segunda-feira, 11 de julho de 2011

Sem fins lucrativos (com a imagem de terceiros)

Texto retirado de e-mail (meu) enviado a amigo:



"Ultimamente, tais situações ocorrem "somente aos domingos" – make um título de filme -, praticamente todos os domingos! Pro may mal e pro bem. Mas observe, senhor X, só tem vosmecê, q conhece a história desde o começo, p'reu poder compartilhar (agora compartilho com os meus 3 leitores aqui). Tou bem eu lá na orla, pondo meu sonzinho e vendendo meus disquinhos, quando me aparece o senhor Y, baterista de uma famosíssima banda carioca... Na verdade, ele, o Y, ia passando batido, uma das amigas dele é que, ao passar pela bike lojinha, reparou no som que rolava - nada menos que "Duke Ellington Meets Coleman Hawkins” (1962). Um clássico... Pois bem, a moça, amiga do Y, batera da banda, parou e perguntou, "quem ta tocando?", apontei a capa e respondi. Aí sim o Y parou diante da lojinha e começou a folhear os CDs. Daí, naturalmente, começaram as vendas. E foi, além do Duke, 2 Crimson Jazz Trio, mais um "Lizard" 1972, do King Crimson, mais o "Three Friends" 1972, do Gentle Giant e mais o álbum "Snafu" (1969) que eu apresentei pra ele, da banda East Of Eden... No fim, disse a clássica frase: "deixa eu fugir daqui senão compro tudo" (clássica porque muitos que pararam naquele point da Delfim, disseram exatamente o mesmo). Classuda também foi a compra, porque, por exemplo, ao comprar o Three Friends, disse-me. "Eu não tenho esse em espécie, só em mp3". Ou seja entendeu na alma o espírito e o conceito "Saudosista é o K7"! E, ó porque frisei que o cara nem reparou no som, nem na bikelojinha: não foi uma crítica. Não foi a amiga quem chamou a atenção dele? Então, pelo fato compreende-se que o baterista da banda famosa, nem leu a marca/conceito "Saudosista é o K7" estampada enorme nas laterais da bikelojinha. Sacou tudo porque é como se fosse da geração internet... Enfim, sobre esses "meninos" que (sem qualquer pretensão) entendem tudo, falarei mais adiante.



Minutos depois passa um senhor, ali pela nossa idade (minha, do senhor X e a dele mesmo), começa a folhear os discos - tem um razoável conhecimento de jazz - e eu apresento-lhe o Benny Bailey "Grand Slam" (1978), de quem M nunca ouvira falar. M me diz, depois de um breve bate-papo sobre jazz: "Tou muito afim de comprar, mas... (meio aflito, revela) “é que eu sou músico"... Bom, o cara estava com crise de consciência porque os CDs eram cópias.



Resumindo a ópera: senhor X, sabe porque abomino deus mercado? Justamente porque ele se tornou, a bem, ou melhor, pro mal de uma verdade cidadã, um Todo Poderoso Deus! Quando alguém acha que está respeitando o artista, já nem entende mais que raciocina pela falácia ecoada muitas milhares de vezes pelos obreiros do Senhor (mercado) que "comprar pirataria é crime". Claro que é crime! Por exemplo, comprar pirata a obra da Ivete (Sangalo) é um crime, não porque a elite do bom gosto acha ruim, mas porque provavelmente tal produto pode ser que ainda seja inteiramente encontrado nas Lojas Americanas do seu e do nosso bairro, ou o filme Tropa de Elite 2, ou sei lá o que quer que esteja à venda nas boas e nas más casas do ramo. Isto sim é crime, porque existe uma indústria por trás (aliás por trás, pela frente e de ladinho!)... No fundo ele (o senhor M de músico com medo) sabe que o meu produto é raro, e ele sabe, também, que, no original, o produto pode custar uma fortuna, mas o que principalmente ele não sabe ou não atina para (e aí está um bom exemplo do universal poder da voz ecoada pelos obreiros do "Senhor"), é que não fosse o apresentador do "produto" (artista Benny Bailey), ele que regula com a nossa idade (minha, a do senhor X e a dele próprio, que já ultrapassamos o cabo da boa esperança), poderia bem/mal morrer sem conhecer o incrível trompetista BB! E aí à lá Rei Roberto Carlos, eu te proponho duas questões bem distintas, sr. X: há maior desrespeito a qualquer artista, que morrer sem se ter conhecimento dele? Então se é assim, Mercado é ou não é um deus que cega (e por tabela ensurdece) as pessoas?"



