sábado, 1 de maio de 2010

The Negro Problem (Welcome Black) 2002


Imprescindível. É necessário discutir-se a questão do nome. "O Problema do Negro" é irônico, mas de maneira nenhuma usado para chocar ou barganhar a simpatia do público afro-americano. Ao contrário, na verdade ele ilumina todas as subterrâneas intenções da banda: apesar de artistas tão díspares como Jimi Hendrix, Love, 5th Dimention saírem todos a fazer música psicodélica no final dos anos 60 e justo por isso, um fosso racial reafirmou se desde então. O conceito de uma suposta divisão estilística no que seria a música "branca" e a "black music" de raiz, eram ainda resquícios da primeira metade do século 20 quando os registros dos artistas negros foram forçosamente desviados para as questões raciais. Com muita razão, mas não tão razoável a ser obrigatotriamente imposta e sobreposta à liberdade do artista de criar... música simplesmente.

Uma vez em noite de lua cheia, às avessas, um Prince ou um Lenny Kravitz puderam ganhar uma posição no mercado de rock dito de branco, mas mais frequentemente, num passado não tão distante, artistas dotados dessa mesma iluminação quanto um Shuggie Otis, por exemplo, permaneceram friamente fechados, na opinião da indústria míope, num eufemistico mercado urbano restrito e paralelo. Por essa razão o cantor band lider e compositor Mark Stewart (Stew) achou por bem batizar seu projeto particular de The Negro Problem, e é por isso, uma marca tão brilhante. Como a indústria da música verá uma banda, ao contrário da música dita “branca”, liderada por um negro, cujas principais influências incluem, além de Sly Stone e George Clinton – está na raiz -, mas também, Stephen Sondheim, Burt Bacharach, Syd Barrett, Brian Wilson e Paul McCartney? É certo, como um problema. Acima de todo o talento e do alto de seus 2 metros de altura, Stew é um provocador.

Mark Stewart, que atende pelo nome Stew (para diferenciar-se do cantor britânico da antiga banda o Steppers), preenche as suas letras com esse tipo de princípio. E, em princípio, seu corpanzil remete aos desavisados que se trate de um rapper estiloso no modo de vestir nada convencional aos rappers. Mas o humor irônico e sua mistura de melodias vocais soulful, a musculatura de todas as misturas possíveis da Folk music aos R&B, chegando em certos momentos a lembrar até – e a mim pelo menos lembrou muito - a 1ª fase do Genesis (acústico/folk) de Peter Gabriel e também, um Cat Stevens - nos provoca, de cara, um sobressalto. Foi o que me aconteceu, por exemplo quando ouvi de primeira, no 1º contato com os TNP, a surpreendente versão de “MacArthur Park"! Tudo somado, demonstra mais uma vez a grande sacada do nome que Stew criou para sua banda. “The Negro Problem”, não poderia ser mais sarcástico.

Surpreendentemente, um talento nato como Stew só entraria profissionalmente para o mundo da música aos trinta anos, formando os The Negro Problem em 1995, quando mudou-se para Silverlake, um subúrbio de Los Angeles, após um período vivido na Europa. A formação original incluía o tecladista Jill Meschke Blair, o baixista Gwynne Kahn, e o baterista Charles Pagano - com o multi instrumentista Probyn Gregory ajudando como membro auxiliar.

Entre seguidas mudanças no elenco da banda, os The Negro Problem gravaram ao todo 3 álbuns, todos de excelente qualidade. Compondo a dissolução lenta do problema Negro, Pagano, um membro mais ativo dentro da hierarquia, deixou o grupo no final de 1999, embora continuasse a realizar com eles participações esporádicas.

Neste pequeno impasse entre uma carreira regular dos TNP, Stew gravou e lançou seu primeiro álbum solo, o aclamado pela crítica Guest Host, em 2000. Após sua liberação, Stew anunciou que o problema do negro não havia se dissolvido. Como prova disso, em 2002 lançou o TNP, seu último álbum até então, Welcome Black, outro passo no sentido pop barroco que parecia incluir mais idéias da banda como um todo. Desde então, isso é tudo para os The Negro Problem. Stew continuou alimentando sua carreira solo com mais 2 álbuns: “The Naked Dutch Painter and Other Songs” no mesmo 2002 e “Something Deeper Than These Changes”

Em 2008, a peça “Passing Strange”, de autoria de Stew, texto e música, concorreria ao Tony como melhor musical. Não ganhou mais deu o que falar.

