletrolas, apertaria-se um botão encardido e o braço levantaria daquele espaço onde já girava em falso fazendo plec plect esbarrando repetidas vezes no rótulo, e sozinho – que tecnologia admirável! – percorreria o mesmo caminho de volta, baixaria em câmera lenta, na primeira faixa e voltaria a tocar, tudo novamente agora.
É por isso que invejo o único fiel espectador/baixador ouvinte deste blog (deve haver um). Ele se dá esse luxo de apertar uma tecla e ouvir tudo de novo... E quantas vezes quiser! Pra mim, nessa rotina estafante... a fila tem que andar.
Prazerzão te conhecer, Laginha! Beijo, me liga!
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Uma obra de arte é um ângulo apreciado
através de um temperamento.
(Emile Zola)