Aí alguém diz “Ah, senhor Sergio Sônico, você insiste demais neste assunto. Teria o senhor algum drama de consciência?” E eu diria sim e não. Sim porque ilegalmente, também pratico o mercado! Olha o tamanho do conflito - este sim, mais justo! E enquanto pessoas cultas como o senhor M pensarem como pensam, eu, com minha ética rígida, me preocuparei de estar tornando uma compra, venda no meu caso, um tormento pra M. Imagine, ele, no sacro santo lar, ouvindo um sonzaço daqueles sem relaxar, todo conflituoso entre ele e a consciência ética mais rígida que a minha.

Já que é assim, a M o que é de M. Aqui vai uma sugestão toda digratis: Porque não pesquisa no Amazon* e, após ouvir a cópia, em gostando compra o original? Daí, o senhor M poderia até devolver o produto maculado pro vendedor... Pode, numa boa, trazê-lo de volta, como quem pega numa cueca do alheio usada. Se pago o que já pagou somente pela informação, tá zuzo certo! Seria genial! Minha lojinha toda cheia de máculas, poderia virar uma locadora! Paga-se (aluguel) pela informação! Assim, deixam de alugar a minha paciência e consciência ética, tão zelosa delas mesmas. Mas... quer saber, meu camarada leitor? Ainda assim, seria crime. Assim como é crime, se fores blogueiro, disponibilizar a cópia mp3 de seus próprios discos! Meu amigo, me desculpe se eu gritar, se gritei foi pra frisar, mas, nesse particular, ABSOLUTAMENTE TUDO É CRIME! Não surpreenderá se amanhã bem cedo, a polícia do mercado prender a mim ou ao leitor amante de música, se nos pegam cantando canção alheia (cada um no seu quadrado, claro) no chuveiro, sem pagar direitos autorais - isso naquele bom e velho esquema: 0,1% pro autor, a parte do leão, meio a meio, ao leão e ao executivo da gravadora. Justo, muito justo. Justíssimo!

Uma observação importante: ao leitor que pensar que vejo M com reservas... Não! Com reservas eu vejo a ingenuidade na quase 3ª idade, num ser que afinal de contas é músico, autista, digo, artista, portanto com todas as condições de reunir algum discernimento... Afinal, esse direito eu tenho.


Bem “sim e não”, eu disse aqui encima, em respeito a consciência. O “sim”, me afeta a consciência, já respondi, sem pestanejar. O “não”, não é tão simples porque felicidade me dá é quando alguém chega na lojinha como um “menino da internet” que já nasce sabendo tudo, diante de um computador. Que me chega grato, não perguntando diante mão se é “pirata”, porque sabe que tal estigma ofende quem se arrisca**... Que não tenta pechinchar, porque entende o trabalho que dá! Que compra grato porque está aprendendo, conhecendo, se deliciando com as boas novas e antigas novidades - porque sabe que tudo o que é bom, em termos de música, se tornou ou raro ou caríssimo, pela édige do talzinho lá que nêgo deu agora de endeusar... Porque reconheceu de bate-e-pronto, que outro ser humano inventou uma fórmula maluca para compartilhar a boa música e dar mais sentido a vida de ambos! Afinal, há o corpo a corpo, o contato direto, o papo, além do conhecimento. Isso é muito mais que bom. É bótimo, é sensacional! E que sorte (a minha) que esse povo que já compra sabendo sem questionamentos, é muito mais numeroso do que os cautelosos e/ou, pior, os arrivistas, que só querem levar vantagem em tudo e ainda desprezam o dono da iniciativa. São eles, os(as) verdadeiros(as) meninos(as) em espírito, sem limite de idade, evidentemente, que me fazem insistir num trabalho lento de conscientização. Sim, conscientização é a palavra! Porque em jogo está mais que a música, está a ciência de que o mercado não pode passar a existir como O orgão regulador da ética, cidadania e de tudo que literal e, antes, naturalmente nos era caro na vida. Antes dele e muito até contra ele, vem a Arte! E porque não tirar o mercado das nossas preces, suas certezas pueris vomitadas e colocar a Arte, na base e acima do resto?