Em tempo: para variar este álbum vem com alguns bônus. Todos raros um deles consegui identificar no bootleg: Muddy Sweetboot Stranded, música, "On The Cloud Girl's Terrain". Enfim, da faixa 13 até a 17 são bonus de músicas que não constam de nenhum álbum, ao menos dos listados no allmusic. Destaque para (além das originais de Welcome Black, claro) a belíssima balada folk, "My Muddy Trailer Park CD's" (faixa 16).

The Negro Problem (Welcome Black) 2002

Todos os 3 álbuns do The Negro Problem podem ser encontrados (ainda baixáveis, tentem o magaupload) no blog Gravetos & Berlotas. Inclusive o álbum "Post Minstrel Syndrome" de 1997, que contém a - que me perdoe o Richard Harris e até a boa banda prog. Beggar's Opera - senão melhor, a mais elegante versão de "Macarthur Park" que já encontrei.

Em tempo, super em tempo, mais que a tempo: aqui vai a tradução (gugou tranrleitor, mas boa) do depoimento do artista (Stew) sobre sua peça:

"Temos de agradecer ao GWBush por ajudar na realização desta peça. Sério mesmo. Quando descobri que ele nunca tinha ido para a Europa na sua juventude (ou, na idade adulta, até tornar-se presidente!), imediatamente soube o que queria escrever. Uma peça sobre uma criança que queria ir a Europa. Esse fato sobre Bush disse-me muito sobre a falta de interesse dos EUA em nada que seja estranho a eles mesmos, exceto o que eles mesmos podem explorar (obter lucros, sem nunca ter o "trabalho" de aprender). Você pode imaginar o filho de um bilionário uber-privilegiado em qualquer outro país do mundo que não tenha curiosidade suficiente para viajar para um país estrangeiro - aos dois ou três ou 20 anos? Especialmente quando você está imaginando o tipo de dinheiro que esse sujeito possui para a compra até de alguns aviões a seu bel prazer?

Como alguém cuja experiência própria foi praticamente formada e moldada no exterior a minha existência e a consciência sobre tudo, desde a sexualidade, política, cultura, língua à natureza humana... Eu me tornei obcecado por esses factóides e conclui que essa falta de curiosidade estava no coração da guerra - isto é, na origem dos que praticam a guerra. Percebi que estasmos realmente sofrendo os resultados dos Bush-efeitos e seus comparsas incuriousness ... tocando uma política externa
estúpida, inócua demostrando que sob a ótica desses cabrões, não tem a menor relevância tentar compreender um mundo que eles apenas desejam dominar."

15 comentários:

  1. Olá...
    Como sou uma ignorante em termos de musica a não ser as classicas que amo.
    Não posso opinar a respeito do que sou ignorante.
    Mas deixo-te um beijo e te desejo um feriado cheio de rock...
    Bjos achocolatados

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  2. E quem disse que eu entendo, Sandra Botelho? Gosto de ouvir. Falo porque sou mitido, só.

    Obrigado pelo beijo chocolatado e os votos, tudo de bom prôcê tbm.

    E continue por k que, musicalmente, continuarei em lá (su casa) maior.

    Bjos!

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  3. O que esperar de alguem que faz a seguinte declaração:
    “Quando me perguntaram quem provocou as revoltas e as mortes em Los Angeles, minha resposta foi simples e direta: Quem devemos culpar pelas revoltas? Os revoltosos. Quem devemos culpar pelas mortes? Os matadores.”
    Já prestou atenção nos filmes que eles fabricam?
    Nada mais que uma exaltação dos proprios, super herois que salvam o mundo, ou que desviam furacões, cerceam tsunamis. Mas e na realidade?
    Enquanto ainda não estava em crise era um pais onde existiam sub empregos, depois demitiram os sub empregados e eles mesmo assumiram essas vagas.
    Mas nós brasileiros tbem temos culpa pela arrogancia americana, já notou que abre-se um salão de beleza ( e como vi em um bairro aqui)
    coloca-se o nome de Fashion Hair?
    Porque?
    para ser mais chique? Não, porque guardando as devidas proporções, nós achamos chique...
    Somos ridiculos né?
    Ele é só o reflexo de um pais, endeusado, enaltecido...
    Por nós mesmos.
    para que conhecer outros paises? para que viajar?Se nós fazemos dos estados unidos da america O MUNDO?
    Ah! Se eu tivesse um decimo do dinheiro dele? Não me escaparia um pedacinho deste pais, quiçá do mundo.
    Bjos achocolatados e tenha uma semana intensa.