* se o leitor pesquisou no link - antes de tudo obrigado por estar ligado na questão -, viu que o disco de Benny Bailey nem está tão caro 16 dólares. Mas há uma advertência: Temporarily out of stock sendo que os preços variam, entre 16 dólares e até 50 e tantos dólares. O que faz um mesmo álbum custar entre 16 e 50 dólares, não tenho total entendimento, mas, nesse campo legítimo de Mercado, os que têm pra gastar é que entendam.

** o risco é todo de quem vende! Veja, na balada do deus mais picareta do planeta - mais ou, no mínimo, tanto quanto todos os porta vozes das igrejas universais juntos -, à palavra de Mercado não se faz consessão. Nem à arte, muito menos à cultura, justo porque a cultura é o inferno astral d'O Cara! Lembra do Admirável Mundo Novo do Huxley? É por aí. E se não sabes do livro mais famoso do afamadééérrrimo escritor e ensaísta inglês, please, mestre Google não caiu e parou na Rede porque estava de bobeira... 

12 comentários:

  1. Jamais se ofenda por não saber, é mais justo aqueles que se ofendem nem querer saber quando o saber se tornou algo tão possível.

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  2. Mr. Sérgio,
    A Recobike é o exército Brancaleone de um homem só, é a Caravana Rolidei, é Alfredo encastelado no velho Cinema Paradiso, é a lanterna de Diógenes, é o Cavalo de Tróia.
    É a alegria e a inquietação. É o desconforto que chacoalha e instiga. Ela mais pergunta que responde. Porque?
    Porque o deus de pés de barro é burro e mesquinho?
    Porque Benny Bailey morreu pobre e sozinho num pequeno apartamento de Amsterdã?
    Porque a arte tem sido tão vilipendiada, escorraçada, pisoteada?
    Porque o mercado escarra na boca da inteligência e só dá espaço à indigência?
    É preciso manter acesa a chama, meu caro. É preciso estar atento e forte, sem tempo de temer a morte, angústia de quem vive, nem a solidão, fim de quem ama.
    Sem dramas, sem grana, apenas fazer o que se tem que fazer. É a guerra, Mr. Sérgio. A guerra está perto de nós. Às trincheiras, meu caro. Benny está conosco e sua música não morreu.
    O guardador dos rebanhos musicais há de abrir as posta-restantes e deixar ecoar para o mundo o som que eleva o espírito e acaricia os ouvidos.
    A Recobike é Rocinante, Seu Sérgio...

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  3. Mr. San, nessa altura dos acontecimentos, melhor dizendo, de suas palavras, somente citando a lebre do Coelho pra definir este momento: "Na margem do rio Piedra eu sentei e chorei". Quis dizer que só mesmo metendo uma piada pra disfarçar as minhas lágrimas. Valeu!

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  4. Caro Sérgio,
    Domingo último fui do Mirante ao Arpoador pelo calçadão e pensei que iria encontra-lo com sua bike. Estava meio tulmutuado devido à maratona.
    Domingo é o seu dia certo de ficar lá ?
    Um abraço

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  5. "Comprar pirataria é crime". Claro que é crime, desde que vc possa encontrá-lo nas boas lojas do ramo!!! Agora se para adquirir tal produto faz-se necessário pagar em moeda estrangeira, aí não !!! aí eu discordo e tupiniquincamente falando, viva a orgia da impunidade que impera neste nosso lamaçal País, orgia esta liderada pela nossa líder maior a Presidenta do Brasil, como diz José Simon (comentarista da Bandnews FM - 94,9) viva o PGN (Partido da Genitália Nacional). Para mim, caríssimo amigo Sérgio, o maior crime que existe é o dá ignorância cultural, pois pior do que piratear o que está inacessível e torná-lo acessível a todos, é nos impedir de acessá-lo.
    Um forte abraço.