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  4. http://www.youtube.com/watch?v=lXyZlb_0B2Y

    Amei. Bjos

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  5. Também amei o seu depoimento, Sandra. Mas (e este não me parece o seu caso, nem sobre o que discorre aqui) odiar americano mas ao mesmo tempo amar uma boa parte de seu cinema, diretores e atores, muito da música americana, desejar ir a Nova Iorque, invejar a liberdade conseguida pela 1ª emenda... cruzar pela estrada os desertos – “fazer a América” -, e com todas essas contradições ainda odiar americano é pra mim uma tremenda perda de tempo. Se um filho é criado por pais e mães arrogantes é quase certo q cresça arrogante. Então, na vida o bom da vida é saber separar o joio do trigo. Curtir os bons e ser indiferente aos maus... Pregar simplesmente o ódio aos sobrinhos do San indiscriminadamente é o mesmo que odiar o patrão ao mesmo tempo que baixa a cabeça pra ele, sem nunca ter a coragem de mudar de emprego.

    Mas o mais importante aqui e agora é que Adorei o seu longo depoimento e o curtinho que só diz "amei" tbm!

    Amém aos dois! Beijos!

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  6. Ô¬Ô

    É isso aí Seu Sérgio,

    xenofobismo não leva à nada, a não ser a mais erros. O ufanismo e o xenofobismo são verdadeiras vendas para o mundo, e olha que o mundo é grande e com diferenças lindamente construídas pela diversidade cultural.

    Braçõa brow

    Ô¬Ô

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  7. Legal q em sua resposta no Hot-beat, houve um interesse em conhecer o TNP, Mauro.

    Consegui o álbum OST da peça e te digo: além da parte musical - é opera rock à vera - estar no nível ou até melhor do que o Tommy, a parte de texto, nada alienante como um jogo de pimball, bota o Tommy, no chinelo. Tanto q estou muito incinado a disponibilizá-lo em breve.

    Valeu a visita, Seu Mauro!

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  8. Mestre Sérgio,
    Demorei mas cheguei - só hoje pude dar uma sacada no som dos caras e gostei muito!!!!
    As referências são as melhores possíveis - Dylan, Beatles, The Verve, Radiohead, Motown, Curtis Mayfield - pop classudo para ouvintes e pensantes!!!!
    Vale a pena ter na estante!
    Show de bola!!!!!!

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  9. Se ainda não baixou e está com a referencia só das 2as faixas q te enviei, baixe o álbum, seu san. Vale muito a pena. Quem sabe não ficas fã e baixas os outros dois lá no link do texto da postagem. Verás pelo texto do Gravetos..., blog, onde estão hospedados os outros links, q lá em 2007, quem deu ao conhecimento do dono do blog essa banda sensacional foi este apaixonado q vos fala.

    Valeu a visita.

    Mas, seu san, e o Peeeesca!? rs...

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  10. Querido, acho que não me expressei bem, não prego o doio a ninguem meu Deus.
    Sou absurdamente amor.
    Bom deixa prá lá, senão vou só piorar as coisas, quem sabe um dia falemos sobre isso e entenda meu ponto de vista.
    Bjos achocolatados.

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  11. "Também amei o seu depoimento, Sandra. MAS (E ESTE NÃO PARECE O SEU CASO, NEM SOBRE O QUE DISCORRE AQUI) odiar americano mas ao mesmo tempo..."

    Sandra... Sandrinha... rs... Vc se expressou super bem e eu entendi melhor ainda. Leu encima co com as palavras em caixa alta?... Só dei o exemplo do q é comum: as pessoas odiarem os americanos e consumir tudo q vem de lá... Vou encerrar em caixa alta pra ficar claríssimo q vc é só amor: MAS ESTE NÃO É O SEU CASO.

    Agora estamos entendidíssimos. Mas adoraria trocar altos papos sobre qualquer assunto com vc.

    Beijos! E feliz dia das mães!

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  12. Gostei bem desse disco. Muito criativo. "Is This The Single" grudou por aqui. Abs.

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  13. Eu imaginei, Adriano, juro, q previ q gostarias mais deste - q no fim das contas é melhor mesmo. Só q o Etienne é mais pop, tipo quase lançamento, descoberta q credito e ainda acredito minha, daí q...

    Bem, se leu o texto inteiro sabe q tem link na postagem para todos os 3 TNP que existiram, intonces, corra atrás.

    Abração e valeu, o comentário e a visita!

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  14. Aiiiiiiiiiiiiiii....
    Entendi tudo errado, tá vendo? É a correria...
    Desculpa?desculpa, desculpa, desculpa, desculpa
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    Milhões de desculpas tá?
    Estou perdoada?
    Bjos no coração!

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  15. Ih! Esse "desentendimento" vai dar samba....rs

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Uma obra de arte é um ângulo apreciado
através de um temperamento.
(Emile Zola)