    OBS: Confirma pra mim o seu point da Bike Musical, pois irei visitá-lo pessoalmente, montado no meu trike.

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  6. Pois é, rapaz! Meu point é na Delfim Moreira (somente aos domingos, quando a pista em direção a Copa está fechada ao trânsito motorisado) altura, pouco antes da Rainha Guilhermina, Já por perto o som te guiará. No aguardo, abraços! E valeu a visita.

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  7. Ai,Sonicman, o disco do Joe Chambers é bom vragarai. Sera dissecado na bancada,sem dó nem piedade. E quanto a discussão politico-filosofica-existencial- teologica - geografica-economica-etc eu to fora. Se vir/ouvir alguma coisa que me interesse na sua "loja desvirtual" eu vou comprar e pronto. O Joe Chambers é f!@#$%¨&*oda de bom !!!!
    Abraço,
    Andre Tandeta

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  8. Fala Tandeta, vc não é o baterista de uma famosíssima banda carioca, mas não deixa de ser, pra quem conhece um pouco de música, um famosíssimo baterista carioca. Então, tomo seu comentário como um uma aprovação com eleogio.

    Qaunto ao Chambers, graças so Bobby Huctherson, em seu disco The Kicker de 1963, conheci o Joe Chambers, é dele a que julgo melhor música desse álbum: The Mirrors. E aí persegui o Chambers em todos os álbuns e participações q encontrei. É só ter Joe Chambers q já julgo como "obra com certificado de garantia de qualidade". E é isso.

    Valeu a visita. ...E a compra, claro!

    Abraços!

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  9. Passando pra deixar um beijo.E saber como vai você?
    Bom final de semana!

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  10. Sandra, aquele problema com o msn voltou, por favor mande-me um emeio com a minha ind.. Parece loucura - e é - mas esqueci de novo.

    Beijos!

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  11. Prezado Mestre, estamos diante de um crime de bagatela, ou seja, sendo preso com sua bicicleta e suas cópias liegais, não será condenado. O mesmo ocorre com as grandes gravadoras, que instalam na China equipamentos de vários milhões de dólares para produzirem cópias ilegais, muitas vezes de seus próprios artistas! Ou seja, nem o pequeno nem o grande são condenados.

    Agora, caso seu comércio evolua, não pense em abrir uma lojinha. A fiscalização, a polícia e a justiça certamente retirarão tudo que puderem de você.

    Como dizia Antônio Vieira, uma espécie de Bispo Macedo intelectual da Igreja Católica: o bom ladrão nunca rouba medianamente.

    Mandei um e-mail para vc.

    Grande abraço, JL.

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  12. Mr. Lester, tá aí um papo que me daria um imenso prazer em passar horas conversando com vc.

    Como, com a sua vinda haverá uma boa possibilidade disso acontecer, serei breve aqui.

    Sobre a idéia de abrir uma lojinha fixa, só tenho minha palavra de que tal hipótese nem passa pela minha cabeça. Se meu caso fosse prosperar a ponto de ganhar dinheiro para uma aventura tola como essa (tola pq a coisa está dando certo justo pq, assim como o artista, my ship goes where the people are) começaria vendendo meus genéricos pela internet. O investimento inclusive seria muito menos do que por um standezinho com som e tudo mais sobre um triciclo. A idéia não é essa, meu amigo.

    Mas há um fato em que nós 2 concordamos porque não há outra saída possível: como um amante de boa música comum (atolado com computadores, sem tempo, conhecimento e mil etcs do tipo), poderia conhecer os artistas que disponibilizo sem que eu esteja num ponto estratégico, acenando com a possibilidade pra ele?

    Amigo Lester, há quiosques confortáveis na orla de Copacabana (experimentei quase todos no caminho entre a Sala Baden e minha casa) onde se pode apreciar aquela vista famosa e beber (não sei se um bom vinho, mas) alguns chopps ouvindo um bom jazz, este sob os auspícios da bike lojinha, v se não pode ser um programinha chique esse...

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Uma obra de arte é um ângulo apreciado
através de um temperamento.
(Emile Zola)